Blumenau e suas Histórias: cultivar a terra e gerar riquezas com as próprias mãos

 

 

 

 

 

Por Ana Maria Ludwig Moraes | Historiadora

Nem todos os imigrantes que vieram para Blumenau possuíam experiências como agricultores em sua terra de origem. Aqui tiveram de aprender a manusear o machado, a enxada e a foice. Aqueles que possuíam alguma experiência na lida do campo, precisaram dominar muitas técnicas novas e o cultivo de espécies desconhecidas como a cana-de-açúcar e a mandioca. Para facilitar o desenvolvimento das propriedades e por decorrência da Colônia, Hermann Blumenau preferia a vinda de casais, pois imprescindíveis eram braços para fazer as pequenas propriedades produzirem, a parceria para enfrentar as horas difíceis e a solidão.

E foi na pequena propriedade que os cultivares alimentaram as famílias e geraram excedentes que possibilitaram a geração de rendas, nas trocas por outros gêneros ou a venda a dinheiro, coisa mais difícil. E foi ali também que a indústria caseira se consolidou e impulsionou o desenvolvimento da Colônia através dos engenhos de cana-de-açúcar e cachaça, das atafonas farinha de mandioca e fubá; da produção artesanal de charutos, vinhos, laticínios, banha e doce de frutas oriundos dos pomares. A mão-de-obra feminina era fundamental, pois como disse Julius Baumgarten1: “(…) meter-se na agricultura sem mulher é o mesmo que trabalhar inutilmente. O que ele arrancar do solo com suor e sacrifícios, desperdiçará facilmente em casa. Uma mulher dedicada é o melhor capital e quem não quiser seguir este conselho, certamente falirá, como aconteceu com muitos jovens”.

A mulher desejável para casar precisava saber cuidar da casa – o que era entendido como limpar, lavar, cozinhar e cultivar a terra. Ainda dominar as técnicas de transformar frutas, legumes, leite e derivados de animais abatidos em produtos que pudessem ser vendidos. Neste ambiente ela ainda tinha filhos e quantos mais gerasse melhor, pois estaria garantindo a continuidade do empreendimento familiar. Mais tarde, na fase de industrialização, a mulher também teve participação ativa e fundamental.

O colono, de posse dos produtos gerados na pequena propriedade, chegava a hora de vir à sede da Colônia para negociar. As jornadas eram longas e exaustivas, em carroças ou à cavalo, atravessando a mata, riachos e pontes – estas, quando havia. Não raro estes deslocamentos exigiam pernoites em casas de particulares ou em hospedarias. Ao chegar ao destino, procurava pelos vendeiros, imigrantes que capitalizados de alguma forma, seja por terem trazido algum dinheiro ao emigrar, ou gerado riquezas aqui mesmo, adquiriam a produção dos colonos e trocavam por mercadorias de seus próprios estabelecimentos ou em raros casos, compravam a dinheiro.

Suas casas de comércios eram pontos de encontro em cujas rodas de conversas entre um trago e outro de aguardente, servidas pelo proprietário, negócios e amizades se faziam. Com o tempo o vendeiro passou a desempenhar o papel de banqueiro, guardando economias, emprestando dinheiro e financiando a produção de muitos agricultores. A ele interessava ter produtos para vender e exportar, expandindo suas fronteiras e capitalizando, investindo na infraestrutura de comunicação e transportes.

Como eram estas casas de comércio? Como se estruturavam e o que vendiam? Isto será assunto para a próxima semana! Até lá!