Ernst Mosch, o homem que imortalizou a música folclórica da Boêmia

Na coluna Hallo Heimat, Clay Schulze resgata o legado do talentoso músico que, junto com a banda Original Egerländer Musikanten, alcançou o auge de sua popularidade nas décadas de 1960 e 1970.

Ernst Mosch, Maestro da Original Egerländer Musikanten | Foto: Wikimedia Commons.

Os 800.000 de alemães expulsos da Boêmia, carregaram consigo não apenas suas poucas posses, mas também uma saudade profunda de sua terra natal. Esse sentimento de Heimat, a conexão quase sagrada com o lugar onde suas raízes foram fincadas, tornou-se uma ferida aberta, compartilhada entre os imigrantes espalhados pela Europa e também aqui no Brasil. As tradições, as memórias das paisagens e as canções típicas dessa região serviram como um refúgio emocional, um elo invisível que os conectava ao lar perdido. Foi nesse contexto de saudade e exílio que Ernst Mosch emergiu como a voz que conseguiu traduzir em música o anseio coletivo dos egerlandeses.

Hoje, Ernst Mosch é um nome que reverbera nas notas musicais por toda Alemanha e em corações saudosos espalhados pelo mundo. Reconhecido por liderar a Original Egerländer Musikanten, Mosch foi mais do que um músico talentoso; ele foi um embaixador cultural que trouxe à tona sentimentos profundos de Heimatland, especialmente para aqueles ligados ao Egerland. Seu gigante legado transcende gerações, mantendo vivas as melodias e tradições da música folclórica alemã.

WIR SIND KINDER VON DER EGER

Em 7 de novembro de 1925, em Zwodau (hoje Svatava), uma pequena vila de cerca de 4.000 habitantes no noroeste do Egerland, nasceu um menino. Ele foi o primeiro filho do casal Mosch, que lhe deu o nome de Ernst. Seu pai, Andreas, era mineiro e sofreu um acidente aos 31 anos, desde então, ficou inválido. Sua mãe, Albine, trabalhava em uma fábrica textil.

Em 1932, a família Mosch se mudou para Falkenau. Após o acidente na mina, seu pai recebeu uma indenização e começou um pequeno comércio de leite e pão. A entrega das garrafas de leite e pão tornou-se uma tarefa para o pequeno Ernst.

A região do Eger, conhecida por sua rica tradição musical, teve um impacto significativo em sua formação. Crescendo em um ambiente onde a música folclórica era parte integrante da vida cotidiana, ele rapidamente se apaixonou pelos sons das bandas locais que ecoavam pelas colinas de sua terra natal.

Desde cedo, pequeno Ernst mostrou interesse pela música, aprendendo a tocar gaita de boca com apenas seis anos de idade. Em 1933, agora com 8, tocava flauta na orquestra da escola e logo depois juntou-se à orquestra de metais juvenil Dotzauer Bel. Seu professor percebeu seu interesse pela música e sugeriu que ele se tornasse músico. Seu pai, embora inicialmente hesitante, aceitou a ideia, já que músicos não eram raros no Egerland.

Naquela época, Falkenau tinha várias bandas de sopro, e ele nunca perdia os concertos dominicais no parque Tiergarten. Seu fascínio era tanto que, para se aproximar dos músicos, oferecia-se para trazer cerveja a eles, apenas para poder sentar ao lado do palco. “Eu admirava os músicos no palco, mas me perguntava como conseguiria me sentar com eles. Foi simples: fui até um tocador de flugelhorn e perguntei se ele queria que eu trouxesse uma cerveja. Ele respondeu que sim, e assim eu consegui me sentar lá e fiquei feliz”, contou Ernst em sua biografia.

Determinando-se a seguir carreira musical, foi aceito na Escola Municipal de Música em Ölsnitz, no Vogtland, em 1940. Lá, estudou violino, flugelhorn e trombone, que se tornaria seu instrumento principal. As dificuldades financeiras não impediram seu progresso – ao contrário, tornaram-se combustível para sua dedicação. Desde jovem, a música era para Mosch mais do que um dom: era sua identidade e sua ponte para o futuro.

 

Egerland tinha 800.000 residentes alemães em 857 comunidades | Foto: Wikimedia Commons.

