Conheça o homem que resgata cães de rua e estimula outras pessoas a dar um “Lar Temporário”

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Entrevista e texto: João Paulo Taumaturgo

Carlos Magno de Araújo, nasceu em Paraíba do Sul/RJ e se formou em medicina no Maranhão. Em 1995 veio a Blumenau por conta de familiares que moravam aqui. Seu primeiro emprego foi no pronto socorro do Hospital Santa Isabel. Hoje ele é voluntário e vem realizando um grande trabalho ao resgatar animais de rua.

adote-amiguinho_logoEssa é a primeira entrevista da série “Adote um amiguinho”, que tem como objetivo mostrar pessoas que aceitaram a missão de cuidar não de um, mas vários animais. A ideia é estimular as pessoas que desejam ter um cão ou gato, a procurar entidades que ofereçam esses animais para adotar.

 

 

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OBlumenauense: Quantos animais já passaram pelas suas mãos e ficam com você até serem adotados?

Carlos Magno: Bom, primeiro agradeço a oportunidade de conversar com vocês sobre o assunto. Realmente é difícil quantificar o número de cachorros recolhidos e entregues a famílias dispostas a adotá-los. Mas levando em consideração que eu costumo manter 10 em casa, além dos que ficam no Lar Temporário, acredito que deve ser cerca de 100 cães.

OBlumenauense: O que seria esse Lar Temporário?

Carlos Magno: No Lar Temporário, algumas pessoas me ajudam na causa e abrigam cães até acharmos uma família disposta a adotá-los. A Josi por exemplo, é uma amiga minha que mora na Fortaleza Alta e atualmente abriga 10 cães.

OBlumenauense: Quando surgiu essa vontade de resgatar os animais de rua e prepará-los para adoção?

Carlos Magno: Bom, eu sempre gostei de animais. Quando criança, cheguei a ter cinco cães tirados da rua em casa. Minha mãe perguntava: “Mais um? “Eu logo dizia “Mas mãe, olha que bonitinho” e ela acabava cedendo. Eu sempre tive consciência da importância de cuidar, dar banho, comida, etc. Na época o acesso a informação era muito menor, então não havia essa preocupação com vacinas, castração e tudo o que existe hoje.

 

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Em 2011 eu conheci uma pessoa aqui de Blumenau, a Ilka Cabral, e nós acabamos tendo um relacionamento. Ela gostava muito de animais também e foi a grande incentivadora para começar esse trabalho. Ilka tinha vontade de resgatar, mas não tinha condições, pois é preciso tempo, espaço e tudo mais. Com o incentivo dela e resgatando minha paixão desde a infância pelos cães, comecei a fazer esse trabalho.

OBlumenauense: Você se lembra do primeiro caso?

Carlos Magno: Lembro sim. Nós vimos um cachorrinho pequeno, ainda de olhos fechados, que estava com um casal de andarilhos na rua. Um deles passou perto do meu carro no sinal e perguntou se eu queria aquele filhote. Primeiro eu neguei, mas ele continuou ali. Depois, quando olhei para trás ele apontou para mim novamente e a Ilka falou: “Olha, ele tá olhando para a gente ainda”. Dei a volta com o carro e fui falar com ele, que me disse “Se o senhor não ficasse com ele, a gente acabaria abandonando”.

E eu entendi claramente que não era culpa deles, afinal já era um casal que morava na rua e buscava todo dia o que comer. Como ainda iriam cuidar de um animal? Teriam que “dar um jeito no filhote”. É simples o raciocínio, se lembrarmos que tem pessoas com casa, carro e mesmo assim abandonam os animais. Então é compreensível e “aceitável” que um casal de andarilhos faça o mesmo.

Depois desse caso, começamos a prestar atenção na rua e ajudar outros cães. O nosso olhar muda e começamos a prestar mais atenção nos animais da sua região. Se eles estão realmente perdidos e bem cuidados. Criamos o hábito de prestar mais atenção por onde andamos. Tem quem ache normal ver um animal de rua. Para nós não, aquilo nos deixa preocupados.

