Fotos: Luciano Bernz
Considerado um gênio do design, Hans Donner concedeu uma entrevista coletiva no seu camarim, antes da palestra que apresentou na noite desta terça-feira (16) no Teatro Carlos Gomes. Nessa entrevista com perguntas feitas pelo apresentador Gustavo Siqueira, ele conta como surgiu a marca que revolucionou a televisão brasileira, além de seu grande projeto pessoal.
Em outras duas oportunidades você já esteve em Blumenau. A cultura alemã de nossa cidade, lembra a sua terra natal?
Hans Donner: Primeiro, estou me sentindo quase como se estivesse voltando para casa. Passeando um pouco com a Valéria hoje na rua principal, tive a mesma sensação de estar passando lá perto da minha casa na Áustria, na fronteira com a Alemanha, que é um lugar muito lindo que se chama Lindau. As casas lá são justamente neste estilo que os alemães trouxeram aqui para Blumenau. Então, de uma certa maneira, estou voltando para casa.
Você acha que o designer hoje é uma peça fundamental para uma marca evoluir?
Hans Donner: O designer hoje é que faz o diferencial de uma marca. Veja a Apple com Steve Jobs, que não está mais aqui, e hoje ele é quase uma religião. Este homem juntou tecnologia ao designer. De certa maneira isso aconteceu numa escala menor, quando a quarenta anos atrás, o Boni, que era o Steve Jobs no Brasil, soube que designer num veículo de comunicação e tecnologia, faz a diferença.
Como foi para o Hans Donner criar a marca mais expressiva do Brasil?
Hans Donner: A história toda eu não tenho como contar aqui. Mas me sinto muito privilegiado, porque acredito que sou o único designer do mundo que teve com vinte e cinco anos um estalo, colocou um rabisco num guardanapo, que virou mais tarde a marca mais impregnada nos lares deste país. Quando eu a rabisquei naquele guardanapo, eu fiz “claro e escuro”. Fiz a terceira dimensão. Nessa última logo, ao recuidar do meu filhote, agreguei algo muito especial, que é a minha missão de vida, maior que tudo. Você já viu ela na televisão e está aqui no meu pulso.
Este tem vida. É o tempo. E este me alertou do fato que, se a Globo era um dos principais motivos das realizações dos meus sonhos, ela merecia ganhar vida. Eu consegui levar uma marca que nasceu numa época em que não existia 3D em nenhuma televisão ou marca do mundo. Eu levei ela para a quarta dimensão. Porque a quarta? Porque agreguei tempo. Do mesmo jeito que me inspirei e olhei para terra e fiz a marca da Globo num estalo, pensando no mundo globo; do mesmo jeito eu me inspirei em desenhar o tempo.
A missão real da minha vida nasceu, mas sem dúvida nenhuma, os degraus eram necessários, inclusive estar aqui em Blumenau para contar essa história. As pessoas que sairão daqui hoje, irão ver o futuro.
Já surgiram comentários, de que você foi o criador do tablet quando fez a abertura da novela Explode Coração.
Hans Donner: (Risos) A Glória Perez que colocou isso na internet. Mas veja, estão lançando agora, a tela curva. Na abertura desta novela, eu desenhei uma sala, igual a nossa sala de casa, com escada e móveis futuristas, com um cara sentado numa poltrona tocando numa tela. Quando ele clica, ele faz o touch screen, assim como no tablet. Então, eu desenhei uma tela gigante flutuando e curva. Cerca de duas semanas atrás, numa das maiores feiras de tecnologia na Alemanha, ocorreu o lançamento de tela curva. Olha que coisa louca!
Como estrangeiro, você vê o Brasil como um país de muitas oportunidades?
Hans Donner: Claro. Aqui neste país fértil de oportunidades para mim e as pessoas que trabalham comigo, pintou a possibilidade de fazer coisas que ninguém jamais pensava antes. Exemplo: Copa do Mundo de 82. Era eu saindo da câmera do satélite, entrando para terra e para dentro da bola no estádio em Madri. Agora, pergunta quando o Google começou a aparecer. Esse Google que você hoje viaja para qualquer parte do mundo, eu inventei antes desses meninos nascerem. Então sempre aparecem coisas maravilhosas.
Vinheta da Rede Globo, para a Copa do Mundo em 1982, citada por Hans Donner.