Cerca de 200 deficientes visuais frequentam a Rede Pública Estadual

 

Fotos: Helena Marquardt/ADR Ibirama

Se para as pessoas que enxergam, o fato de não saber ler e escrever acaba sendo uma limitação tanto para o desenvolvimento profissional quanto pessoal, imagine para quem nasceu sem a visão ou a perdeu ao longo da vida. Pensando em proporcionar total autonomia aos cerca de 200 deficientes visuais que frequentam a Rede Pública Estadual, o Governo de Santa Catarina utiliza diversas ferramentas que garantem a alfabetização. O braille, por exemplo, é uma das mais utilizadas e tem sido fundamental para o aprendizado e para a inclusão social desses estudantes.

Os gêmeos Henry e Ryan Alves sabem muito bem dessa importância. Os irmãos, com 10 anos, nasceram prematuros e perderam a visão durante os quase três meses que ficaram na incubadora em um hospital. Ao longo da vida estudaram em uma pequena escola municipal de Ibirama, mas só neste ano, quando passaram a frequentar as aulas na Escola Estadual Eliseu Guilherme, onde os professores utilizam o braille, é que estão sendo alfabetizados.

Apesar do atraso, a escrita com bolinhas encanta os meninos, que já aprenderam a escrever o próprio nome e palavras simples como gato ou bola. Além das aulas normais, eles frequentam também o Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola duas vezes por semana e aos poucos conseguem se aventurar pelo fantástico mundo das letras e ter mais autonomia nos estudos.

Mas para ensinar melhor o sistema de braille, professores e a assistente técnico-pedagógica da escola passaram por uma das capacitações ofertadas pela Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE). Durante alguns dias elas receberam assessoria para oferecer um atendimento mais especializado a estudantes como Henry e Ryan. “Na nossa escola não recebemos alunos cegos há mais de 11 anos e estávamos sem prática, então buscamos essa especialização na FCEE. Sabemos que nessa idade o processo é mais lento, mas eles estão se desenvolvendo bem e nosso objetivo é que eles sejam preparados para ter uma vida independente.” explica a assistente Taise Cassiele Dalpiaz Rossini.

Assim como muitos outros catarinenses que têm filhos com deficiência visual, o pai de Henry e Ryan, Paulo Adriano Prestes Vieira, conta que com o atendimento especializado da Rede Estadual, os meninos têm se desenvolvido muito mais e está contente com a evolução nos estudos. “Eles são muito agitados, mas percebemos que estão melhorando bastante e quando souberem ler e escrever acredito que vão ser tratados normalmente, afinal eles são pessoas normais como todos nós”, comentou.

SC é referência na educação de alunos com deficiência visual

O coordenador do Centro de Apoio Pedagógico e Atendimento às pessoas com deficiência visual da Fundação Catarinense de Educação Especial, Marcelo Lofi, que também perdeu a visão entre os 12 e 14 anos, explica que o Estado tem a maior produção de livros em braille do Sul do país e além desse sistema, também é referência no uso de tecnologia como computadores, tablets e celulares. “Na deficiência visual é importante a estimulação. Quanto mais cedo os alunos tiverem esse acesso, melhor será o desempenho deles e por isso trabalhamos muito nesse sentido.”

Lofi ressalta que o braille é um dos principais recursos de acesso com o qual os deficientes visuais conseguem ter mais autonomia. “Esses alunos só conseguem ter autonomia quando tem pensamento crítico e isso vem a partir da escrita e da leitura e para algumas pessoas o braille é fundamental”, avaliou.

 

 

Ensino de braille nas escolas estaduais garante autonomia e desenvolvimento de crianças com deficiência visual em SC

A integradora educacional da ADR de Ibirama, Roseli Del Sent, explica que para que o mesmo conteúdo seja repassado a todos os estudantes da sala, inclusive os deficientes visuais, os livros são transcritos para o braille, inclusive com atividades em alto relevo. “Nos livros de geografia, por exemplo, os profissionais que trabalham na gráfica da fundação tem um verdadeiro desafio. Em casos de estudo do relevo, o cego fica impossibilitado de vislumbrar uma figura, porém a gráfica transcreve aquele conteúdo através da utilização de materiais como barbante, pedras e tecido realizando um trabalho de artesanato com o intuito de possibilitar a aquisição desse conhecimento.”

 

Fonte: ADR Ibirama