Meditação: a arte de encontrar a si mesmo – Parte I

 

Por Professor Dermes

Meditação e cotidiano.

O caminho espiritual, hoje, retoma a simplicidade e o cotidiano. Cada vez mais o ser humano consciente despe-se de dogmas e preconceitos para enxergar a essência de si mesmo e dos que estão a sua volta. Nesse contexto, absorve das tradições religiosas, espiritualistas e filosóficas o duradouro e o universal, sem desrespeitar, contudo, as crenças e devoções do próximo, pois sabe que cada tradição corresponde a um idioma ou dialeto com o qual a criatura dialoga com o Criador.

Para aquecer o coração, nada como meditar, isto é, aprender a ouvir a voz do Universo e da intuição. Isso pode ser feito de diversas maneiras: no trabalho manual, nas caminhadas ao pôr-do-sol, enquanto se cuida das plantas etc. Contudo, reservar momentos especiais do dia para a meditação o tornará mais atento e relaxado para compreender suas necessidades, aproximar-se de sua essência e tomar decisões. Além disso, pesquisadores da área da saúde apontam inúmeros benefícios físicos para os que meditam de maneira sistemática.

Você é seu próprio mestre

A sabedoria da meditação consiste em aprender a tornar-se mestre de si mesmo. Independentemente da filosofia espiritualista a que se dedique, ou da comunidade religiosa de que faça parte, sempre encontrará defeitos e/ou imperfeições nos mestres. Isso ocorre por duas razões fundamentais:

a) Os mestres vivem em determinado contexto histórico em que muitas vezes os valores e costumes são diferentes dos seus.

b) Os mestres são humanos e, portanto, passíveis de errar.

Ao longo de anos de vivências e pesquisas, encontrei um mestre que manifestava saudades do casamento arranjado na infância (como era/é costume em seu país); outro que sustentou que o estupro causa danos físicos, mas não na alma, o que, para nós, hoje, é inconcebível; outros dois que afirmaram de maneira categórica que no Brasil de hoje ninguém conhece mais Ioga do que cada um deles, individualmente (ao menos um dos dois deve estar equivocado, não acha?); santos das mais diversas religiões que defenderam pontos-de-vista insustentáveis para os conceitos de democracia e de liberdade individual por nós (ainda!) cultivados neste século; mestres santos que comungaram da diversidade biológica do planeta, mas desprezaram e até maltrataram o corpo físico. A beleza da releitura dos mestres, santos e avatares reside no fato de as pessoas reciclarem os ensinamentos sem medo de serem punidas pelo Universo.

Portanto, ao participar de grupos de meditação, aprenda, questione, debata e não entregue seu poder pessoal a ninguém! O mesmo vale para os bens materiais e sua integridade física. Escolha instrutores e mestres dos quais, apesar de toda a imperfeição humana, emane a energia crística, búdica e/ou transformadora etc.

Respeito e tolerância

A meditação é ecumênica e, portanto, multiplica-se em técnicas budistas, iogues, de visualizações, ou ainda de exercícios respiratórios isolados como técnicas meditativas e outros. Pode ser praticada pelos reencarnacionistas ou pelos que crêem na tradição do Inferno e do Paraíso eternos e absolutos; pelos que concebem Cristo como espírito evoluído ou como filho único de Javé; pelos que veem no pão e no vinho a representação de Jesus ou acreditam na transubstanciação; pelos criacionistas ou aqueles que leem o texto bíblico como um texto simbólico; pelos que professam a virgindade de Maria ou por aqueles que a visualizam como um espírito evoluído encarnado numa mulher (matéria) como as outras; pelos que creem em Alá, Zâmbi, na Grande Mãe/no Grande Espírito, na própria essência… A tolerância, pautada pela ética do coração, convida-nos a compreender a fé do próximo e a respeitá-la, desde que não agrida o bem-estar da comunidade, quando, então, precisa ser revista por todos.

Segundo um místico islâmico, existem apenas três verdades: a minha, a sua e a do mundo. Ao meditar, você perceberá a importância de abrir-se para o diálogo com tradições espirituais diferentes da sua. Pouco a pouco, e com naturalidade, você deixará de lado tudo o que atravanca sua evolução espiritual (preconceito, ignorância, dogmas e rituais escravizadores e supersticiosos etc.), sem, todavia, conforme disse Jesus, apontar o cisco no olho do próximo em vez de cuidar da trave que o impede de enxergar além.

 

Ademir Barbosa Júnior (Prof. Dermes) é professor de Literatura, Redação e Interpretação de Textos. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras. Desde 1991 leciona do Fundamental à Pós-graduação e compõe bancas de diversos processos seletivos, tendo passado pela Fuvest, pelo ENEM, dentre outros.

Autor com mais de 70 livros e 38 revistas especializadas publicados no Brasil e em Portugal e com traduções para diversos idiomas, é apaixonado pelo que faz. Contatos: ademirbarbosajunior@yahoo.com.br