Esportista, apreciador de séries e macarrão, conheça o comandante Jefferson Schmidt

 

Texto e entrevista: Claus Jensen

O comandante do 10º Batalhão de Polícia Militar, Tenente Coronel Jefferson Schmidt, conversou com OBlumenauense sobre seu trabalho e também gostos pessoais, que ficaram no final da entrevista, quando revela ser roqueiro, apreciador de massas e churrasco, e assistir séries do Netflix.

Começamos nossa conversa, falando sobre a necessidade de Blumenau e região ter seu próprio helicóptero para operações policiais. “Florianópolis e Joinville, as maiores cidades do Estado já tem, menos Blumenau. As duas cidades também tem dois batalhões, aqui só existe um. Até Lages também tem seu helicóptero, através da criação de uma Cia Aérea. Nós temos o Arcanjo, mas ele não faz policiamento” comenta o comandante. Na sua opinião é essencial que no máximo em 5 anos tenha um helicóptero efetivo na cidade, já que os da PM que vem são para operações específicas. Jefferson lembra que Blumenau é uma metrópole, onde o batalhão atende 10 municípios.

 

Foto: Giovanni Silva

 

“Nós temos um problema na área norte da BR-470, por ser muito extensa para cobrir. Blumenau é mais para lá do que cá. A população é menor que a da região Sul, mas é mais esparsa, o que prejudica o policiamento, principalmente na Vila Itoupava. A aeronave poderia compensar a falta de efetivo”, destaca o tenente coronel.

Na parede da sala do comandante, está emoldurada uma reportagem do Santa quando foi inaugurado o 10º BPM, com o coronel Jurandir. Há 29 anos atrás, havia 420 homens para atender a população, hoje são 200 a menos.

OBlumenauense: O que faz esse número de efetivos ser tão baixo. São menos pessoas interessadas no serviço de segurança pública ou o não envio de policiais por parte do governo estadual?

Jefferson Schmidt: Cada localidade do estado tem uma particularidade. Por exemplo, em Balneário Camboriú existe um problema crônico de falta de efetivo. Um soldado que for deslocado para lá, vai morar onde? Por menos de R$ 1.500 ele não irá conseguir um lugar bom para morar, comprometendo 35% da sua renda. Nesse caso, ele não poderá colocar o filho em um colégio, ter um carro bom e principalmente o lazer, tão importante para desestressar.

Então vai ter que buscar um bairro que pode ser comprometido com sua segurança pessoal. A tendência é sempre buscar uma cidade melhor para se viver. Por mais que tenha comprometimento e seja vocacionado, esse policial vai estar preocupado com o sustento de sua família.

A grande maioria dos policiais que vem para Blumenau fica até se aposentar, depois vai embora. Mas não há número suficiente de policiais novos para substituí-los. Essa é uma das razões da falta de efetivo na cidade. Isso não significa falta de policiamento, porque quando fica escasso o teu recurso humano, temos que começar a usar a criatividade. Essas operações que fizemos ultimamente são chamadas de saturação. Eu escolho um perímetro, rodeio essa área com barreiras policiais nas entradas e saídas, faço varredura e pente fino, ninguém sai ou entra sem ser visto e abordado. Aí que pegamos drogas, veículos furtados e outros que são utilizados em roubos (motocicletas), prendemos pessoas e apreendemos menores por estarem envolvidos com algum ilícito, ou portando armamento como foi o caso do Residencial das Nascentes.

Criou-se nesse residencial e os outros dois grandes (Passo Manso e Itoupavazinha) um ambiente para essas pessoas do mal, pela vantagem de terem muitas do bem e de poucas aquisições. Tem muitos desses apartamentos nesses lugares que estão vazios, ocupados devido a invasões. Infelizmente por isso, acabaram virando focos de insegurança. Um exemplo foi no começo de outubro, quando prendemos no condomínio da Rua Botuverá, um cidadão conhecido como Paulista, que ficou preso 10 anos em São Paulo e morava no local. Estava roubando a mão armada e foi preso em flagrante. Esses bandidos se aproveitam das pessoas boas, que são a maior parte dos moradores, e se escondem lá. Em outra ocorrência, teve um vídeo com uma senhora dizendo que prefere os traficantes, porque eles ajudam, protegem eles, dão dinheiro, mas não querem o Estado e a polícia. Inclusive havia um projeto da prefeitura, que iam psicólogos, sociólogos e assistentes sociais, que não vão mais, porque já está perigoso.