UMA JUVENTUDE ENTRE A GUERRA E A MÚSICA

A Segunda Guerra Mundial interrompeu abruptamente a juventude de Ernst Mosch. Ainda que a música continuasse sendo seu refúgio, a realidade do conflito se impôs: em 1943, ao atingir a maioridade, foi convocado para a Wehrmacht, servindo nos Panzergrenadier em Allenstein. Seu talento musical, porém, logo lhe abriu outro caminho. Após impressionar o Oberstabsmusikmeister da Orquestra da Wehrmacht, tornou-se trombonista no Corpo Musical em Deutsch-Eylau.

Em 1944, enquanto estava com o exército em Breslau, sua unidade foi atacada pelas forças russas, e Mosch foi ferido no antebraço. A lesão deixou-lhe um polegar caído, que mais tarde se tornaria uma ‘marca registrada’ em suas icônicas fotos à frente da orquestra. Levado para Dresden para tratamento, acabou se separando de sua unidade em Chemnitz. Com sorte e coragem, conseguiu retornar a Falkenau, onde escapou do cativeiro.

Foi nesse período de incerteza que conheceu Lydia, uma jovem de Herne, no Ruhrgebiet, que havia sido evacuada para Falkenau devido aos bombardeios. Os dois se casaram em 1945, unindo-se em meio ao caos da guerra. Mas a tranquilidade durou pouco. Com o fim do conflito, veio a expulsão dos alemães do Egerland. Mosch fugiu com um grupo de amigos para a Baviera, levando consigo apenas dois objetos: seu estojo de trombone e um pincel de barbear – itens que, com o tempo, se tornariam parte das lendas sobre sua vida.

Na Alemanha Ocidental, ele teve de recomeçar do zero. Em um país devastado, a música se tornou não apenas um meio de sustento, mas também sua ponte para a reconstrução. Tocando em pequenas bandas e viajando por diferentes cidades, Mosch aperfeiçoou sua técnica e amadureceu como músico. Era o início de uma trajetória que, em breve, transformaria para sempre a música folclórica alemã.

OS ANOS COM ERWIN LEHN E O FLORECER MUSICAL

Em 1946, Ernst Mosch tornou-se trombonista da popular “Hillerband”, liderada por Peter Hiller. O pequeno conjunto de seis músicos se apresentava em clubes de oficiais americanos, passando meses em cada local. A possibilidade de morar com suas famílias nos quartéis americanos era uma vantagem considerável, dado o cenário devastador do pós-guerra.

No entanto, em 1947, Mosch e dois colegas decidiram trilhar seu próprio caminho, formando a banda de jazz “Remo”. O projeto, apesar da ambição, enfrentou dificuldades financeiras e se desfez no ano seguinte. Sem perspectivas imediatas, Mosch mudou-se com sua família para Herne, na Westfália, cidade natal de sua esposa.

Ainda em 1948, recebeu uma oferta para integrar a Orquestra de Dança Charly Zech de Hamburgo. “Fiquei muito orgulhoso de tocar em uma orquestra tão boa”, recordaria mais tarde. Mas as condições eram difíceis: hospedado em um quarto sem janelas, cobertas com tábuas, enfrentava o frio extremo do inverno. “A neve entrava pelas fendas, e a geada se acumulava sobre o cobertor”, relembrou.

Apesar da experiência em Hamburgo, Mosch deixou a cidade em 1950 para se juntar à renomada “Alo-band”, em Munique, liderada por Alois Schnurrer, também oriundo do Egerland. Foi nesse período que começou a cantar, além de tocar trombone. Viajando por toda a Alemanha, a banda se apresentava nos clubes americanos de cidades como Garmisch, Heidelberg e Wiesbaden.

O grande ponto de virada veio em setembro de 1951, quando Mosch conseguiu um contrato fixo como primeiro trombonista da Südfunk Tanzorchester, sob a regência de Erwin Lehn. Foi ali que seu talento começou a ganhar reconhecimento. O próprio Maestro James Last, anos depois, comentou: “Quem se destacasse como primeiro trombonista na orquestra de Erwin Lehn certamente tinha talento. O sucesso grandioso de Mosch é a melhor prova disso”.

Além de trombonista, Mosch revelou-se um cantor versátil. Lehn logo percebeu sua habilidade em interpretar qualquer voz – primeira, segunda ou terceira – e o incluiu no trio vocal da orquestra, chamado “Unisonos”, ao lado do guitarrista Günther Leimstoll e do violinista e trompetista Eberhard Schmidt-Schultz.

