Morre Alexandre Venera, deixando um legado no teatro blumenauense

Ele tinha 66 anos e não resistiu a um infarto agudo. Saiba mais detalhes do velório e sepultamento.

Foto: divulgação

Por Claus Jensen

Na quinta-feira (23/06/23), morreu um dos artistas mais importantes da cena cultural blumenauense, com destaque para meados dos anos 80 e na década seguinte. Alexandre Venera dos Santos, de 66 anos, não resistiu a um infarto agudo.

A partir das 9h desta sexta-feira (23) será prestada uma homenagem na Igreja Martin Luther, na Rua Coronel Feddersen, nº 106, no bairro Itoupava Seca. O sepultamento está marcado para às 10h de sábado (24), no Cemitério da Rua Bahia.

Apaixonado por arte em geral, este gênio deixou um legado único no tempo em que coordenou o Núcleo de Teatro Escola – NuTE ou Núcleo de Teatro Experimental. Diretor, compositor, coordenador, dramaturgo, inspirou dezenas de artistas plásticos, músicos e profissionais da arte em Blumenau.

Foto divulgada pela Prefeitura de Blumenau

Entre os espetáculos marcantes que dirigiu, estão “Apocalypsis Cum Figuris na Visão de Sta. Catarina, os Anjos e Nós”, “Macbeth´s – Uma Interferência na História”, “Variante Woyzek-Mauser”, “Veias Cativas” e “O Mendigo ou o Cão Morto”, com o primeiro nu de uma peça blumenauense encenada no palco do Teatro Carlos Gomes.

Inquieto, ousado e sempre experimentando conceitos novos, Alexandre logo conquistava pelas sua criatividade e imensa cultura. O Nute, em seus 18 anos de atividade, produziu dezenas de espetáculos, entre montagens profissionais e de alunos, além de marcar a cultura catarinense como uma das primeiras escolas “livres” no estado.

A partir de 2000, a criatividade migrou para a esfera da arte digital através de poesias, instalações multimídia interativas e performances em tempo real. Trabalhou com artistas nacionais e internacionais, entre eles Jorge Luiz Antonio (SP), Clemente Padin (Uruguai), Muriel Frega (Argentina) e Reiner Strasser (Alemanha). Usou a internet como meio de aproximação e colaboração em trabalhos multimídia.

O diretor da Cia Carona de Teatro e Carona Escola, Pepe Sedrez, teve um papel de destaque no NuTe. Em suas redes sociais registrou a importância de Alexandre em sua trajetória: “Muito triste com a notícia de falecimento do meu grande mestre, diretor genial, artista incrível”. 

Outro diretor também influenciado por Alexandre, foi o blumenauense Silvio José da Luz. Iniciou como aluno do NuTE, onde seus múltiplos talentos foram revelados: “Além de diretor, Alexandre Venera foi um multiartista que marcou não só o teatro blumenauense, mas catarinense. Era criativo, crítico e polêmico.”

“Lamentos muito pelo falecimento do artista e amigo Alexandre Venera. Foi uma pessoa gentil e criativa que nos deixa um legado significativo e uma marca profunda nas pessoas com quem conviveu”, destaca o secretário municipal de Cultura, Sylvio Zimmermann Neto. “Seu jeito especial, carinhoso e afetuoso certamente tocou o coração de muitos. É sempre triste perder alguém que trouxe beleza e inspiração para o mundo. Nossos sinceros sentimentos à família e a todos que o conheciam”, finalizou Zimmermann.

Minha história com quem considero um gênio

Eu tive a oportunidade de ser dirigido por Alexandre em alguns desses espetáculos. A peça de teatro mais marcante foi “O Túnel” ((1987), que inaugurou o miniauditório “O Caso”, no último andar do Teatro Carlos Gomes. O espaço não passava do próprio corredor, com um tablado no meio onde os artistas se apresentavam para uma plateia sentada em cadeiras comuns. Ao lado do amigo e ator Otto Muller, fizemos inúmeras apresentações baseados no texto do escritor sueco Paër Lagerkvist.

Nunca esquecerei das vezes em que ficamos criando os cartazes de peças, na época em que trabalhava com artes gráficas. Vá em paz meu amigo Alexandre. Obrigado por todos os ensinamentos, pelos bons papos e por revelar o meu lado ator.