Uma entrevista exclusiva com Amyr Klink antes da palestra que lotou o Teatro Carlos Gomes

Fotos e dados: Luciano Bernz | Edição final: Claus Jensen


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O empresário e navegador Amyr Klink, participou nesta terça (13), do Ciclo de Palestras do CDL de Blumenau. Na palestra que lotou o auditório Heinz Geyer do Teatro Carlos Gomes, Amyr apresentou as suas experiências como navegador, fazendo uma analogia de como o planejamento que ele utilizou para atravessar mares é fundamental para as empresas conseguirem gerenciar crises e projetos de sucesso.

 

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Antes do evento, ele nos concedeu uma entrevista, onde disse que já conhecia Blumenau por ter amigos em Joinville. Também lembrou de uma prova à remo que vinha prestigiar aqui, considerada uma das mais longas do mundo, que fazia o trajeto de Itajaí até Blumenau.

Nesta entrevista, revela sua total revolta com muitos aspectos que atrasam o Brasil. Mas não só aqui e sim toda a América Latina. Fez críticas à forma com que as obras dos aeroportos estão sendo conduzidas, ao modelo de educação do Brasil, além de conceitos sobre sustentabilidade. Em vários momentos chega até a ser polêmico. O texto é longo, mas vale muito a pena.

 

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Luciano Bernz entrevistando Amyr Klink, ainda no camarim, antes da palestra.

 

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O Blumenauense: Amyr, se você fosse eleger 5 aspectos práticos no paralelo entre o planejamento de uma viagem e de uma empresa, quais seriam?

Amyr Klink: Eu não gosto de fazer paralelos entre planejar uma viagem e uma empresa. Mas posso eleger 5 pontos práticos. O que eu gosto de focar é o trabalho que antecede, e envolve muito mais do que a preocupação com as ondas e a solidão. Apesar disso fazer parte, mas é o capitulo final da operação, onde é necessária dedicação, desempenho físico e disciplina. O que antecede isso, esse processo de planejar uma viagem, envolve desenvolver as soluções, projetar o barco, construir, desenvolver a inteligência que a gente vai usar. Nós gostamos muito da eficiência, soluções eficientes e economicamente sustentáveis. Não adianta ter soluções mirabolantes e tecnologia de ponta se elas são economicamente exorbitantes.

O aspecto mais delicado hoje no Brasil, é o da qualificação profissional, que não temos. Nós temos competência de fazer obras extraordinárias, mas com um grau de eficiência muito baixo. Basta olhar as obras em aeroportos como no Rio de Janeiro. Nunca vi trabalhar dentro do saguão de um aeroporto virando massa com a enxada. Isso é incompetência e não é atraso, isso é crime. Isto é intencional, tem gente que está mexendo massa no aeroporto que provavelmente vão receber dinheiro do governador ou do secretário de obras. É gente absolutamente corrupta, que está desviando recursos públicos para renovar o seu contrato a cabo de cada etapa. Está acontecendo isso no Brasil.

Temos que mudar o processo de educação, porque está antes do problema da qualificação profissional. E nós temos uma política educacional equivocada, paternalista, que acha sermos todos iguais. A nossa constituição já é mentirosa, não somos todos iguais perante a lei. Negros e brancos não são iguais perante a lei, índios tem um tipo de favorecimento, políticos tem foro privilegiado, portadores de diploma superior, também tem privilégios. Então há muita diferença.

No caso do ensino, eu percebi isso comparando com o que acontece no resto do mundo. Levando em conta os superdotados por exemplo. Nós temos uma legião desconhecida. Entre eles estão caras brilhantes, como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. Mas também o Fernandinho Beira Mar e o Marcola, todos super dotados. Uns são empresários bem sucedidos, enquanto os outros comandam instituições criminosas com uma eficiência extraordinária, porque tem regras, só que na base da morte, do tiro. Então, nós temos super dotados, só que não temos isso na escola. Se falar de um país como Noruega por exemplo, lá os superdotados não recebem educação igual, como os nossos “educadores” pretendem. O super dotado lá é considerado um patrimônio intelectual da nação. Ele é tratado, de forma a ser remunerado de maneira tão diferenciada, para que o estado e a nação não percam esse sujeito para a iniciativa privada. Para que ele se torne um multiplicador de conhecimentos, pela facilidade de aprendizado que ele tem. Então essa é uma situação um pouco diferente da nossa.

Nós não temos ensino técnico eficiente aqui. Eu vivo de uma área técnica. Não adianta eu ter um engenheiro da USP trabalhando no meu barco. Normalmente esse cara não vai entender nada de barco, é arrogante por ter frequentado uma escola privilegiada, porque a universidade pública no Brasil é para a elite. E normalmente é mal formado. Metade dos alunos entre 15 e 19 anos nos 5 países mais ricos do mundo, fazem curso técnico. No Brasil não chega a 6% o número de alunos nesta faixa etária que fazem curso técnico. Então o que adianta essa obsessão por universidade. Eu não quero um universitário, eu quero um cara competente. Eu quero um jovem que ingresse no mercado de trabalho com 17 ou 18 anos, e que vá sustentar por conta própria, por mérito próprio a sua universidade, se ele quiser fazer. São equívocos clássicos. Há uma espécie de cegueira. Como político não pode falar essas coisas, eu posso. Eu emprego esses caras, a vida da minha família depende da competência deles. Por isso eu quero gente competente, não gente com diploma.

O Blumenauense: Dos desafios na organização de uma viagem, qual o mais complexo?

Amyr Klink: Os desafios mais complexos sempre são os burocráticos. Somos acostumados com desafios técnicos. Mas de 5 anos pra cá os burocráticos se tornaram terríveis porque eles mudam, principalmente em países latino americano, como Venezuela e Argentina, por exemplo. Hoje a Argentina se tornou um exemplo da degradação moral de um país. O que para mim é muito triste, porque é um país que amo. Mas ela se tornou literalmente e comprovadamente um país corrupto em todas as instâncias.

O Blumenauense: Quais os projetos para novas viagens?

Amyr Klink: Sempre há projetos para novas viagens. Todo ano tem. Tem modelos e barcos novos que estamos fazendo. Eu gosto de questionar não só o produto, mas os modelos dos produtos. Por exemplo, todo mundo reclama que eu falo mal de automóvel. Eu adoro! Acho uma máquina linda, que se viabiliza economicamente por causa da escala. Só que o modelo está errado. Eu fabrico um barco que transporta 12 vezes o próprio peso em qualquer lugar da terra. Eu não aceito por exemplo que um carro como a Ferrari, transporte 80 quilinhos e custe o que ele custa. Não aceito mesmo. É uma tecnologia muito pobre. Então nós temos que repensar os modelos.

 

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