OBlumenauense visita a caverna do homem que vive lá há mais de duas décadas

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Fotos, filmagem e entrevista: Alcione Alvim da Silva | Texto final: Claus Jensen

Há 26 anos atrás, Vilmar Godinho decidiu viver numa caverna formada por quatro rochas, em uma cabana de madeira, no Vale da Utopia. O local é um pequeno paraíso localizado entre a Guarda do Embaú e a Praia da Pinheira, em Palhoça (SC). Sem energia elétrica ou água encanada, a sua alimentação é à base de peixes e plantas que ele cultiva ou coleta.

Mas a paz do ambientalista acabou no dia 29 de fevereiro, quando a Justiça do município determinou que ele desocupasse a caverna no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, sob pena de multa diária de R$ 500.

Na sentença, a juíza substituta Cíntia Werlang afirma que foi construída uma habitação rudimentar de 28 m² sob uma pedra em área de preservação permanente. No local há um espaço que funciona como cozinha, que tem um fogão a lenha e uma pequena horta. A Justiça afirma que ele também obtinha recursos naturais do parque, como lenha e água. O pedido foi feito pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

Conhecido como um dos guardiões do Vale, Vilmar mantém uma ótima relação com a comunidade, a ponto de causar protesto dos moradores da região contra a decisão judicial. Segundo pessoas que conhecem a região, ele cuida muito bem de tudo e nunca teria causado nenhum impacto ambiental.

 

 

No último domingo (26/6/16), Alcione Alvim da Silva e João Paulo Taumaturgo foram até Palhoça para entrevistar Vilmar, mas ele estava em um encontro dos conselhos da Baleia Franca. Os dois colaboradores de OBlumenauense, aproveitaram para registrar imagens desde a subida até chegada à caverna. Por volta de um ano e meio, o Alcione já tinha visitado e conversado com o ambientalista. No vídeo você pode acompanhar todo o belo trajeto percorrido por eles.

Vilmar-Godinho_caverna_04Na manhã desta terça-feira (28/6/16), o Alcione conseguiu contato com Vilmar através de seu aparelho celular para fazer uma entrevista.

OBlumenauense: Em agosto está marcada uma nova audiência para saber se você poderá continuar vivendo na caverna. Como está encaminhado o assunto?

Vilmar Godinho: Na próxima audiência vai ser avaliado um projeto que eu deixei na FATMA, também visto pelo ministério público. Eles iriam me dar um parecer sobre isso. Seria sobre uma atividade no Vale e a FATMA autorizar minha permanência no local. O próprio órgão também tem interesse no projeto, porque ele também é réu nessa ação.

OBlumenauense: Como é esse projeto?

Vilmar Godinho: Eu vivo numa área de preservação e a lei é bem clara ao não permitir isso. Mas o parque é algo muito mal resolvido. Já fazem 40 anos e os proprietários nunca foram indenizados e nem feito um plano de manejo. No Vale mesmo, o Estado não marca presença. Então de forma voluntária, faço um serviço que deveria ser feito pelo próprio Estado, tanto de preservação quanto de vigilância.

OBlumenauense: Qual a sua expectativa em relação à audiência? Você acredita que consegue o aval para continuar lá?

Vilmar Godinho: Eu acredito que não consigo nessa audiência, mas eu acho que já melhorou um pouco a maneira que estão vendo a minha presença lá. Por esses dias, começou o processo de plano de manejo, que define a maneira que as pessoas se relacionam com o parque. Isso também pode ser uma forma deles avaliarem minha presença de maneira positiva. Porque eu apoio a natureza e a preservo.

OBlumenauense: Existe mais alguém que mora lá?

Vilmar Godinho: Sim, além de mim estão sendo processadas mais quatro pessoas, todas em ações separadas, inclusive uma área de camping muito conhecida.

 

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Jornal Espinheira Santa onde Vilmar colabora com o jornalista Dagoberto Bordin

 

OBlumenauense: Mudando o foco para sua pessoa, soubemos que você participa de um jornal e também tem atividade em uma rádio.

Vilmar Godinho: Participo de um conselho da comunidade e do jornal desde que foi fundado, há 21 anos. O veículo esteve um tempo parado mas recomeçou agora.

OBlumenauense: Qual é a sua rotina na caverna, já que quando o visitamos fomos informados que estava em um evento?

Vilmar Godinho: Sim, estava em um encontro dos Conselhos da Baleia Franca, já que no sul de Florianópolis há uma unidade de conservação. A área é um berçário, onde elas tem os filhotes e ficam até amamentar, depois voltam. Mas eu passo a maior parte do tempo lá, desço eventualmente para comprar alimentos ou fazer um trabalho para o jornal, como foi neste evento das baleias, onde fui convidado.

OBlumenauense: Em relação à sua alimentação, você cultiva plantas?

Vilmar Godinho: Mais ou menos. Eu uso bem as clareiras e a terra. Tenho feito umas experiências com as plantas nativas comestíveis mesmo. Funciona muito bem, porque não uso ingredientes fora do que já existem por lá.

 

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