OBlumenauense: No Residencial Parque da Lagoa, da Rua Botuverá, houve no dia 18 de setembro, uma situação onde os moradores reclamaram de abuso policial devido a disparos de arma de fogo e também balas de borracha. Como ficou essa situação?

Jefferson Schmidt: Foi aberto um Inquérito Policial Militar, e necessita primeiro reunir as provas, ouvir todas as partes e depois dar um parecer, que ainda não é o veredicto. Nesse parecer nós iremos identificar se houve ou não alguma infração cometida por algum policial. Se for comprovado que foi o policial, esse parecer será encaminhado para a justiça militar que fará o julgamento com alguma observação nossa. Nós iremos ser rigorosos nessa apuração.

 

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OBlumenauense: Como o Sr. avaliou as operações que foram desenvolvidas até agora?

Jefferson Schmidt: Estou muito satisfeito, porque em todas elas o resultado foi positivo com um detalhe muito importante. Em nenhuma delas houve necessidade de disparos, seja de arma letal ou não letal, como é o caso da bala de borracha ou spark (choque elétrico). Mesmo assim prendemos várias pessoas, apreendemos armas e drogas. Isso significa que os policiais estão usando as técnicas para abordar e prender.

OBlumenauense: O Sr. trabalhou na área litorânea em cidades como Balneário Camboriú, Camboriú, Itapema e Navegantes. Gostaria que pudesse fazer uma comparação da criminalidade entre Blumenau e esses municípios.

Jefferson Schmidt: As cidades do Litoral tem um grande número de acessos, assim como Blumenau. As rodovias BR-470 e Jorge Lacerda trazem pessoas para cá, sem contar os inúmeros atalhos para sair da cidade. Eu notei pelos tipos de crimes que estão acontecendo, que a criminalidade em Blumenau é local. Isso significa que não vem um cidadão de Joinville para roubar um celular aqui. Ou seja, esses furtos a residências, assaltos a pedestres e estabelecimentos comerciais estão sendo feitos por pessoas que moram em Blumenau ou na região. Considero isso muito perigoso, porque coloca cara a cara, o bandido com o cidadão de bem.

Mas existem exceções, como foi o caso do assalto na joalheria no Shopping Neumarkt, onde os bandidos presos eram de Palhoça (SC). Quando eles vem de fora, é para fazer coisa maior.

No caso do roubo de celulares, gostaria de chamar a atenção de que na maioria das vezes esses assaltos acontecem porque as pessoas prestam mais atenção no aparelho do que ao redor delas, facilitando a ação do bandido. Se nesse caso a vítima reagir, há o risco de virar um latrocínio. Por isso sempre enfatizamos para que as pessoas não esboçarem qualquer tipo de reação para preservar sua vida. Já observamos em várias rondas pela cidade, pessoas nos pontos de ônibus mexendo nos celulares e com fones de ouvidos. Está digitando, ouvindo música, olhando as mensagens, comprometendo a atenção da visão, tato e audição. O ladrão se faz pela oportunidade. Os celulares custam de R$ 500 até R$ 3 mil, como é o caso dos iPhones.

O mesmo acontece nas casas. As pessoas chegam cansadas do trabalho, cheias de pressão e querem deixar as janelas e portas abertas, luz apagada para descansar. É isso que vai chamar a atenção do ladrão. Entre uma casa de portão fechado e outra de portão aberto, ele vai entrar em qual? Na que está aberto, porque é mais fácil para entrar e sair. Um imóvel que tem a área externa iluminada também inibe, porque o criminoso não quer ser visto. As pessoas também não estão dando bola para sistemas básicos para videomonitoramento ou alarmes.Estão achando que podem viver como viviam seus pais, avós e bisavós. Seria ótimo se fosse assim, mas a mesma dinâmica de uma cidade vale para as pessoas boas e ruins. Esse ladrões passam o dia inteiro pensando em quem vão furtar ou roubar. Mas o cidadão de bem não passa o dia pensando em como se defender.

