Cobertura / fotos: Douglas Henrique (entrevista) e Claus Jensen (texto)
Na tarde desta sexta-feira (5/02/16) o diretor jurídico e institucional do grupo Comporte, Maurício Queiroz, concedeu uma coletiva de imprensa de 40 minutos por volta das 14h20min. O local escolhido foi o pátio da garagem, com parte da frota no fundo.
Todos os profissionais da imprensa estavam visivelmente desconfortáveis sob uma temperatura de 34,6°C. Esperamos em pé uns 20 minutos na área externa da Piracicabana até o início e durante a coletiva, ou seja, cerca de uma hora. Isso me lembrou dos tantos trabalhadores e blumenauenses que passam por isso diariamente, seja operando os veículos ou usuários nos pontos de ônibus.
Editamos o mínimo possível a entrevista para que você pudesse ler o que realmente foi dito. Mas se fosse para resumir, todos os problemas com veículos e operação aconteceram porque não havia equipe formada. Mas a expectativa é serem resolvidos até a próxima quarta-feira. Isso inclui sujeira, portas arrebentadas, que em parte podem ter sido causados por excesso de passageiros, segundo Queiroz.
A partir desse sábado (6), já será possível comprar créditos. As empresas terão que adquirir nos próximos 30 dias bilhetes em papel mesmo. Depois pode mudar. Os ônibus que faltam vir, estavam operando nas suas cidades de origem, diferente dos que vieram, muitos a venda, para substituir a frota da empresa.
Apesar de longo, vale a pena ler o texto até o final. Segue o conteúdo transcrito da entrevista coletiva com o diretor jurídico e institucional do grupo Comporte, Maurício Queiroz.
Tem ônibus que está com a porta quebrada ou enferrujada e até se ouviu falar sobre pneu careca. Foi feita mesmo manutenção nesses veículos e eles tem de fato 6 anos de uso?
Maurício Queiroz: Em primeiro lugar, vai ser muito difícil você encontrar ônibus com pneu careca. Em relação a manutenção, esses carros não são novos e estavam parados em nossas garagens de São Paulo. Fizemos uma manutenção preventiva, nova pintura e retrofit. Mas a manutenção mais pesada e corretiva, iria ser feita em Blumenau.
Nós esperávamos que na semana passada já tivéssemos contratado todos os profissionais na área de manutenção. Mas os trabalhadores da empresa Glória, que detém 66% do transporte do município, só liberou eles entre terça e quarta-feira, quando então pudemos contratá-los. Temos agora um quadro de 48 mecânicos que irão trabalhar em turnos durante todo esse final de semana, para que essas correções sejam realizadas.
Imprensa: Essa força tarefa neste final de semana, será suficiente para resolver todos os problemas?
Maurício Queiroz: Nós acreditamos que sim. Teremos grupos específicos para parte elétrica, manutenção e demais necessidades.
Imprensa: Como vai funcionar a operação dos ônibus nos próximos dias?
Maurício Queiroz: A Piracicabana vai operar com 70% da frota no sábado, domingo e segunda-feira; porque parece que esse é o costume aqui em Blumenau. O Seterb nos informou que o feriado de terça-feira é feito na segunda. Até quarta-feira estaremos operando com a frota integral.
Imprensa: Nesses seis dias que trabalharam, já fizeram um levantamento de quantos veículos deram problemas?
Maurício Queiroz: Na questão das portas, nós tivemos uma superlotação devido ao baixo número dos veículos e falta de cobrança da tarifa. Sem essa manutenção corretiva e com a superlotação, nós tivemos problemas principalmente com as portas e elevadores, porque as pessoas ficavam em pé nesses locais. Não é um equipamento para isso. Nós estamos trabalhando para corrigir todos esses problemas nesse final de semana.
Imprensa: Mas os problemas não foram só nas portas. Tem ônibus que ficaram literalmente pelo caminho. Vocês tem o número dos veículos que apresentaram esse tipo de problema?