Durante esses anos, Mosch amadureceu sua visão musical. Seu sonho não era apenas tocar, mas liderar sua própria orquestra, ele queria criar uma experiência que capturasse a alma de sua terra natal. O momento decisivo aconteceu em 1955, de maneira inesperada. Durante o baile de imprensa da República Federal, onde estavam presentes figuras ilustres, incluindo o Chanceler Konrad Adenauer, a orquestra de Lehn foi solicitada a tocar algo dançante. Lehn pediu a Mosch que improvisasse com blasmusik (música de sopro). Com a alma enraizada na música boêmia, ele assumiu a liderança e executou polcas de sua terra natal. O sucesso foi imediato – e ali nascia a semente do que se tornaria a Original Egerländer Musikanten.

 

Ernst Mosch com a Südfunk Tanzorchester | Foto: Wikimedia Commons

O INÍCIO DA ORIGINAL EGERLÄNDER MUSIKANTEN

O estrondoso sucesso no baile deixou claro para Ernst Mosch: ele queria seguir esse caminho e fundar uma orquestra de sopro no estilo “Egerländer”. Determinado, reuniu 11 colegas, a maioria deles oriunda da orquestra de Erwin Lehn, formando um grupo dedicado a resgatar a tradição musical de sua terra natal.

No início de abril de 1955, os 12 músicos entraram em estúdio para gravar suas primeiras faixas. Pouco mais de um ano depois, em 21 de abril de 1956, cinco dessas gravações, incluindo a “Fuchsgraben Polka” e a valsa “Rauschende Birken”, foram transmitidas no concerto da tarde da Südfunk Stuttgart. A resposta do público foi imediata e surpreendente: em apenas uma semana, mais de 32.000 cartas chegaram à emissora. Os ouvintes queriam saber quem eram aqueles músicos, onde poderiam comprar seus discos e qual era o nome do grupo.

Em entrevistas posteriores, o Maestro recordaria esse momento decisivo: “Bem, a maioria de nós vinha da região de Egerland, então decidimos nos chamar simplesmente de Egerländer Musikanten”.

Com a enorme repercussão, em 1º de dezembro de 1956, Mosch assinou com a gravadora Telefunken Decca para o lançamento do primeiro disco da banda – um sucesso imediato. O grupo rapidamente conquistou o público com sua autenticidade e um repertório repleto de polcas, valsas e marchas tradicionais. Mosch e seus músicos não apenas resgataram as canções do Egerland, mas as transformaram em um fenômeno cultural, tanto na Alemanha quanto no exterior.

O sucesso foi impulsionado tanto pelas gravações quanto pelas apresentações ao vivo, sempre marcadas pela energia contagiante e pela qualidade musical impecável. A liderança carismática de Mosch consolidou a banda como um ícone do gênero, recebendo aclamação do público e da crítica. O que começou como um grupo de amigos apaixonados pela música tornou-se um dos conjuntos de sopro mais célebres da história.

OS ANOS DE GLÓRIA E RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

O sucesso dos Original Egerländer Musikanten alcançou um novo patamar em 12 de fevereiro de 1960. Durante uma cerimônia festiva a bordo do navio de cruzeiro Bonte Koe, em Hamburgo, Ernst Mosch recebeu seu primeiro Disco de Ouro. Com mais de 250.000 cópias vendidas das gravações de Rauschende Birken e Fuchsgraben Polka, esse foi um marco inicial na trajetória brilhante do maestro, que continuaria a conquistar feitos impressionantes nos anos seguintes.

Na época, Mosch ainda conciliava sua atuação como trombonista solo na orquestra de Erwin Lehn com os compromissos cada vez mais frequentes dos Egerländer Musikanten. No entanto, a intensa demanda pelas apresentações de sua própria banda tornou impossível manter essa dupla jornada. Assim, em 15 de março de 1966, Mosch e Franz Bummerl decidiram deixar a orquestra de Lehn para se dedicarem integralmente aos Egerländer.

A decisão veio no momento certo. Para celebrar os 10 anos da banda, Ernst organizou uma série de apresentações internacionais, passando pela França e pela Suíça, todas recebidas com grande entusiasmo. O auge das comemorações, porém, foi uma grandiosa turnê pelos Estados Unidos, a convite da estação de rádio de Milwaukee. Durante a viagem, os músicos realizaram o lendário concerto na icônica Carnegie Hall, em Nova York. Foram nove apresentações lotadas e mais de 20.000 quilômetros percorridos de avião – um feito impressionante para uma banda de sopro. Para Mosch, esse momento foi o ponto culminante de sua carreira.

