Áudio relata história de PM que traz alimento para dois moradores de rua em hospital de Blumenau

Hospital Santo Antônio, Rua Itajaí, bairro Vorstadt | Imagem: Google Maps (Street View) Agosto 2017

 

 

Hospital Santo Antônio, Rua Itajaí, bairro Vorstadt | Imagem: Google Maps (Street View) Agosto 2017

 

Um áudio compartilhado pelo setor de Relações Públicas do 10º Batalhão da Polícia Militar de Blumenau, traz o relato emocionante que teria acontecido na madrugada deste sábado (31/08/19). Uma mulher relata a situação enquanto aguardava atendimento na sala de espera do Hospital Santo Antônio.

Segundo ela, um homem que se sentiu incomodado por dois moradores em situação de rua que estariam dormindo nos assentos destinados às pessoas que esperam atendimento, acionou a PM. A mulher estava no local com outra, que tinha quebrado o dedo. No relato, ela diz que quando a guarnição chegou, falou com os policiais, desmentindo a versão de que ambos incomodavam. O homem que acionou a PM, foi orientado a sentar longe dos dois moradores.

Mais tarde, um dos policiais voltou ao local e deixou um lanche aos dois moradores de rua. A atitude surpreendeu a todos que só souberam depois do fato. Antes de comerem o lanche, um dos homens ainda quis dividir o pouco que tinha.

Como o áudio foi passado pelo 1º tenente Nicolas Marques Vasconcelos, acreditamos que esse fato ocorreu e estamos compartilhando com vocês. O áudio está circulando nas redes sociais e segue o relato dado em áudio.

 

 

A minha pastora (da igreja) quebrou o dedo e fomos levá-la ao pronto socorro do Hospital Santo Antônio. Chegando lá, estava muito lotado. Um homem visivelmente perturbado, começou a arrumar confusão com um mendigo e seu amigo, que dormiam nas cadeiras ali dentro, para se proteger do frio. As pessoas que estavam lá, tomaram as dores dos mendigos e pediram para ele calar a boca.

O homem disse que ia chamar a polícia porque estava se sentido intimidado e com medo de ser linchado por nós. Ele realmente se levantou, foi até um telefone público dentro do hospital e chamou a polícia. Quando a viatura chegou, fui até lá, atrás do cara que chamou, para dizer que ele estava mentindo.

Os policiais atenderam o cara, ele começou a contar uma história totalmente diferente do que havia ocorrido lá dentro. Eu me dirigi à um deles, o nome dele é Fausto, que me deu atenção. Eu disse “O mendigo está lá dentro, deitadinho, quietinho, sem comer, tentando se proteger o frio e do perigo da noite. Ele não está fazendo mal para ninguém e foi chamado de negro sujo, de imundo, mas não está fazendo nada, nem sequer se defendeu. Está todo mundo em um estado muito triste, as crianças com dor, todo mundo quieto, e esse homem tumultuando.

O policial então conversou com o homem que chamou a viatura, e pediu para que fosse esperar o atendimento em outro lugar, longe da pessoa que estava denunciando (ou seja, dos dois mendigos). Os policiais permaneceram um tempo lá fora, viram que a situação estava sob controle, ninguém discutiu nem fez nada, quando foram embora.

Por volta das 4h da madrugada a viatura retornou, só que dessa vez o policial Fausto, que nos atendeu no pátio, entrou no pronto-socorro e se dirigiu ao local onde estávamos. Nessa altura eu já estava sentada ao lado dos mendigos conversando sobre Jesus. O policial ao lado do mendigo, o moreninho e falou: seu João, está aqui o seu café da manhã. Entregou para ele um pacote com comida.

O policial saiu dali, foi cumprir a obrigação dele, parou em algum lugar, acredito em um posto de gasolina, porque o pacote era de uma conveniência. Ele comprou duas baitas coxinhas, eu acredito que foram as melhores que encontrou. Um dos mendigos estava dormindo, não tinha mais força para nada. O outro que estava conversando comigo, pegou e comeu. Mas como estávamos no último banco, meu celular já estava sem bateria e não tivemos como fotografar e filmar.

Todas as pessoas que estavam lá, estavam distantes do policial e também não presenciaram. O policial entregou a comida, desejou boa noite, e foi embora. Quando o segundo mendigo acordou, o Seu João disse para ele: temos comida. “Mas quem trouxe?” perguntou o outro. A Polícia, ele respondeu, enquanto você estava dormindo.

O homem não acreditou e começou a chorar. As pessoas que estavam ao redor perguntaram se realmente foi a polícia que trouxe. Eu disse que sim e as pessoas começaram a aplaudir. E o mendigo, que tem dentro de si uma alma, começou a comer e chorar, lamentando a situação em que ele se encontrava. Mas antes de comer, ele passou pelos bancos e perguntou: vocês querem dividir? Onde come um, comem dois. Ninguém aceitou, mas o pouco que ele tinha, tentou dividir com os demais.