A sociedade coloca na polícia todas as esperanças [para resolver o problema da segurança], assim como coloca no professor o papel de educador, que deveria estar ensinando. Nem todos os pais educam seus filhos, esperam que a escola faça isso. Nosso papel não é educar os bandidos [corrigir], mas sim reprimir quando eles atuam para tentar prendê-los. Feito isso, ele é encaminhado para a polícia civil que irá investigar, protocolar todas as provas consistentes contra o bandido, para que ele seja julgado e encaminhado para uma penitenciária. E é lá que ele deveria ser educado para ser reinserido na sociedade, coisa que hoje também não está sendo feita. Tanto que se ouve falar muito que as penitenciárias são universidades para bandidos.

 

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Foto: Alexandre Pereira

 

OBlumenauense: O que precisaria ser mudado na lei para evitar esses frequentes casos de bandidos que são presos e logo depois conseguem a liberdade?

Jefferson Schmidt: Nada, ela está perfeita. O problema é a dúbia interpretação das leis que muitos querem incutir naquela lei. Ela diz claramente, que se você roubar tem que ser preso.

OBlumenauense: Na sua opinião, como poderíamos mudar isso?

Jefferson Schmidt: Para mim é muito simples Quem é que garante as leis? É a própria população. Porque é ela que vota nos deputados federais, para que façam as leis que depois o judiciário vai garantir que a vontade da população seja cumprida. Se ela determinar que uma vez preso ele não pode ser liberado, isso terá que ser garantido. Mas para isso acontecer, a sociedade precisa se mobilizar para que cobre isso do judiciário, ministério público e dos políticos; para evitar essas brechas que permitem ao bandido não ser preso.

OBlumenauense: De que forma as duas polícias poderiam trabalhar mais juntas?

Jefferson Schmidt: Uma das coisas que observei aqui, é que se  a pessoa sofre um crime, ela não registra o boletim de ocorrência porque acredita que não adianta nada. Roubou chinelo, celular, ah .. compro outro. Não, tem que registrar. Segundo, nós precisamos que a população acredite em nossos projetos sociais como a rede de vizinhos. Hoje mal conhecemos as pessoas que moram ao lado.

Esse projeto já traz a possibilidade de que todos se conheçam, tenham o mesmo desejo de segurança e o mesmo compromisso de um ajudar ao outro. Podem criar uma rede WhatsApp com um policial que é o administrador naquela rua, que vai ajudar a diminuir a criminalidade nessa vizinhança. As casas podem ter uma placa identificando “Rede de Vizinhos”, que é um trabalho da Polícia Militar junto com os Consegs com a Polícia Civil. Blumenau tem cerca de 2 mil ruas e não mais de 100 com o antigo Vizinho Solidário. A população tem que nos procurar, mostrar interesse, que nós estaremos aptos para ajudá-los.

OBlumenauense: Já ouvi a reclamação “Eu chamei a polícia e ninguém veio”. O que poderíamos dizer à elas?

Jefferson Schmidt: De acordo com o último Censo, nós vivemos em uma cidade com 343 mil pessoas. Se todas pedirem o atendimento da Polícia Militar, não teremos esse mesmo de número de policiais. Quanto mais atender uma ocorrência, onde vão dois PMs para cada uma. Vamos supor que seria a metade: 170 mil. Nós teremos que ter 340 mil soldados.

OBlumenauense: Qual é a média de ocorrências diárias onde há necessidade da interferência de um policial?

Jefferson Schmidt: Com necessidade de intervenção, são em torno de 40, muitas delas de perturbação. Blumenau é uma cidade muito grande, eu atendo uma ocorrência no Badenfurt e depois tenho que deslocar a guarnição até o Garcia, porque essa está atendendo no Progresso.

OBlumenauense: Quantas viaturas tem a Polícia Militar?