Mas o sucesso não se limitou aos Estados Unidos. Nos anos seguintes, a banda continuou a arrastar multidões por toda a Europa. Em uma longa turnê entre setembro e dezembro de 1967, os Egerländer Musikanten realizaram 81 concertos em cidades da Alemanha, Áustria e Países Baixos, sempre com casas lotadas e público entusiasmado.

Durante as décadas de 1960 e 1970, a Original Egerländer Musikanten atingiu o auge de sua popularidade. Suas turnês internacionais e constantes aparições na televisão levaram a música do Egerland a um público cada vez maior. Mais do que entretenimento, Mosch e sua banda se tornaram um elo cultural para aqueles que, por diferentes razões, haviam se distanciado de sua terra natal.

O reconhecimento da indústria fonográfica veio de maneira extraordinária. Em 23 de maio de 1967, o Maestro recebeu um prêmio inédito: um Disco de Ouro com seis diamantes, concedido pela Telefunken em homenagem aos seis milhões de discos vendidos. A cerimônia foi realizada a bordo de um navio no Lago de Constança, na região do ponto triplo entre Alemanha, Áustria e Suíça, e contou com a presença de convidados ilustres, jornalistas e equipes de TV. Até então, nenhuma banda de sopro havia alcançado tamanho prestígio na indústria musical.

O reconhecimento continuou crescendo. No dia 28 de abril de 1973, durante um concerto no Circus Krone, em Munique, diante de quatro mil espectadores, Mosch e sua orquestra foram agraciados com o primeiro Disco de Platina. No final do primeiro ato, o diretor da Telefunken, Kurt Richter, fez um discurso destacando a importância de Mosch para a música tradicional e lhe entregou o prêmio pelo impressionante número de mais de 10 milhões de discos vendidos. Foi um momento de grande emoção para o maestro e para todos os músicos da banda.

Em 1976, os Original Egerländer Musikanten celebraram seu 20º aniversário com uma turnê monumental, que incluiu 40 apresentações na primavera e mais 50 no outono. O entusiasmo do público mostrava que a música de Mosch havia se tornado mais do que um sucesso comercial: era um símbolo vivo da cultura do Egerland, preservado e celebrado por gerações.

Com sua dedicação incansável e paixão pela música, Ernst Mosch conquistou um lugar único na história. Sua capacidade de transformar melodias folclóricas em experiências cativantes fez dele não apenas um grande músico, mas também um guardião das tradições de seu povo. Seu legado não era apenas de discos vendidos e concertos esgotados, mas de uma conexão emocional profunda entre sua música e aqueles que a ouviam – um tributo eterno à alma do Egerland.

 

Ernst Mosch e os músicos da Egerländer na capa do primeiro disco de 1956 | Foto: Wikimedia Commons.

UM MOMENTO DE PAUSA PARA OS EGERLÄNDER

Em 1974, após 18 anos de turnês intensas, o Maestro decidiu reduzir sua carga de trabalho, percebendo que o ritmo exaustivo afetava tanto sua saúde quanto sua família. No ano seguinte, limitou suas apresentações a eventos selecionados, e, em 1977, optou por uma pausa definitiva das turnês, focando apenas em gravações. Seus músicos encontraram oportunidades em outras orquestras, enquanto Mosch buscava recuperar suas energias.

Ele justificou a pausa pelo desgaste físico e mental acumulado ao longo dos anos, relatando que, muitas vezes, sequer conseguia levantar os braços de tão exausto. Além disso, desejava dedicar mais tempo à esposa Lydia e às três filhas, compensando os anos de ausência. Outro fator decisivo foi sua crença de que a escassez aumentaria o valor do grupo perante o público.

Afastado dos palcos, Mosch manteve sua relevância no cenário musical, e sua ausência gerou ainda mais expectativa. Em 1981, ele retornou triunfante, revigorado e pronto para liderar os Original Egerländer Musikanten em uma nova fase de sucesso.

AS HORAS DE PAZ E SOSSEGO EM CASA

Apesar do sucesso estrondoso de sua carreira, Ernst sempre manteve sua humildade, encontrando estabilidade e apoio em sua família. Ele passava cerca de 250 dias por ano em turnês, mas sua esposa Lydia e filhos sempre foram sua fonte de força. Mosch reconhece que sem o apoio constante de sua família, sua trajetória musical não teria sido possível, e enfatiza o papel crucial deles em tempos difíceis.

