Um dos grandes desafios enfrentados por pessoas com deficiência auditiva é a comunicação com a sociedade em geral. De acordo com dados do IBGE, cerca de 10 milhões de brasileiros têm alguma deficiência auditiva, mas apenas 22,4% dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Essa falta de comunicação efetiva pode gerar exclusão social e dificuldades em diversas áreas da vida, como no mercado de trabalho.
Para ajudar a solucionar esse problema, as estudantes Luisa Ribeiro Teixeira e Sarah Teixeira Willig, ambas com 15 anos de idade, criaram o aplicativo Me Traduza. O projeto foi desenvolvido durante o Ensino Médio Técnico em Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de São Paulo e conquistou o segundo lugar na competição de empreendedorismo estadual Empreenda Senac.
O aplicativo Me Traduza é capaz de traduzir em tempo real a Língua Brasileira de Sinais para o português e vice-versa, por meio da captação das imagens da pessoa que faz os sinais. Além disso, é possível utilizar a câmera do celular ou tablet para traduzir textos em Libras ou português.
O objetivo das estudantes é promover a inclusão social e facilitar a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes. O aplicativo poderá ser utilizado em diversas situações, como em entrevistas de emprego, reuniões e conversas informais, sem a necessidade de um intérprete de Libras.
Uma das preocupações das estudantes foi validar o projeto com a comunidade surda, para garantir que ele atenda às necessidades reais dos usuários. Entre as sugestões recebidas, destaca-se a criação de uma barra de emoções com emojis para ajudar a transmitir expressões faciais durante a comunicação em Libras.
Além de facilitar a comunicação entre surdos e ouvintes, o aplicativo Me Traduza também pode ser uma ferramenta útil para o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais. Ele pode ser utilizado para praticar os gestos a partir das traduções feitas e oferecer informações precisas sobre os sinais.
Para tornar o aplicativo uma realidade, as estudantes estão em busca de investidores e desenvolvedores de software. Segundo elas, serão necessários cerca de R$ 424 mil para o desenvolvimento do aplicativo e capital de giro. A iniciativa já recebeu propostas de empreendedores interessados em refiná-la e apresentá-la a possíveis investidores.
O professor Eduardo Pereira Silva, docente de Libras do Senac São Paulo, destacou a importância da iniciativa das estudantes para a promoção da inclusão social e o estímulo ao aprendizado da Língua Brasileira de Sinais. Ele acredita que o aplicativo Me Traduza tem potencial para auxiliar tanto pessoas surdas quanto ouvintes a se comunicarem melhor e ampliarem seus círculos sociais.
Silva lembra que há iniciativas semelhantes, como “Conheço o Hand Talk, Alfabeto Libras, Librário – Libras para todos, VLibras, Abeille Libras e ProDeaf”. Mas, na sua opinião, o Me Traduza pode auxiliar tanto pessoas surdas quanto ouvintes.
“Por permitir a tradução simultânea e o reconhecimento a partir dos movimentos, com certeza o aplicativo tem potencial não somente de facilitar o contato com pessoas surdas, mas também de estimular a memorização dos sinais para que os ouvintes possam se tornar mais fluentes em Libras e, além de expandir seus círculos sociais, tornarem serviços de atendimento ao público, por exemplo, mais acessíveis”.
O professor acredita ainda que o Me Traduza tem potencial para oferecer mais qualidade de vida a ouvintes e não ouvintes. “Falando do ponto de vista das estudantes, como educador, é muito bonito presenciar a motivação, o desenvolvimento e a capacidade delas de criar um projeto inclusivo tão impactante”.
Fonte: Agência Brasil