 

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OBlumenauense: Como  você administra essa vida com vários cães em casa?

Carlos Magno: Ter cães de rua em casa não é uma coisa tão difícil. Naturalmente não precisamos ter dez ou quinze cachorros. Mas se cada lar blumenauense tivesse um ou dois cães, nós não teríamos tantos animais abandonados. Claro,  desde que sejam bem tratados.

A primeira coisa para isso, é preparar um espaço para recebê-lo, com uma área considerável. A segunda é entender o comportamento do animal, com seu instinto territorialista. Não dá para pensar que você vai juntar os cães e tudo dará certo. Sempre tem aquele cachorro mais tranquilo e outro que marca território. Existe muita informação na internet que pode orientar.

O cão é um animal que naturalmente tem respeito pelo homem e é muito fácil você se tornar o líder dele. Só não devemos deixá-lo nos dominar. O custo para manter um animal de estimação não é tão alto, a não ser que você tenha vários. É importante pensar na vacinação anual, castração e alimentação, de preferência com ração que não precisa ser a melhor do mercado. Existem boas rações a preço acessível.

Um outro custo que pode acontecer é no caso de doenças. No caso dos cães de rua, é uma preocupação menor, pois esse animal já tem uma resistência maior, justamente por causa do ambiente onde ele vivia. Pode ser que no primeiro momento você gaste um pouco mais para resolver problemas com parasitas ou  vermes. Mas depois de curado, ele não tende mais a contrair doenças se for mantido em um ambiente limpo, justamente pela resistência desenvolvida na vida de rua que levou.

A maior recompensa é você perceber a evolução do animal, do estado em que ele estava quando você o pegou, acuado e com medo. Depois de ter sido bem tratado, limpo, medicado, o cão transmite seu carinho de uma forma muito mágica. A atitude dele muda em relação a você, e ele passa a entender quem é o líder dele. Ele brinca com você e chega inclusive a proteger quando necessário. Quando você encontra uma família disposta a recebê-lo e vê o sorriso de uma criança quando ganha o seu primeiro animal de estimação, é incrível. Isso vale muito a pena.

OBlumenauense: Qual a dica que você dá para uma família que quer adotar um cachorro?

Carlos Magno: O ideal seria se todo mundo ao andar pela rua, ao ver um animal completamente perdido, tivesse disposição para recolhê-lo. Diminuiria o tempo gasto dos profissionais voluntários que cuidam desses cães. Se você não sabe como fazer para resgatar um animal de rua, pode adquirir essas informações pela internet ou em redes sociais.

As pessoas podem buscar inclusive voluntários como eu, e perguntar sobre como fazer para resgatar um animal das ruas. Agora claro, a dica principal seria, tenha certeza que a família está disposta a receber esse animal e trata-lo da melhor maneira possível! E caso não queira fazer o resgate, busque pessoas que resgatam e adote um amiguinho.

OBlumenauense: O que você pensa do comércio de animais de raça?

Carlos Magno: O grande problema da produção e comercialização de animais de raça é que nem todos fazem o trabalho corretamente. O que mais preocupa nesse tipo de atividade é se esses animais estão sendo tratados de forma decente. Muitos canis, produtores de animais de raça, exploram demais as matrizes (cadelas que procriam). Ela fica procriando de seis em seis meses, sem espaço para brincar. Uma verdadeira máquina de procriação. Isso não pode ser aceitável. O pior, é que depois de um certo tempo, quando a matriz não pode mais procriar, ele abandona aquele animal ou faz a eutanásia. 

Já os vendedores de animais de estimação, colocam eles em gaiolas pequenas, preocupados em não aumentar o custo até que sejam vendidos. Até que finalmente esse cachorro tenha uma família, sua vida não é digna. Quando o processo de criação dos animais de raça é digno, a objeção é menor. O ideal mesmo é a adoção, sempre!

Para adotar um cão você pode entrar em contato com Carlos Magno através do telefone (47) 9929-9674.