Santa Catarina usa tecnologia do tempo para prever ciclos do mosquito da dengue

Modelo biometeorológico da Epagri/Ciram estima o número de gerações do Aedes aegypti com base em dados de temperatura horária.

Uma tecnologia desenvolvida pela Epagri/Ciram promete ajudar no combate às arboviroses em Santa Catarina ao prever com precisão como o clima influencia a proliferação do Aedes aegypti. Como todos já sabemos, é o mosquito transmissor que causam doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana.

Com base em um modelo biometeorológico, os pesquisadores estimam a duração e o número de gerações do mosquito ao longo do ano, utilizando dados de temperatura coletados em 37 estações meteorológicas automáticas espalhadas pelo estado. O modelo considera as temperaturas médias horárias — um diferencial em relação a outros métodos — para simular o ciclo completo do inseto, do ovo à fase adulta.

Imagem: Epagri/Ciram

A pesquisa mostrou que, em média, o Aedes aegypti pode completar até 19 gerações por ano em Santa Catarina, com variações entre uma e 2,5 gerações por mês. O tempo necessário para uma geração se formar varia entre 10 e 30 dias, conforme o mês e as condições climáticas. Em Florianópolis, por exemplo, os dados entre 2001 e 2023 indicam ciclos mais curtos no verão (10 a 15 dias) e mais longos no inverno (até 35 dias).

Segundo os pesquisadores, a temperatura é o principal fator climático que regula a dinâmica populacional do mosquito. Embora outros fatores como chuva, umidade e presença de criadouros influenciem o número de indivíduos, o modelo se baseia exclusivamente na variável térmica — suficiente para indicar quando e onde há maior risco de proliferação.

As simulações mostram que o litoral catarinense concentra as maiores estimativas de gerações, devido à combinação de calor e umidade. Já nas regiões mais altas, como São Joaquim e Tangará, o número de gerações tende a ser menor.

O estudo também identificou que temperaturas ideais para a reprodução do mosquito ficam entre 15°C e 30°C, com um pico de desenvolvimento por volta dos 29°C. Em Florianópolis, foram registradas apenas 98 horas com temperaturas acima de 35°C ao longo de 22 anos — um indicativo de que o calor extremo ainda não é um grande limitador, diferente das temperaturas mais baixas, que reduzem o desenvolvimento do inseto.

A metodologia, publicada na Revista Agropecuária Catarinense, integra o projeto de pesquisa Miríades e poderá futuramente ser aplicada a outras espécies de insetos de interesse agrícola e de saúde pública.

Para os especialistas, o uso do modelo pode ajudar na antecipação de surtos e no planejamento de ações preventivas, permitindo que os gestores públicos atuem de forma mais eficaz no controle das arboviroses. Ainda que focado na temperatura, o sistema pode ser complementado por outros dados ambientais em futuras pesquisas.

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