Além de ser um músico renomado, Mosch também era um pai e avô dedicado, mantendo uma relação próxima com sua neta Julia, que também se apaixonou pela música. Ele a levava para algumas apresentações e até produziram músicas juntos, demonstrando a importância que a coesão familiar teve em sua vida. Mosch sempre ressaltou que sua família foi um pilar essencial para seu sucesso.

Fora da música, Mosch tinha uma grande paixão pela criação de pombos-correio, um hobby que praticou por mais de vinte anos. Ele ganhou quase tantos prêmios e honrarias com seus pombos quanto como músico. Mas devido à exaustiva carga de trabalho e viagens, foi forçado a abandonar a criação dos animais, já que não podia mais dedicar o tempo necessário a eles.

Seus luxos eram uma bela casa no Allgäu, longas caminhadas com seu cachorro, um Mercedes antigo — esse era o mundo de Ernst Mosch.

O GRANDE JUBILEU DE 25 ANOS DOS EGERLÄNDER

O ano de 1981 foi marcante para Ernst Mosch e seus Original Egerländer Musikanten, pois marcou o 25º aniversário da orquestra. Após quatro anos de pausa, os instrumentos, partituras e equipamentos foram novamente preparados para as comemorações das “Bodas de Prata”. Foram agendados concertos, produzidos discos comemorativos e a ZDF dedicou um programa especial ao maestro, intitulado Herz, Schmerz und dies und das…, transmitido em 9 de setembro de 1981.

A grande turnê de jubileu teve início em 25 de setembro de 1981, percorrendo toda a Alemanha com 50 concertos esgotados. Após o período de descanso, o retorno aos palcos foi aguardado com grande entusiasmo pelos fãs. Em dezembro de 1980, Mosch também marcou seu retorno à TV, participando do programa de Peter Alexander, Wir gratulieren Show. “Essa foi a transmissão de TV que mais me fez feliz. Estar no palco com Peter Alexander e cantar um dueto com ele foi maravilhoso!” destaca o Maestro em sua biografia.

Simultaneamente, Mosch lançou o álbum Seus Maiores Sucessos, que rapidamente alcançou o topo das paradas de sucesso na Alemanha. Em apenas 14 dias, o disco vendeu mais de 250.000 cópias, superando até mesmo grandes nomes internacionais como John Lennon, Queen e Abba. Durante as celebrações do aniversário, Mosch foi agraciado com a Bundesverdienstkreuz (Cruz de Mérito da Ordem do Mérito), concedida pelo presidente da Alemanha, Walter Scheel, em reconhecimento aos seus serviços à música popular. Além disso, recebeu pela segunda vez a Medalha Hermann-Löns em ouro, uma das mais altas honrarias da música popular.

 

Além da música, as capas de álbum traziam elementos culturais da Boemia | Foto: Wikimedia Commons

TRÊS DÉCADAS DE SUCESSO E A CONSOLIDAÇÃO DO LEGADO

A cada novo jubileu, Ernst Mosch e seus Egerländer Musikanten reafirmavam seu papel como os grandes embaixadores da música folclórica de tradição boêmia. Em 1986, ao celebrar 30 anos de trajetória, a orquestra passou por uma renovação significativa com a chegada da talentosa Helga Reichel, cuja voz trouxe nova profundidade e emoção às interpretações. O sucesso da turnê comemorativa, que percorreu Alemanha e Holanda, consolidou ainda mais o prestígio do grupo, mostrando que a sonoridade criada por Mosch continuava a emocionar e atrair multidões.

Seis anos depois, a celebração dos 35 anos de carreira levou os Egerländer Musikanten a novas fronteiras. Pela primeira vez, eles se apresentaram nas recém-unificadas regiões do leste da Alemanha, em cidades como Suhl, Schwerin e Gera. A recepção calorosa do público reforçou o alcance e a atemporalidade da música de Mosch, que, para essa ocasião especial, contou com a participação do cantor Fred Bertelmann. O evento foi coroado com a transmissão televisiva especial “Mein Größtes Fest Der Volksmusik”, pela ZDF, levando a grandiosidade do jubileu a lares de toda a Europa.

Já em 1995, ao atingir a marca de 40 anos de existência, os Egerländer Musikanten ultrapassaram continentes, sendo convidados para uma apresentação especial nos Estados Unidos. O compromisso com a tradição e a incessante dedicação de Mosch à sua arte, no entanto, cobraram um preço: após a longa viagem, o maestro precisou adiar a turnê de aniversário por problemas de saúde. Mas, quando finalmente os concertos puderam acontecer, entre março e abril de 1996, o resultado foi apoteótico. Com 30 apresentações em Alemanha, Áustria e Tirol do Sul, o Maestro e sua orquestra reafirmaram seu reinado absoluto na música folclórica, deixando claro que sua obra não era apenas uma recordação do passado, mas um patrimônio vivo, que seguia encantando gerações.

