Presidente da ACIB fala sobre sua expectativa na economia neste segundo semestre

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Entrevista e fotos: OBlumenauense | Texto: Claus Jensen 

A crise econômica é um dos assuntos que mais nos preocupa no momento. O aumento do desemprego afeta todos os mercados, independente do setor, afinal reduz o poder de compra. Por isso conversamos com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Blumenau (ACIB) e diretor da Cia Hering, Carlos Tavares D’Amaral.

Na entrevista realizada na última semana tratamos de economia, política e outros assuntos que tem afetado nosso dia a dia. Sua análise como profissional e representante da classe empresarial é importante para dar uma ideia do que nos espera.

OBlumenauense: Qual sua expectativa para o segundo semestre na economia?

Carlos T. D’Amaral: Acredito que o segundo semestre será melhor que o primeiro, até porque terá o final do ano e Natal. Em 2016 nós tivemos algo que não acontecia há muito tempo: o inverno. As baixas temperaturas são fundamentais para a área têxtil. Como essas ondas de frio duraram mais de uma semana e chegaram antes do dia dos namorados, o varejo de ponta vendeu por preço cheio e não na liquidação, como costumava acontecer. Assim o varejo vendeu bem, se capitalizou e foi um bom prenúncio para a venda das coleções seguintes. Então eu acredito que no segundo semestre deve dar uma melhorada. Mas tudo depende do que acontecer com o processo de impeachmet que deixou o Brasil um pouco parado.

OBlumenauense: Em termos gerais, o que mais impactou e influenciou na queda da demanda no seu segmento?

Carlos T. D’Amaral: Na verdade, tudo começou com uma crise de confiança em 2014. Embora os indicadores econômicos ainda estivessem bons naquela época, começou a se falar de que a situação vai ficar ruim, foi quando os investimentos começaram a ficar retraídos. Isso acabou gerando uma crise econômica de fato. Quem queria trocar de carro – e de fato pudesse – acabou adiando a compra para esperar um pouco. O mesmo aconteceu na aquisição de outras coisas como um apartamento. Então a “roda começou a girar para trás” e você começa de fato a entrar em uma crise.

Agora o que mais afeta a população é o desemprego e a expectativa do desemprego, que hoje está na casa dos 12 a 13 milhões. Toda essa massa de trabalhadores faz falta no mercado. A perspectiva e o medo do desemprego faz com que essa pessoa deixe para comprar depois. Nós estamos falando de roupa [por causa da Cia Hering], que não é algo tão essencial, afinal não se pode deixar de comprar comida e pagar aluguel. Mas no resto, se dá um jeito. O consumidor usa a roupa do ano passado ou a compra acaba sendo menor do se pretendia, o que afeta a economia como um todo.

OBlumenauense: É momento de investir em que área de nossas empresas?

Carlos T. D’Amaral: Acho que de uma forma geral, não só na área têxtil, temos que pensar em uma área que traga resultados em inovação. Claro que ser lembrado, aparecer, ter uma marca forte, ou seja, marketing é importante. Mas é momento de buscar algum diferencial de mercado, que pode vir através da inovação.

OBlumenauense: Falando ainda de inovação, grandes empresas tem investido em incubadoras de novos projetos. A Hering tem algo nesse sentido?

Carlos T. D’Amaral: A Cia Hering investe em novos produtos e na própria administração, porque a inovação permeia a empresa como um todo. Às vezes uma nova forma nova de fazer algo é importante. A Hering já se reinventou algumas vezes e agora é o momento dela fazer isso de novo para conseguir ter algum diferencial em relação aos outros no mercado, e se destacar novamente.

OBlumenauense: O presidente interino Michel Temer gerou uma expectativa boa no cenário econômico, principalmente por causa do ministroHenrique Meireles. Na sua avaliação pessoal, comparando com a era Dilma, há perspectivas de melhora com Temer?

Carlos T. D’Amaral: Com certeza há. A Dilma não tinha mais condição de governabilidade, porque já havia perdido apoio dentro do congresso, sem contar do PT, PCdoB e outros aliados. Ela se via economista e interferia pessoalmente em várias decisões que não eram da alçada dela. Já o Temer, escolheu um Ministro da Fazenda que foi bem recebido nos meios de comunicação, empresariado e pelos analistas de mercado. Ele foi bem melhor aceito do que o antecessor da presidente Dilma. Mas tudo vai depender do desfecho final do impeachment, afinal não é impossível afirmar que a presidente afastada volte ao poder.

As chances são pequenas. Mas eu sei que ela está fazendo um esforço sobre-humano para tentar cooptar seis senadores para votar a favor dela. Ouvi falar de que envolvem altos valores por voto e mais um monte de cargos que ela deixaria a disposição para eles. Não sei se isso é verdade mesmo.

OBlumenauense: Qual sua opinião sobre os surgimento de novas lideranças políticas e econômicas na nossa região?

Carlos T. D’Amaral: Novas lideranças são fundamentais para a vida política de nossa cidade, estado e país. Mas é um problema sério, porque não temos e nem estamos construindo novas lideranças que nesse momento pudessem assumir determinadas funções. Elas até existem, mas iniciando e não estão prontas para isso. Em Blumenau por exemplo, possivelmente teremos uma eleição para prefeito polarizada entre Jean Kuhlmann e Napoleão Bernardes. Não há uma liderança nova e emergente surgindo. Tem o Ivan Naatz, mas não é uma liderança nova. O Alexandre José é um novo player no jogo político, mas que tem hoje um microfone. Na hora que ele se candidatar a prefeito, ele perde esse microfone. Como será depois disso é uma incógnita.

OBlumenauense: O senhor acha que Blumenau paga o preço por não ter mais representatividade estadual e nacional, quando falamos de investimentos como por exemplo a duplicação da BR-470?

Carlos T. D’Amaral: Não só Blumenau, como Santa Catarina. Se pensar nosso Estado em termos de Brasil, nossa representatividade é muito fraca. Os estados do nordeste conseguem bem mais coisas do que nós aqui no Sul, até porque são em número maior que nossa região e no Sudeste. Lá eles se aliam e lutam por algo em comum. Nós aqui no sul nos dividimos. Cada um olha para o seu umbigo e acabamos não formando uma força tarefa para reivindicar algo que seja comum.

 

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