Por João Paulo Taumaturgo
Não há exatamente uma data que registre o início da utilização da Prainha como opção de lazer em nossa cidade. Sabe-se que até os idos de 1950, os blumenauenses aproveitavam muito mais o rio Itajaí-Açu para se refrescar nos dias de verão.
Isso se supõe devido ao fato de ser nesta década que se registra o início do desenvolvimento da região no litoral, principalmente Balneário Camboriú. Logo, podemos supor, por conta de nossa colonização ter iniciado justamente no ponto em frente, que a Prainha começou a ser frequentada no início da história de Blumenau.
São diversas as histórias que encontramos sobre as tardes ensolaradas que os blumenauenses curtiam se refrescando nas águas do Itajaí-Açu. Um barco-restaurante já circulou pelo rio e até um passeio de catamarã que seguia até a cidade de Itajaí foi tentado implantar na cidade. Além das águas do rio, a Prainha também já serviu de sede de grandes eventos, como por exemplo o Skol Rock, que lotou o espaço na década de 90, durante a Oktoberfest, com shows icônicos como o dos Mamonas Assassinas.
Mais recentemente, através de iniciativa da Prefeitura de Blumenau, foi realizado o “Blumenau A Bordo”, evento que buscou aproximar a população do rio. Com jet skis e lanchas, além de stand up paddle e outras atrações, as 4 edições contaram com bom público e surpreenderam a cidade. O evento também contava com estrutura de bar e gastronomia, além de ser possível visitar expositores de uma feira voltada justamente ao lazer náutico.
“Nos últimos anos é crescente o número de blumenauenses que possuem algum meio de transporte náutico. Podemos perceber também que a qualidade da água do rio está cada vez melhor” comenta Wagner Hammes, proprietário da Jet-River, marina especializada em jets ski situada na Rua das Missões. Quem passa pela Ponte de Ferro consegue observar a lancha que fica atrás da marina estacionada ao lado da rampa utilizada para o sobe e desce dos “brinquedos” aquáticos.
Também não é incomum observarmos pescadores nas encostas do rio na área central da cidade. Há quem pesque por esporte e até quem consuma os peixes.
Segundo dados da Prefeitura e da BRK Ambiental, empresa responsável pela implantação da rede de tratamento de esgoto no município, Blumenau conta com quase 50% da rede implantada. São mais de 157 mil pessoas que possuem suas residências ligadas ao sistema. Isso certamente gera reflexos na qualidade da água do rio.
A previsão é que as obras de implantação estejam concluídas até 2027. Apesar de sentirmos no bolso o preço de se tratar os detritos, perceber os resultados trazidos ao meio-ambiente da cidade realmente não tem preço.
Mas afinal, o Rio Itajaí-açu é propício para atividades de lazer, na região da Prainha, com segurança?
Estivemos com a equipe do SENAI na quarta-feira (20/11/19) realizando a coleta das amostras para análise da água. Curiosamente no mesmo dia, pudemos observar jovens se banhando do outro lado do rio, no píer que fica em frente à Thapyoka. Ao abordar eles recebi a seguinte resposta “Faz dois anos que a gente vem aqui tomar banho”, eles preferiram não se identificar.
O estudo foi realizado com duas amostras recolhidas em pontos diferentes da Prainha. No laboratório, os analistas verificam a quantidade de determinados agentes que possam ser prejudiciais ao ser humano. O resultado final que determina se é seguro o lazer no rio leva em consideração dois tipos de situação, as atividades de contato primário, que são aquelas onde nós permanecemos mais tempo em contato com a água, onde também é mais fácil que haja a ingestão do líquido, como por exemplo no mergulho ou a natação e as de contato secundário, que são as atividades onde o contato com a água é eventual, como por exemplo a pesca e navegação.
A avaliação realizada pelo SENAI considerou em um primeiro momento que as águas do Rio Itajaí-Açu, infelizmente, são impróprias para as atividades de contato primário. “Pudemos observar na coleta que há grande quantidade de coliformes termotolerantes que podem ser prejudiciais à saúde”. É importante salientar que para uma afirmação categórica de que as águas realmente são impróprias, faz-se necessário um monitoramento mais amplo, isso porque são diversas as variáveis que podem influenciar no resultado de um único teste. As chuvas por exemplo podem influenciar um resultado.
Conclusão: ainda não fizemos as pazes por completo com o rio, porém, aparentemente, caminhamos para isso. Confesso que fui otimista quanto ao resultado, levando em conta que não encontramos mau-cheiro quando fomos realizar a coleta e eu mesmo já tive a oportunidade de mergulhar no nosso Itajaí-Açu.
Quero lembrar aqui que esse resultado não é muito diferente dos encontrados em diversas praias do Brasil, inclusive a praia central de Balneário Camboriú foi considerada imprópria para banho ainda no começo de 2019.
Que essa matéria sirva de motivação para que todos os blumenauenses cuidem mais do nosso Rio Itajaí-Açu. Quem sabe assim, com o envolvimento de cada um de nós, ele possa voltar a ser o grande equipamento de lazer que já foi um dia! Que não demore!