Jefferson Schmidt: São em torno de 40 viaturas normais, além das motocicletas, sem contar os especiais como o ônibus do crack e a Sprinter de trânsito. Nossa frota tem mais de 5 anos de uso. O veículo mais novo é uma Fiat Fiorino, com 2 anos, mas não é boa para o policiamento, inclusive é descaracterizada. Ela é mais usada para a parte logística, como levar cones [trânsito], cavaletes e esse tipo de coisas. Mas isso nunca prejudicou o atendimento de alguma ocorrência.

OBlumenauense: Já se sentiu ameaçado por fazer parte da Polícia Militar?

Jefferson Schmidt: Não, nem pessoalmente ou pelas redes sociais. Talvez pela forma que eu leve a vida e o trato as pessoas. Sou um policial e vou tratar o que a lei determina. Não me sinto um super homem, e por estar na PM, ser acima do bem e mal.

OBlumenauense: Muitas pessoas comentam que os bandidos perderam o respeito pelo policial?

Jefferson Schmidt: Não é desrespeito ao policial. É desrespeito ao que hoje a sociedade se transformou, com toda essa frouxidão e sentimento de impunidade, pela falta de cobrança do sistema de segurança. Isso dá a sensação aos menores de idade, estarem protegidos por uma legislação que pode ter sido boa para uma outra época, mas não é mais hoje.

 

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Foto: Giovanni Silva

 

Conheça quem é e o que gosta o Comandante Tenente Coronel Jefferson Schmidt

Jefferson Schmidt nasceu em Porto Alegre (RS) no ano de 1969. Aos 8 anos, veio com a família para morar em São José, na grande Florianópolis. O sobrenome revela a descendência alemã, que vem do avô nascido em Berlim. A avó, por questão de meses não nasceu na Suécia. Meu pai casou com uma descendente cafuza, fruto da união entre negro e índio. Entre as comidas preferidas estão macarrão e churrasco, além de misturar alimento doces com salgados.

Entrada na Polícia Militar

Foram três tentativas, até finalmente entrar na academia de Polícia Militar, o que aconteceu em 1991, na época em que trabalhava como vigilante noturno no Colégio Aderbal Ramos da Silva. Quatro anos depois, assumiu o comando de um pelotão em Chapecó, em 2007 o de Itapema, onde ficou 4 meses, para depois fazer um curso. Quando voltou, outra pessoa já estava no posto. No ano passado, assumiu o sub-comando do 25º batalhão em Navegantes, depois veio para a região e finalmente à Blumenau.

Hobbies e gostos pessoais

Seu hobby é ser árbitro de futebol, o que faz há 21 anos, mas recentemente passou por uma cirurgia no joelho. Quando se recuperar, volta a apitar, mas não mais pela CBF, por causa da idade já que o máximo é de 45 anos. Para a federação catarinense, deve apitar a segunda ou terceira divisão e no amador pretende atuar bastante.

Disse que nunca se sentiu vulnerável ou ameaçado por estar mais exposto e menos seguro. “Quando tinha jogo entre ladrões e traficantes conhecidos em Itajaí, eles me chamam para ser árbitro. Os times são formados por jogadores que já tem passagem pela polícia ou foram presos, e vão para os campeonatos. Por não confiarem uns nos outros, pedem para que eu apite”, comenta. Jefferson disse que nunca se sentiu ameaçado porque sempre procurou tratar todos, seja no jogo ou na PM, da mesma forma e com respeito. “Não é por ser comandante ou árbitro (no jogo),que se coloca acima dos outros. “Broncas, xingamentos, é normal, mas para manter o controle do jogo. Mas não para mostrar que aqui quem manda sou eu. Nunca precisei disso” completa o comandante.

Música e filmes

Jefferson gosta de assistir os seriados originais da Netflix, como Sons of Anarchy, que é de motociclistas; Narcos com o Wagner Moura, que conta a história do Pablo Escobar que ele não conhecia bem, apesar de ter vivido aquela época. Na música, o gênero preferido é o rock, tanto nacional quanto estrangeiro. Em especial, ele gosta de ouvir Legião Urbana, U2, The Smiths, Siouxsie &The Banshees e The Screaming Blue Messias; essas duas últimas não tão conhecidas.