Meditação: a arte de encontrar a si mesmo | Parte II

 

Prof. Dermes

Como meditar

A prática sistemática da meditação, dentre vários objetivos, visa a proporcionar mais atentividade e quietude. Dessa forma, pode parecer contraditório propor meditações que se utilizem de mantras ou de visualizações. No entanto, tais estratégias, além de sua eficácia, constituem degraus para níveis mais avançados de meditação que você aprenderá com mestres e instrutores experientes. Enquanto as visualizações mobilizam sua capacidade criativa e o inconsciente, os mantras o auxiliam a sentir o pulsar das palavras – e, portanto, dos pensamentos – entoadas em voz alta, surradas ou em silenciosa vibração.

Faça da Meditação “Tradicional” sua companheira. Em momentos de fadiga, poderá exercitá-la, durante alguns minutos, no banheiro da empresa, sentado no vaso sanitário, ou mesmo em pé. Poderá também meditar no ônibus, atento para manter a coluna sempre ereta e confortável. Nessas ocasiões, você empregará a meditação como verdadeiro extintor, a fim de apagar um tanto do estresse cotidiano. Contudo, isso não deve substituir a prática sistemática da meditação, no ambiente que você escolher.

Para extrair o máximo de benefício de seus momentos de meditação, pratique-a em ambiente arejado, no qual possa permanecer sem que alguém o incomode. Para tanto, retire o telefone do gancho e o relógio do pulso, desligue o celular, guarde os óculos, mantenha, se quiser, um relógio próximo a você, mas não o consulte a todo instante, sustente o direito à privacidade perante aqueles com quem divide a casa e/ou os colaboradores domésticos. Caso se sinta à vontade, poderá, ainda, meditar ao ar livre, num parque ou numa praia.

Estabeleça um ritual para a meditação. Opte pelo silêncio absoluto ou escolha um CD de músicas apropriadas. Acenda uma vela ou um incenso, ou mantenha o ambiente totalmente clean. Muitos preferem meditar após uma seção de Reiki, Ioga, Tai Chi, dança, bicicleta ou mesmo uma caminhada. Há os que rezam ou fazem uma leitura espiritual (livros, tarôs etc.). Existem também os que fazem alongamento, rezam, lêem e fazem Respiração de Fogo (vide meditação n. 22) e sessão de Ioga antes da meditação propriamente dita… Não existe rigidez na conexão com o Universo e com você mesmo. O importante é sentir-se bem e equilibrar corpo, mente e espírito.

Não estranhe se tiver dificuldades para iniciar a meditação ou manter a atenção. A mente é irrequieta (para aprender a acalmá-la, nada como a meditação), um leãozinho faceiro, que, por vezes, parece uma fera indomável a arranhar e ferir. Então, o esforço consiste em não fazer esforço e transformar a fera em domador, pois ambos são apenas dois lados da mesma moeda. Deixe os pensamentos irem e virem como nuvens, sem combatê-los. Com a prática sistemática, você verá como tudo se arranja naturalmente.

No caso de não conseguir manter os olhos fechados, deixe-os abertos e fixe-os num ponto. Para potencializar a meditação com os olhos fechados, volte-os para cima, em direção do centro do meio da testa. Neste livro, as indicações para as técnicas de meditação aparecem descritas na chamada Meditação “Tradicional”. Quando necessário, você encontrará descrições específicas de asanas, mudras e de pranayamas. Em todas as posturas em que você estiver sentado, será importante manter a coluna ereta (não rígida), já que ela funciona como uma antena holística, isto é, do trinômio corpo-mente-espírito, com o Universo.

Inicie o processo de meditação passo a passo. Se dispuser apenas de 1 minuto diário, use-o conscientemente. Aos poucos, procure estender a prática a 10 minutos (em Kundalini Yoga o tempo sugerido geralmente varia de 11 a 30 minutos). Caso possa e queira, dedique-se à meditação de pelo menos 30 minutos diários (se não dispuser de tanto tempo num mesmo período do dia, poderá, por exemplo, usar 15 minutos pela manhã e 15 minutos à noite). Conforme suas necessidades, crie ciclos da mesma meditação, os quais poderão durar, por exemplo, de 3 dias/1 semana a 40 dias ou mais.

Após a meditação seria interessante você pensar sobre ela (no momento em que praticou, você a percebeu, a sentiu). Se quiser, anote as sensações – inclusive as físicas – , as novas experiência etc. Porém, ao procurar entender o processo, não se atribua nota de 0 a 10 nem se culpe por não ter atingido o nível de concentração desejado pelo iniciante ansioso! Apenas observe e deixe a meditação fluir e fruir em sua vida!

Algumas pessoas preferem praticar o relaxamento antes ou depois da meditação. No caso de a atividade física preceder a sessão de meditação, você poderá relaxar da seguinte maneira: durante 10 minutos (ou menos ou mais, conforme desejar), deite-se confortavelmente (em colchonete, manta etc.), com as palmas das mãos voltadas para cima, e respire lenta e profundamente. Caso durma ou cochile, não se importe: aproveite!

A ética da meditação

A ética da meditação consiste em promover o bem em todas as circunstâncias, a começar pelo processo de auto-conhecimento. Não desejar o mal a ninguém, não interferir na vida alheia, respeitar o livre-arbítrio do próximo e o fluxo do Universo, pedir e desejar apenas o melhor para todos, invocar a luz para que o caminho se aclare e seja bom para a coletividade. A meditação o auxiliará a, como filho do Universo, viver com leveza e graça, atento à responsabilidade (não escravo da culpa), consciente e relaxado.

Ademir Barbosa Júnior (Prof. Dermes) é professor de Literatura, Redação e Interpretação de Textos. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras. Desde 1991 leciona do Fundamental à Pós-graduação e compõe bancas de diversos processos seletivos, tendo passado pela Fuvest, pelo ENEM, dentre outros. Autor com mais de 70 livros e 38 revistas especializadas publicados no Brasil e em Portugal e com traduções para diversos idiomas, é apaixonado pelo que faz. Contatos: ademirbarbosajunior@yahoo.com.br