Por Fabiana Fuck | Psicóloga Parental
Me diga qual pai/ mãe não se sente em apuro quando no meio do supermercado a sua criança se põe a gritar, bater, deitar no chão? Todos já nos deparamos com uma cena parecida, sendo nós os pais ou não.
Na condição de pais, surge a vergonha, e na condição de expectador é inevitável olhar para os pais como mal educadores de seus filhos.
Sim, é desta forma que infelizmente a cena descrita ainda é vista. Infelizmente porque, nem os pais nem os demais em sua maioria, sabem o que se passa com aquela criança naquele momento, podem acreditar, não é birra simplesmente, ela não o faz por ser mal acostumada ou criada, mimada ou menos ainda por ter tudo que solicita.
Ela o faz porque ainda não possui o cérebro totalmente desenvolvido, este comportamento difícil apresentado é um movimento biológico, e é necessário que aconteça justamente para formar o restante do cérebro, a parte de cima, a mais evoluída.
Funciona assim: ao início da vida, o cérebro se desenvolve de baixo para cima, ele primeiro desenvolverá a parte instintiva que lutará pela sobrevivência, e essa será a base para a parte de cima, o cérebro pensante, racional, que é a responsável pelo controle emocional e comportamental. Então por mais que queira, seu filho não consegue se acalmar, justamente por não possuir essa estrutura cerebral. Seu corpo e cérebro estão tomados de estresse pois ocorreu uma frustração, então precisa lutar pela vida.
Lembre-se: não há ainda um cérebro racional lhe dizendo que o mundo não acabará caso ele não ganhe tal produto no supermercado.
As birras ou como prefiro dizer, crises emocionais, iniciam por volta de 2 anos de idade e são intensas até por volta de 6 anos, com o passar do tempo vão se ajustando mas, importante sabermos que a parte do cérebro mais evoluída, o néocortex finalizará seu desenvolvimento absoluto por volta dos 25 anos de idade.
Quanto mais compaixão você ter ao seu filho e quanto mais calmo você se manter mais o ajudará neste momento, lembre-se que ele não tem a capacidade de regular suas emoções, mas você tem, então o ajude. Considere que ele esteja passando mal, está em alto desconforto, porque é o que de fato está acontecendo e precisa muito de você, que é a pessoa de referência e confiança dele.
A cena descrita é a mais clichê, no entanto estes comportamentos podem ocorrer de outras maneiras, por outros motivos, em diferentes intensidades, com diferentes pessoas e principalmente, em qualquer lugar.
Ainda que seja desafiador para você pense que, estas crises emocionais são eventos extremamente necessários e importantes ao desenvolvimento sadio de seu filho, ele realmente precisa expressar para evoluir. Ajude-o a passar por este momento, sendo amparo, sendo compreensão, sendo referência. Ofereça afeto. Ele não está tentado lhe manipular, aliás essa capacidade também ainda não está desenvolvida no cérebro dele, e por fim agradeça, pois esses comportamentos advém do bom desenvolvimento que ele vem apresentando.