Entrevista com o diretor da Blumob sobre o retorno do transporte coletivo em Blumenau

 

 

 

 

Por Claus Jensen

Nesta segunda-feira (15/06/20), os ônibus voltaram a circular em Blumenau com cerca de 14% dos passageiros, em relação a um dia útil normal. Nos dias anteriores ao decreto, aproximadamente 103 mil usuários utilizavam as linhas, um número que reduziu para 14 mil.

Foram quase três meses que a Blumob, concessionária do transporte público, teve que parar a operação. Como em todas as empresas, as contas continuaram a vir, os funcionários foram pagos, no entanto a receita não entrou.

Entrevistei na terça-feira (16) diretor da Blumob, Maurício Garroti, que falou sobre os primeiros dias do retorno, além de suas expectativas frente aos desafios e lições que a pandemia trouxe e pode trazer. Ficou a cargo dele montar a estrutura da Piracicabana na cidade em 2016, que depois mudou de nome, e tomou o lugar do consórcio Siga.

 

 

Como estão sendo esses primeiros dias do retorno do transporte coletivo?

Maurício Garotti: As ações para a retomada foram muito bem planejadas para que pudéssemos voltar com o máximo de segurança para usuários e funcionários. Na nossa visão, estes dois primeiros dias demonstram que foram bem executadas. Obviamente será um trabalho de constante reavaliação e melhoria. Foram quase 3 meses sem operação, uma situação sem precedentes.

A cada dia teremos novidades e estaremos prontos para evoluir conforme a demanda avançar. Observamos que no Brasil, a demanda em locais onde o transporte não sofreu nenhuma interrupção, ficou na casa de 30 a 40%. Acredito que atingiremos esse mesmo percentual aqui depois de algum tempo.

É um grande trabalho demonstrar aos usuários que o sistema é confiável, que as medidas foram adotadas e podem ser melhoradas. Não notamos desrespeitos às medidas nestas poucas horas ainda de operação. Não há dúvidas de que todos terão um papel importante para que este retorno seja seguro e permanente.

 

Acha que poderiam ter retomado o transporte antes? Se sim ou não, qual sua posição em relação ao assunto?

Maurício Garotti: É muito difícil julgar sobre o retorno em um momento anterior, ou até mesmo se a operação deveria ter sido paralisada. Com o foco da saúde, acredito que somente o tempo trará respostas sobre o que foi ou não acertado. De qualquer forma, os desafios estão aí e agora temos que encará-los.

O que temos visto mundialmente, é que não houve paralisação neste patamar. Foram raras as cidades em que o transporte foi interrompido, e mesmo assim, apenas por poucos dias. Cidades que já conseguiram vencer de alguma forma esta batalha contra o vírus, já começam a ter dados e fatos que vão contra este estigma que ficou para o transporte coletivo. Barreiras de distanciamento em alguns sistemas sequer foram colocados e, onde foram, tem sido relaxados. O conjunto de ações foi talvez importante também neste sentido. Mas, obviamente, não somos especialistas em saúde pública e daremos nosso melhor nas ações que têm sido recomendadas.

 

Quais as principais lições que você tira de uma situação de emergência como essa, sob o aspecto empresarial?

Maurício Garotti: Sobre lições e desafios, é importante salientar que a retomada nestes patamares não significa uma solução, pelo contrário. O custo fixo da estrutura é muito alto e tem sido difícil equilibrar todas as contas. Postergamos prazos de pagamento, renegociamos com fornecedores e adotamos medidas urgentes na folha de pagamento, mas muito do que fizemos terá que ser honrado em breve. O consumo e a tomada de caixa foi enorme.

Agora, voltando a operar, estes custos serão somados aos variáveis, como diesel, manutenção, pneus e, principalmente, aumento de custo com pessoal. Com uma demanda baixa, o impacto será ainda maior.

O entendimento da gravidade por parte dos funcionários e a grande vontade de retomar os serviços são pontos positivos e fundamentais. Os próximos meses serão tão ou mais desafiadores do que os meses em que ficamos parados.

 

Como você classifica a relação da Blumob com o poder público e o sindicato?

Maurício Garotti: Sabemos que cada um tem suas responsabilidades, limites, pensamentos e papéis. Sempre será assim. Acho que a construção de discussões de forma transparente, respeitosa e aberta ao diálogo, baseada em fatos e dados, ajuda muito.

O transporte coletivo, para ter sucesso aqui ou em qualquer outro lugar, sempre exigirá que todas as partes atuem com o mesmo foco e objetivo, que é a melhoria da mobilidade com qualidade, tarifa acessível e perenidade.