Ernst Mosch sabia que sua saúde não estava boa. Pressão arterial e níveis elevados de açúcar no sangue tornaram sua vida difícil nos últimos anos. No entanto, ele decidiu que ainda faria mais uma turnê em 1998. “A orquestra de metais de maior sucesso do mundo se despede dos amigos dos Original Egerländer Musikanten”. De 6 de março a 27 de abril de 1998, Ernst Mosch e sua orquestra viajaram por toda a Alemanha para se despedir.

O último concerto dessa turnê foi realizado na casa onde ele já havia comemorado os maiores momentos de sua carreira – no circo Krone em Munique.

O GUARDIÃO DAS MELODIAS DO EGERLAND

Mais do que um maestro e instrumentista brilhante, Ernst Mosch foi um guardião da tradição musical do Egerland. Em 1979, movido pelo desejo de preservar e difundir essa rica herança cultural, fundou a Editora Ernst Mosch. Esse projeto não era apenas um acervo de suas próprias gravações, mas um verdadeiro santuário da música de sopro boêmia.

Entre partituras meticulosamente arquivadas, registros de jazz, operetas e preciosas fitas de época, a editora tornou-se um tesouro para aqueles que buscavam reviver e perpetuar os sons que marcaram gerações. Mosch compreendia que a música não era apenas entretenimento, mas um elo entre passado e presente, entre as memórias de uma terra perdida e a identidade dos que tiveram de deixá-la para trás.

Com 39 anos de carreira nos palcos, Ernst Mosch construiu um legado inigualável. Foram mais de 1000 shows em 42 países, vendeu mais de 40 milhões de discos, 29 discos de ouro, além de três discos de platina e uma honraria ainda mais rara: um disco de platina com diamantes. Essas conquistas não representam apenas números ou troféus – são testemunhos do impacto profundo de sua obra no coração do público.

O Maestro Mosch faleceu em 15 de maio de 1999, em sua casa em Germaringen devido aos efeitos do diabetes. Para se despedir de seu líder e maestro, o Original Egerländer Musikanten tocou a valsa “Bohemian Wind” em seu funeral: “… bem longe, o vento da Boêmia agora sussurra silenciosamente, e continuará soprando muito depois de não estarmos mais aqui.”

 

A banda reverencia o Maestro Ernst Mosch, em capa de álbum | Foto: Wikimedia Commons

BIS BALD, AUF WIEDERSEHEN

O Maestro se foi, mas sua música continua ecoando, carregada de nostalgia e pertencimento. Ele deu voz àqueles que sentiam saudades de sua Heimat, transformando a sonoridade do Egerland em um refúgio emocional. Cada melodia que ele compôs e interpretou ainda ressoa como um lembrete de que as raízes culturais nunca se perdem, mas seguem vivas no coração daqueles que as preservam.

Ernst Mosch não apenas revitalizou a música do Egerland – ele a levou além das fronteiras. Seu som foi calorosamente recebido não só na Alemanha, mas em todos países com imigrantes alemães, ajudando a firmar a Blasmusik como um pilar da cultura europeia. Ao longo dos anos, Mosch se tornou mais do que um maestro. Ele foi um símbolo de identidade para os deslocados, um contador de histórias que, através da música, manteve viva a alma do Egerland.

Com sua “Original Egerländer Musikanten”, Ernst Mosch criou uma sonoridade que transcendia o simples entretenimento. Suas melodias, profundamente enraizadas na Blasmusik (música de sopro) da Boêmia, capturaram a alma do povo de Eger. O som das trompas, o ritmo das polcas e a doçura das valsas transformaram-se em um idioma musical de saudade e pertencimento. Cada acorde parecia trazer de volta os campos, os vilarejos e as montanhas da terra natal.

Através de sua música, Mosch não apenas deu voz aos sentimentos de um povo, mas também eternizou a essência da Heimat boêmia, tornando-a um lar que se carrega no coração, mesmo quando o solo onde se nasceu já não pode mais ser pisado.

Clay Schulze (@clay.schulze) é Presidente Do Centro Cultural 25 de julho de Blumenau e integrante do Männerchor Liederkranz, Coro Masculino Liederkranz do Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau

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