Entrevista com o deputado estadual Jean Kuhlmann

Jean-Kuhlmann
Foto: Claus Jensen

Nesta semana, nossa equipe fez uma entrevista com o Deputado Estadual Jean Kuhlmann (PSD), para conhecer o seu trabalho e projetos para o 3º mandato que inicia em 2015. Apesar de extensa, vale muito a pena ler o que ele pensa.

Falamos sobre o que ele conquistou como político, a sua intenção para as eleições municipais de 2016 e o papel de um deputado. Ele “reclamou” de que as pessoas deveriam cobrar mais de seus representantes.

OBlumenauense: Quais as 5 principais conquistas que você se orgulha ter conseguido como deputado estadual para Blumenau?

Primeiro eu quero deixar claro o que é o trabalho de um deputado estadual. Ele não pode se limitar ao um único tipo de trabalho, seja fiscalizando ou seja legislando. Ele tem primeiro a representação da comunidade, tentando ajudar as pessoas quando tem um problema na área social, ou dúvidas no encaminhamento de um processo burocrático junto ao órgão estadual. É para isso que mantenho um escritório de atendimento à comunidade. As pessoas vem  pedir desde orientação de como resolver um problema com o IPTU até para conseguir uma cirurgia ou direito junto ao Incra que não conseguiu resolver.

O outro trabalho do deputado é fiscalizar. Por exemplo, quando o governo vai fazer uma obra, como a reforma da Escola Carlos Techentim. Temos que ir lá fiscalizar, ver se os recursos estão certos, se a obra está adequada e conversar com as pessoas. Ele também propõe ações para o governo do estado, brigando para que uma obra aconteça, como é o caso do prolongamento da Via Expressa. Nós estamos cobrando para que seja finalizado o projeto e seja feita a licença ambiental junto a FATMA.

Propor ações ao governo do estado, no retorno ao pagamento de impostos das pessoas, é a terceira via de trabalho. A quarta é a via legislativa, onde você faz projetos de lei e analisa as leis encaminhadas do executivo ao parlamento. Então um deputado foca basicamente nesses quatro tipos de ações.

OBlumenauense: Qual é a mais importante?

Nesse caso eu lhe perguntaria: O que é mais importante para você? O Dique da Fortaleza, ou o Centro de Diagnósticos por Imagens, a casamata do Hospital Santo Antônio, ou os vinte leitos de UTI do Hospital Santa Isabel? Depende. Todos eles são importantes.

Para a cidade, o prolongamento da Via Expressa é muito importante, mas para uma pessoa é diferente. Eu consegui aprovar projetos de leis, as vezes um simples de utilidade pública para uma entidade, ou um que cria o planejamento familiar no estado, do qual me orgulho ter aprovado na assembléia.

Outros projetos na época que eu era do executivo, em que fiz a reformulação do Prodec, do Pró Emprego. Comecei a trabalhar a lei estadual de inovação tecnológica enquanto secretário, depois a aprovei na assembléia legislativa. Mas também temos algumas ações concretas, como a questão da conclusão do Dique da Fortaleza. É uma ação muito importante, que não é projeto de lei e nem uma pessoa que veio ao escritório me procurar. Mas é uma ação importante para toda a comunidade da Fortaleza.

Como também é importante a questão do trabalho que fizemos junto ao governador para criar a Secretaria de Estado da Defesa Civil e se priorizar na questão da prevenção das cheias. Hoje temos a Barragem de Taió e de Ituporanga sendo elevadas, que é algo muito importante para Blumenau.

A importância da ação de um deputado, não se dá, ao meu entendimento, por uma questão pontual ou outra. Mas por um conjunto de ações. Talvez uma das minhas grandes conquistas ao longo desses oito anos como deputado estadual, foi saber unir estas quatro ações. Então respondendo a sua pergunta, sobre o que mais eu me orgulho nesses oito anos, é justamente ter conseguido de alguma forma trabalhar todos esses aspectos, dando importância para cada um no seu devido momento.

OBlumenauense: Quais as principais metas para serem trabalhadas nesse novo mandato de deputado?

Tem algumas coisas que eu quero trabalhar no próximo mandato que são as ações em termos de obras para cidade. Blumenau tem um problema estrutural muito grande. Eu quero brigar para que o prolongamento da Via Expressa aconteça. Esse é um ponto.

Fazer com que o complexo penitenciário realmente seja executado e que possamos demolir aquele presídio arcaico que temos hoje. Outra questão importante é a construção, para a comunidade da região norte, da nova escola de ensino médio na Itoupazinha. Outra é fazer com que as obras de alteamento das barragens e as novas pequenas barragens previstas no Alto vale sejam logo construídas, para proteger um pouco mais a nossa cidade das enchentes. A enchente nunca vai acabar, mas temos que,  de alguma forma,  tentar amenizar o impacto de uma grande chuva.