Maurício Queiroz: Eu não sei precisar o número de carros que apresentaram defeitos mecânicos para você nesse momento. O que eu posso garantir, é que foi um número bem menor dos que apresentaram problemas na funilaria e elevadores.
Imprensa: Se faltam profissionais para manutenção, porque os ônibus estão circulando de maneira tão suja, com falta de higiene e mau cheiro?
Maurício Queiroz: Hoje não faltam mais profissionais de manutenção, porque fechou o quadro de contratações. O mesmo aconteceu com o pessoal da limpeza. Nós temos um acordo com os rodoviários (Sindetranscol), de que não contrataríamos pessoas de fora. A equipe de limpeza da Glória também foi contratada entre terça e quarta-feira, portanto só podemos fazer esse trabalho melhor agora.
Eu queria deixar claro, que na primeira coletiva de imprensa, eu disse que na primeira semana nós enfrentaríamos uma série de problemas, e que precisaríamos da compreensão da população. Durante esse tempo, nos adaptaríamos a realidade de Blumenau, e que essas questões seriam resolvidas na segunda semana. Nós enfrentamos o problema da falta de contratação, que só poderia ser feita com as carteiras baixados.Isso é independente de nossa vontade. Esse processo não foi da forma que esperávamos. Nesta sexta (5) é que as equipes de limpeza iniciaram o trabalho do jeito que é para ser feito em veículos de transporte urbano Acreditamos que a partir desse final de semana, essa mudança já será sentida.
Imprensa: Os ônibus que circulam nesse momento em Blumenau estão todos regularizados?
Maurício Queiroz: Esses veículos não são só de uma empresa. Por exemplo, os que rodavam em São José dos Campos/SP eram verdes, enquanto os da baixada Santista azuis.Para evitar a poluição visual, nós pintamos todos eles de branco, o que demanda uma alteração do veículo no Detran. Todos os documentos retificados já foram entregues ao SETERB, inclusive pedi que fosse feita uma declaração oficial para que os boatos em relação a idade média da frota não fossem levados adiante. Melhor do que qualquer um de nós dizer ou visualizar o carro, é o SETERB, o órgão oficial, informar através dos documentos a idade média da frota que trouxemos para cá.
Imprensa: A média é maior e muitos ficaram parados, correto?
Maurício Queiroz: Boa parte desses veículos estavam parados e à venda em nossas garagens, para substituição da frota. Por isso que tínhamos 200 veículos para trazer. Então para atender um contrato emergencial de seis meses, não justifica adquirir essa quantidade de veículos zero Km. Até porque os fabricantes não entregam nesse prazo. Mas eles serão entregues pela empresa vencedora da licitação que será promovida pela prefeitura.
Imprensa: Vocês participarão desse licitação?
Maurício Queiroz: Certamente que sim.
Imprensa: A contratação de profissionais continua?
Maurício Queiroz: Nosso quadro já está completo. No dia que assinamos o contrato de concessão, eu fui levado à uma reunião do sindicato, onde fizemos alguns alinhamentos. Um deles é que a convenção coletiva iria ser respeitada e outro é que não teríamos como contratar os 1.400 rodoviários do sistema atual. Hoje nós temos algo em torno de 1.050 funcionários já contratados. O que eu sugeri ao sindicato, é que eles fizessem uma lista dos não aproveitados, em razão de afastamento, turn over, etc. E eu me comprometi que toda nova contratação obedeceria a lista do próprio sindicato.
Imprensa: Nós recebemos uma denúncia de que essas contratações estariam acontecendo sem um atestado médico. O senhor confirma?
Maurício Queiroz: Quando você contrata um funcionário, encaminha ele para fazer os exames admissionais. A informação que eu tenho, é que eles foram encaminhados. Eu tenho que fazer o levantamento sobre essa questão com o departamento pessoal.
Imprensa: Hoje de manhã, fizemos imagens de um cobrador trabalhando sobre o motor, porque alguns ônibus não tem o assento para eles. Aliás, tem veículos em que a cordinha não funciona, fazendo com que o cobrador grite avisando ao motorista que determinado passageiro quer desembarcar. Essas correções serão feitas durante esse contrato emergencial?
