Uma manifestação cultural reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil acabou no centro de uma polêmica em Blumenau. O grupo Maracatu Capivara alega que não participou da programação do Festival Internacional World Creativity Day 2025 após ser impedido de apresentar sua proposta cultural no Parque Ramiro Ruediger. Uma publicação nas redes sociais aponta que a justificativa repassada do motivo da negação da administração do parque era o “barulho” gerado pela percussão — o que gerou questionamentos sobre os critérios utilizados para uso do espaço público.
O grupo afirma que havia sido formalmente convidado em 15 de março e que se inscreveu por meio do formulário oficial do evento, propondo um cortejo seguido de apresentação no parque no dia 21 de abril. No dia 25, recebeu um e-mail com a confirmação da participação, mas sem a definição do local.
Em 2 de abril, foi informado através da organização do evento que a apresentação não poderia ocorrer no Ramiro conforme solicitado pelo grupo na inscrição do festival por conta do “barulho”. Em publicação nas redes sociais, o Maracatu Capivara expressou indignação: “Barulho não pode ser motivo. Maracatu não é barulho. Maracatu é cultura, é manifestação popular das ruas, dos parques, das praças”.
Contudo, em nota, a assessoria de imprensa do do Parque Vila Germânica afirmou “Está incorreto dizer que a apresentação foi aprovada”, que reiterou que o parque possui uma normativa que restringe sons altos — tanto mecânicos quanto de percussão. Após o veto, a organização do festival sugeriu uma realocação para a FURB, que o grupo decidiu não aceitar, porque o Maracatu é uma expressão cultural de rua.
Em resposta a nota enviada pela administração do parque, uma das coordenadoras do Maracatu Capivara afirmou que o grupo não recebeu nenhum comunicado oficial diretamente do parque sobre os motivos do veto, segundo ela toda comunicação foi feita por parte da organização do Festival Internacional World Creativity Day 2025.
A coordenadora do coletivo também contesta a alegação de que a apresentação não teria sido aprovada. “Recebemos um e-mail de aprovação da nossa proposta cultural, porém sem um local especificado”, afirmou. Além de questionar o critério, lembra que o Parque Ramiro Ruediger recebeu outras atividades culturais com som percussivo. Ela também lembrou que a discussão sobre a apresentação ficou registrado pelas comunicações entre as partes envolvidas.
Em nota, a organização do World Creativity Day (WCD) em Blumenau reafirmou seu compromisso com a diversidade, a inclusão e o respeito às manifestações culturais. Segundo os organizadores, o evento — que contou com mais de 75 atividades gratuitas em cinco locais da cidade, incluindo o Parque Ramiro Ruediger — foi planejado em parceria com voluntários e instituições locais, respeitando as orientações técnicas de cada espaço.
Sobre o caso envolvendo o Maracatu Capivara, a equipe informou que, diante do impasse sobre o local da apresentação, tentou realocar o grupo para outro espaço, mas houve recusa. Um novo convite foi feito para uma apresentação no encerramento do evento, na sede da Philips, mas também foi recusado por questões logísticas e profissionais. Por fim, a organização lamentou qualquer desconforto causado e reforçou a importância do diálogo para a construção de uma cidade mais criativa e plural.
Maracatu
O Maracatu é uma manifestação cultural afro-brasileira que surgiu em Pernambuco, misturando música percussiva forte, com dança e elementos rituais. As origens datam do período colonial, representando a coroação dos reis africanos e a resistência cultural negra.
Seus dois estilos principais são o Maracatu Nação (ou Baque Virado), mais ligado a tradições religiosas, e o Maracatu Rural (ou Baque Solto), com forte ligação ao ambiente rural e à cana-de-açúcar. É um importante símbolo da cultura popular nordestina.
