Comandante da PM fala sobre a emoção ao se formar e quando chegará o dia de partir

Comandante Ten Cel Jefferson Schmidt cumprimentando os soldados promovidos no dia 25/11/2016 | Foto: Giovanni Silva

 

Por Claus Jensen

Na última sexta-feira (16/12/16), 57 novos soldados da Polícia Militar se formaram na sede do 10º Batalhão da PM de Blumenau. Então parei para refletir como teria sido esse momento para o atual comandante, Ten Cel Jefferson Schmidt.

Segundo ele, foram três tentativas até que finalmente ele conseguiu entrar na academia da Polícia Militar em 1991, época em que trabalhava como vigilante noturno no Colégio Aderbal Ramos da Silva. Quatro anos depois, assumiu o comando de um pelotão em Chapecó, em 2007 o de Itapema, onde ficou 4 meses, para depois fazer um curso. No ano passado, assumiu o sub-comando do 25º batalhão em Navegantes, depois veio para a região e finalmente à Blumenau.

OBlumenauense: Um dia o Sr. esteve no lugar desses soldados que se formaram na última sexta-feira. Que lembranças lhe traz esse momento?

Toda vez que eu participo de uma formatura, seja de soldado, sargento ou oficiais; sempre relembro quando passei pela mesma situação. O mais marcante, são os momentos anteriores. Eu me lembro das esperanças e agonias que eu passei na noite mal dormida, o frio na barriga, um pouco antes de me formar aspirante da Polícia Militar.

Embora nos preparamos durante todo o curso, naquele momento ainda não temos toda a noção da responsabilidade que cairá nos nossos ombros e da importância dele para nossas carreiras e da própria sociedade. Quando você faz o juramento à bandeira, fica sacramentado por todos os meios legais, que pode atuar, sem precisar ser supervisionado por alguém para mostrar seu conhecimento. De agora em diante, o pau pega e não alivia.

OBlumenauense: Para o Sr. o que é mais importante nessas formaturas?

Ten Cel Jefferson Schmidt: É o quanto nossa estrutura se oxigena, mantendo essa relação de aprender e ensinar. A corporação fica e as pessoas passam. Essa questão de que a instituição é perene, é a parte mais bonita de todas essas formaturas de soldados, sargentos e oficiais. Acredito que daqui há 5 anos, já devo estar na reserva remunerada.

Vou olhar para a instituição e lembrar com orgulho que eu fiz parte disso e por outro lado, não faço mais. Isso vai dar aquela dor no peito e também na consciência, no sentido de que poderia ter feito mais. Sempre me dá a impressão que meu limite nunca foi alcançado. O militar acha que nunca alcança 100% do seu potencial, mesmo quando atinge seu ápice, porque nós somos preparados para isso. Ele não se acomoda, se conformando que algo está bom. Tem um lema na infantaria que diz: Os melhores, são apenas bons para a infantaria.

OBlumenauense: Pensa sobre isso?

Ten Cel Jefferson Schmidt: Sim, às vezes reflito que assim como entramos, um dia também vamos embora, nem sempre com uma solenidade como essa, que normalmente passa batida e apagada. Eu diria que o momento mais triste de nossa carreira, é quando um policial militar “morre pela primeira vez”.

Passar para a reserva remunerada, se contrapõe a cerimônia que vimos hoje. Essa morte está na sensação de que você não tem mais a responsabilidade e obrigação nas costas, de ficar 24 horas à disposição durante sete dias da semana. Minha profissão é um sacerdócio, algo que nós buscamos durante toda a carreira e que de uma hora para outra, independente do tempo, simplesmente acaba.

Ela é tão dinâmica, passa tão rápido, porque não tem o mesmo produto cartesiano das outras profissões onde todo dia é a mesma coisa. A cada minuto, podemos estar fazendo uma ação completamente diferente, já que a sociedade tem demandas diferentes. Acontece quando tem que acontecer, e nós temos que ficar preparados para isso. Quando percebemos, já estamos de cabelos brancos, rugas no rosto, corpo cansado e dores nas juntas; mas felizes por termos completado a missão.