Maurício Queiroz: Quando nós fomos consultados se tínhamos ônibus para esse contrato emergencial, nós deixamos bem claro como é composta nossa frota. Trabalhamos em diversos municípios, como Ribeirão Preto, Santos; onde a função de cobrador não existe mais. Por isso vários carros não tem mais o posto para essa função. No dia em que assinamos o contrato emergencial, foi comunicado ao sindicato a inexistência da cadeira do cobrador, e que na vigência dele, eles trabalhariam sentados no primeiro banco após a catraca. Sentar sobre o motor, é realmente totalmente irregular.
Imprensa: Nesse primeiro dia de tarifa paga, houve muita reclamação dos trabalhadores, sobre a falta de informação, organização, orientação sobre o cartão de estudante, escala e horários. Eles se sentem muito humilhados em relação ao tratamento que a empresa está dando nesse primeiro momento. O que você diria sobre isso?
Maurício Queiroz: Não é a impressão que nós temos aqui dentro da garagem. Hoje por exemplo, tivemos dois terminais em que foram arrancadas as catracas e os validadores dos terminais, junto com os pedestais. Além disso, foram cortados os chicotes elétricos. Em dois terminais, tivemos que contratar eletricistas rapidamente para resolver isso e poder trabalhar normalmente. Nós tivemos uma dificuldade muito grande em relação à bilhetagem eletrônica, quando o consórcio que detinha o sistema se recusou a entregar a inteligência dele. Não tínhamos senha, os cartões master e participantes; o que nos impedia de operar o sistema. O ministério público obteve quatro decisões com prazo de cinco dias, onde somente uma das empresas foi notificada.
Ontem uma decisão do juiz da primeira vara de Blumenau, determinou a busca e apreensão do que era necessário para implantar o sistema. Os nossos técnicos trabalharam durante a madrugada desta sexta-feira, para que fosse possível ler e debitar os cartões. A partir de sábado a tarde, nos estaremos vendendo os vales eletrônicos na nossas lojas dos terminais. Na terça-feira, as pessoas poderão adquirir os créditos direto em um site.
Nos preocupam as pessoas jurídicas, porque não podem cumprir com as obrigações do vale transporte dos seus funcionários. Para agilizar essa situação, estaremos disponibilizando vales em papel, vendidos durante 30 dias, mas com validade de 60. Nesse prazo, nos acreditamos regularizar o cadastramento dos cartões. Essa é uma medida paliativa, que não nos agrada, mas precisávamos de uma solução para que as empresas possam cumprir a legislação trabalhista.
Imprensa: Muitas pessoas acabaram colocando crédito no cartão nesse período de transição. Esses créditos serão perdidos, já que quando é feita a compra é gerado um boleto?
Maurício Queiroz: Esse é um problema grave que o Consórcio Siga vai ter que resolver junto aos seus clientes. Porque a partir do dia 23 de janeiro, quando foi decretada a caducidade do contrato, eles não poderiam mais vender e nem tem como baixar esses créditos.
Imprensa: Então podemos esperar que a partir da semana que vem, os 190 ônibus estarão operando com mais qualidade e em boas condições de uso?
Maurício Queiroz: As dificuldades foram informadas na primeira coletiva de imprensa. Como não havia transporte coletivo na semana anterior, acabou gerando uma expectativa de mudança, por isso pedimos compreensão e paciência. No início da operação do transporte coletivo, decidimos não cobrar as tarifas porque sabíamos que não iríamos entregar uma prestação de serviço com o mínimo de satisfação.
Imprensa: Em alguns horários, os ônibus troncais estão lotados no trajeto que antes os articulados faziam. Existe a possibilidade de colocar dois ônibus para compensar?
Maurício Queiroz: Estamos conversando com o SETERB para aumentar o número de assentos nos troncais. Até fui questionado porque o número de veículos aumenta e isso não é visto em linhas que ainda estão paralisadas. Justamente para reforçar as troncais e as principais alimentadoras. Com o problema da falta de motoristas e cobradores, não dava para aumentar o número de ônibus.
