Pesquisa de longa duração mostra biodiversidade de Santa Catarina

Uma das plantas descobertas recebeu o nome em homenagem a um monstro da série da Netflix Stranger Things.

Maioria das pesquisas são feitas no Parque Nacional de São Joaquim.

A descoberta de uma planta cujo nome homenageia Demogorgon, o monstro da série Stranger Things; a descrição de uma espécie de fungo que já figura na lista de ameaçadas de extinção; o lançamento de dois livros voltados para o público geral; a realização de uma semana de ciência onde centenas de estudantes aprenderam sobre conservação da biodiversidade.

Esses são alguns resultados alcançados em menos de dois anos pelo Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração – Biodiversidade de Santa Catarina (PELD-BISC), formado por um grupo de instituições e pesquisadores que fazem estudos sistemáticos sobre ecologia desde 2013. E que continuarão pesquisando pelo menos até 2024.

Os estudos têm sido realizados principalmente em uma das áreas mais importantes da Mata Atlântica no Estado: o Parque Nacional de São Joaquim (PNSJ), localizado na Serra Catarinense. Essa unidade de conservação federal apresenta características ecológicas únicas devido à sua topografia, ao histórico de uso da terra e à diversidade de ecossistemas.

Estamos formando pesquisadores e aumentando nosso conhecimento sobre a biodiversidade”, afirma Selvino Neckel de Oliveira, professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do projeto. “E estamos buscando interagir com as comunidades para mostrar as nossas descobertas. Elas são nossas aliadas para a preservação ambiental.

O projeto catarinense iniciou oficialmente em 2018, após ser aprovado em um edital PELD lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc) é signatária do programa.

O presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, destaca a importância da realização de pesquisas de longa duração em Santa Catarina, especialmente ligadas ao estudo da biodiversidade. “Com isso, podemos avaliar o impacto de mudanças climáticas e identificar novas espécies. Esse é um projeto muito importante não só para o nosso Estado, mas para o Brasil. Temos acompanhado de perto os resultados e os impactos dessa pesquisa”, afirma.

Em 2020, o PELD-BISC foi selecionado em novo edital, garantindo que as pesquisas continuem até 2024. A maioria das instituições e dos pesquisadores, porém, atua em conjunto desde 2013, após serem selecionados para participar do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Descobertas

Desde então os pesquisadores têm realizado diversos estudos. Foram descritas novas espécies de fungos, insetos e plantas. Também foram registrados, por meio de armadilhas fotográficas espalhadas pelos ecossistemas, animais emblemáticos da fauna brasileira, como o puma ou onça-parda (Puma concolor) e o veado-catingueiro (Mazama gouazoupira). O monitoramento contínuo da biodiversidade gera uma grande base de dados, importante, por exemplo, para avaliar os impactos das mudanças climáticas.

Armadilhas fotográficas captam animais emblemáticos da fauna brasileira, como o puma ou onça-parda (Puma concolor)

Armadilhas fotográficas captam animais emblemáticos da fauna brasileira, como o puma ou onça-parda (Puma concolor).

Uma das descobertas recentes no PNSJ foi a espécie de fungo Fomitiporia nubicola, parasita da árvore casca d’anta (Drimys angustifolia). Por apresentar uma distribuição restrita, entrou para a lista de espécies em risco de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em Inglês) na categoria vulnerável. Ela é encontrada apenas em matas nebulares, que são ambientes ameaçados devido às mudanças climáticas e às ações humanas.

Outra descoberta foi de uma planta de três pétalas que vive nos vassourais, extensos aglomerados de arbustos do PNSJ. Ela é uma parasita de raízes. Recebeu o nome de Prosopanche demogorgoni, uma homenagem ao monstro da série da Netflix Stranger Things – suas pétalas se parecem com a boca do Demogorgon. O gênero está presente em grande parte da América Latina, mas foi descrito pela primeira vez na Mata Atlântica.

Planta recebeu o nome de Prosopanche demogorgoni, uma homenagem ao monstro da série da Netflix Stranger Things

Planta recebeu o nome de Prosopanche demogorgoni, uma homenagem ao monstro da série da Netflix Stranger Things.

Divulgação

Os pesquisadores também têm feito um esforço para divulgar suas descobertas. Foram lançados dois livros voltados para o público geral. Um deles, inclusive, para o público infantil: A descoberta nas pequenas coisas. A publicação narra, por exemplo, como um fungo usa as formigas para completar seu ciclo de vida.

Outro e-book lançado foi “Ofidismo em Santa Catarina: identificação, prevenção de acidentes e primeiros socorros”. Fruto do trabalho de diversos pesquisadores, o objetivo é contribuir, por meio de informações científicas, com a redução no número de acidentes com serpentes no Estado e para que a prestação de socorro às vítimas destes acidentes seja adequada, reduzindo as fatalidades e a gravidade das sequelas. O e-book foi coordenado por Neckel de Oliveira.

No ano passado também foi promovida a 1ª Semana da Ciência do Parque Nacional de São Joaquim, em Urubici. Palestras sobre a importância da conservação foram realizadas para 687 estudantes, além de uma exposição sobre fauna, flora e funga da região feita por estudantes de graduação e pós-graduação.