OBlumenauense: Existe algumas ações em termos regionais que poderiam se destacar?

Além das que já mencionei, uma ação que quero  concentrar esforços é o contorno de Gaspar. Mas vai ser uma obra complicada para sair do papel, até por causa da questão de recursos. O prolongamento da Via Expressa vai consumir algo em torno de duzentos milhões de reais para ser executado e vai demandar grande necessidade de recursos para o estado.

Timbó está recebendo hoje a nova ponte que liga a Br-470 ao outro lado do rio. Também tem a nova ponte de Indaial orçada em R$ 20 milhões, em que o  governo do estado está liberando recursos para ser executada. Essa obra é muito importante para aquela região.

OBlumenauense: Muitas pessoas reclamam da falta de representatividade dos nossos políticos buscando benefícios para Blumenau. O que você pensa sobre isso?

Essa cobrança é natural e legítima. Porque se o meu salário é pago pelas pessoas, elas tem o direito de cobrar e eu tenho o dever e a obrigação de aceitar essa cobrança. Isso faz parte do processo democrático. As pessoas me escolheram para representá-las, elas pagam meu salário para que eu cuide dos interesses da sociedade. Então as pessoas tem todo o direito e até de certa forma, obrigação de fazer essa cobrança.

Muitas vezes confundem a função do deputado com a função executiva. O deputado não dá a ordem de serviço pra construir uma rodovia ou um posto de saúde. O deputado tem o compromisso de buscar o recurso e de correr atrás, cobrando do poder executivo as ações. Só que temos que entender uma coisa, e eu aprendi isso no meu dia dia, desde os meus seis anos como vereador e agora oito anos de deputado.

Mas como é que eu vou esperar uma pessoa que trabalha o dia todo e muitas vezes ainda faz um bico até as dez da noite para poder sustentar a sua família, que ele tem que entender a diferença entre o que faz um prefeito, deputado, vereador ou governador. As pessoas tem que cobrar de mim como deputado, “Olha, tens que fazer o prolongamento da Via Expressa”. Eu tenho que saber explicar para essa pessoa qual é a minha responsabilidade e a dos outros, deixando claro até que ponto eu consigo ir.

Então, a pessoa fazer cobrança, é algo normal e justo. Eu como parlamentar tenho a responsabilidade de entender que se a pessoa me cobra a execução de uma obra, na verdade pede para que eu faça o meu papel e lute para que aquela obra aconteça. Eu tenho que saber interpretar isso.

Outro exemplo: A pessoa me diz que precisa de uma escola de ensino médio na Itoupavazinha. Sou eu que vou construir a escola? Não. Mas sou eu que vou na secretaria de educação e informar o que a população está pedindo. A população tem que cobrar de mim, para que eu possa cobrar do secretário de educação a parte dele.

Porque muitas vezes a população cobra de mim a construção da escola, e quando eu chego lá o secretario de educação,  diz que não tem terreno para construir. Aí eu vou na administração pedir a desapropriação de um terreno para  construí-la. A desapropriação é feita, eu volto no secretario e digo que agora temos o terreno. Só que ainda precisa pedir para o governador liberar o orçamento.

Eu como deputado vou até o governador e digo que precisamos construir uma escola e precisamos de verba. O governador libera e só então o secretario de educação poderá dar inicio na obras. Então o deputado tem que receber a reivindicação da comunidade, entendê-la e saber  quem tem que encaminhar essa cobrança.

Agora, a população poderia cobrar mais. Um exemplo: a pessoa está andando na rua com seu carro, pega um buraco e fura um pneu. Ela reclama do buraco, mas não liga para o setor competente perguntando quando irão consertar. Claro que a gente sabe que as pessoas tem seus afazeres e a obrigação do estado é resolver. Mas quando o estado é ineficiente, as pessoas tem que exercer seu papel de cobrança.

Na minha rua tem buraco, então, vou procurar o vereador que votei e cobrar dele para que cobre do secretario de obras o conserto, porque esse é o papel dele enquanto vereador. Tem um ginásio na escola que meu filho estuda sendo interditado. Se for uma escola estadual, o deputado estadual tem que ser cobrado. Eu sinto é que muitas pessoas reclamam, mas não trazem até nós sua reclamação. Teria que haver uma participação maior da sociedade.

Nós temos um site que a pessoa pode entrar em contato, nosso escritório sempre está aberto. Temos várias formas de comunicação. Hoje eu recebo muito mais por internet do que fisicamente no escritório. Há problemas de espera com exames, que a pessoa não consegue ser atendida.