Imprensa: Se o número de motoristas já foi regularizado, porque ainda há somente 150 em circulação?
Maurício Queiroz: Por que estamos fazendo a manutenção corretiva desses carros, mas não tínhamos profissionais suficientes até então. Assim evitaremos a repetição dos episódios dessa semana.
Imprensa: De onde virão os 50 ônibus que faltam para completar a frota?
Maurício Queiroz: Eles virão de São José dos Campos, Santos e provavelmente de Ribeirão Preto. São veículos com 4 ou 5 anos de uso, mas estão em operação, diferente dos que conseguimos trazer. Isso significa que não terão uma manutenção corretiva, somente preventiva.
Imprensa: Esses novos veículos, não deveriam vir com uma quantidade menor de bancos. Nos ônibus do Siga, eles possuíam fileira dupla de um lado e simples no outro. Os da Piracicabana, apesar de estarem mais lotados, carregam menos pessoas, já que uma fileira tira quatro da lotação.
Maurício Queiroz: Nossa preocupação é aumentar o número de veículos e a oferta de assentos para o município, que tem uma quantidade determinada pelo seu órgão municipal. Essa diferença de bancos decorre da legislação de onde os carros vieram. Durante esse mês faremos as adequações e iremos avaliar onde tirar ou colocar uma fileira, entre outras. É impossível alterar a configuração do veículo num espaço tão curto de tempo.
Imprensa: Devido aos problemas dessa semana, a imagem da empresa não é das melhores junto a população. De que forma vocês pretendem mudar isso?
Maurício Queiroz: Regularizar a prestação do serviço dentro do cronograma que eu havia dito na primeira semana, que sabíamos o quanto seria tumultuada.
Imprensa: Muitos problemas não foram resolvidos em função do consórcio Siga. Mas alguns deles, como fornecer troco ao cobrador e o vale alimentação, que foi um compromisso firmado para ser recebido na segunda-feira. Mas muitos colaboradores não receberam até hoje. Qual seria sua posição em relação a esses assuntos?
Maurício Queiroz: O prestador de serviços contratado para entregar o vale alimentação teve o sábado e domingo para confeccioná-los. Quando ele trouxe os dados para serem produzidos, já era muito tarde. Mas os prometidos para segunda, foram entregues na terça-feira. Aqueles trabalhadores que foram contratados ao longo da semana, estão recebendo seus vales nesta sexta-feira.
Imprensa: E quanto ao troco e letreiros dos ônibus?
Maurício Queiroz: Essa é uma questão operacional que preciso ver com minha equipe. Em outros municípios, o cobrador é responsável pelo troco. Mas nós iremos nos adaptar a rotina da cidade.
Imprensa: Um ônibus embarcou os passageiros pela porta de trás e não cobrou a passagem hoje, porém a catraca estava invertida, além do validador estar fora de operação. Qual seria o problema?
Maurício Queiroz: Em vários municípios, o embarque é feito pela porta da frente. Lembro que nosso quadro de mecânicos foi completado ontem.
Imprensa: Quanto aos carros sujos, um deles rodou a semana toda com um texto escrito atrás: “sou velho, estou também quebrando”. Acaba não sendo uma boa imagem para a empresa. Não daria para simplesmente passar na lavadora?
Maurício Queiroz: Nossa equipe de limpeza e manutenção foi completada na quarta e quinta. Nós temos aqui lavadores de escovas e os profissionais irão trabalhar para que essa ocorrências sejam resolvidas.
Imprensa: As estações de pré-embarque não estão sendo usadas. Em caso de chuva, as pessoas se molham. Como está sendo resolvida essa questão?
Maurício Queiroz: Elas estão abertas, mas a questão é à quem pertencem essas estações. Na medida que elas dão mais conforto ao passageiro, também criam um problema de mobilidade. O conceito de estação fechada tem que ser maior, porque quando você para um ônibus, os que vem atrás ficam parados esperando, dando menos mobilidade. Nós também não usamos o equipamento, porque não sabemos se podemos. Ouvimos falar que os validadores e as catracas foram retirados.