OBlumenauense: Nossa segurança em Blumenau está uma lástima. Quais os esforços que sua equipe está fazendo para conseguir mais policiais para cá?

Isso é um grande gargalo. Apesar do governador Raimundo Colombo, ter sido um dos últimos governadores que mais fez concursos públicos para aumentar o efetivo policial. Só que já havia passado muito tempo sem o ingresso de novos policiais, ainda temos muitos se aposentando, onde tudo dificulta suprir nossa deficiência.

A distribuição dos policiais geralmente é feita pelo índice de criminalidade, o que eu acho de certa forma equivocado. Porque se espera criar o problema para depois tentar corrigir. Blumenau tem uma deficiência muito grande, precisa de mais policiais. Eu acho que o combate da criminalidade se faz com efetivo e estrutura policial. Isso significa armas e viaturas funcionando, e se faz utilizando inteligência e tecnologia, além de câmeras de vigilância, serviço de investigação e o próprio apoio da comunidade. Segurança pública se faz com vários fatores diferentes, não com um único que é o efetivo policial. Mas é claro que se não tiver efetivo policial, o resto não vai andar.

OBlumenauense: Existe alguma perspectiva da vinda de mais policiais para Blumenau em curto prazo?

De concreto hoje não. Nós estamos cobrando e acredito que logo virão notícias boas para Blumenau. Mas uma perspectiva concreta de números de policiais não temos, porque tudo depende da academia. Às vezes se faz um concurso para quinhentos, mas no final ficam só duzentos. O Corpo de Bombeiros é a mesma coisa.

OBlumenauense: Você tem interesse em ser candidato novamente à prefeito de Blumenau em 2016?

Hoje eu não penso nisso. O João Paulo Kleinubing foi a pessoa que obteve o melhor resultado na última eleição em Blumenau, foi o candidato mais votado na cidade. Acho que depende muito dele, se ele quiser ser candidato a prefeito. Eu respeito, pois obviamente essa é uma decisão partidária e estamos começando a reorganizar o PSD em Blumenau.

OBlumenauense: O que faria diferente se fosse candidato novamente à prefeitura de Blumenau?

Hoje eu manteria a estratégia da última eleição. Mas eu torço para que na próxima eleição não tenham mais placas nas ruas e tenhamos uma eleição mais limpa. Mas infelizmente enquanto essa regra não vinga, porque vem aquela história: eu sou contra colocar placa, mas os outros colocam. Se eu não colocar o meu eleitor vai achar que eu não sou candidato. E tem gente que acaba dizendo: quero pôr uma placa sua, porque meu vizinho colocou de outro candidato.

Eu ainda sonho que tenhamos o voto distrital misto, um sistema eleitoral parecido com o alemão, onde se tem eleições limpas. É um modelo diferente. Hoje com informática e internet, temos que evoluir. Não precisamos mais de placas. No máximo fazer um jornalzinho divulgando as suas ações para poder entregar para as pessoas que não tenham acesso às redes sociais, que hoje talvez seja uma minoria. Mas, ainda existem pessoas que não tem esse acesso.

Então, que a campanha seja feita com internet, adesivos nos carros, onde a pessoa pode fazer propaganda do seu candidato, mas quando acabar a eleição ele arranca e pronto. O papel, permite que o candidato entregue as suas propostas na porta de fábrica e em locais onde as pessoas ainda não tem acesso fácil à internet. Esse é o meu sonho de campanha.

OBlumenauense: Como é a comunicação entre os deputados estaduais de partidos diferentes que representam Blumenau?

Nós temos posturas ideológicas diferentes. Mas vou te dar um exemplo concreto: como falei antes da importância do prolongamento da Via Expressa, da construção da escola na Itoupavazinha ou da construção do complexo penitenciário. Independente das questões ideológicas, todos os três deputados da cidade pensam que essas questões são de suma importância.

Estes fatores fazem com que nós trabalhemos em conjunto para determinadas ações que são importantes para a sociedade. Isso acaba fazendo com que tenhamos que conversar mais, dialogar. Eu respeito o trabalho da Ana Paula Lima e do Ismael dos Santos. Acho que dentro do seu eleitorado, eles tem um trabalho brilhante. Se não fosse assim, nenhum dos dois teriam sido reeleitos.

Nós temos o nosso trabalho reconhecido por uma parcela da sociedade e estamos aprendendo que temos que dialogar mais. Hoje nós três conversamos mais e estamos mais maduros. Mais conscientes de que temos que defender posturas ideológicas em determinados momentos, sem perder o foco de que temos que cobrar juntos do governo do estado ações concretas para a cidade.