Por Letícia Wilson e Patrícia Pozzo, da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de SC
O Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, lembrado no dia 24, é uma oportunidade para ampliar a conscientização sobre o problema que a tuberculose representa em todo o mundo, bem como refletir as ações de prevenção e assistência à doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10,4 milhões de pessoas ficaram doentes com tuberculose em 2015, com o registro de 1,8 milhão de óbitos (incluindo 0,4 milhão entre pessoas com HIV). Deste total, mais de 95% das mortes por tuberculose ocorreram em países de baixa e média renda.
O Brasil ocupa o 18º lugar entre os 22 países com alta carga da doença, responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo, segundo o último relatório da OMS. Foram notificados 67 mil novos casos de tuberculose no país em 2015, ano em que foram registradas 4,6 mil mortes em decorrência da doença.
Em Santa Catarina, dados preliminares apontam que, em 2015, foram diagnosticados 1.826 novos casos de tuberculose. Desse total, 1.240 (70,5%) foram curados. Esta proporção está abaixo do parâmetro preconizado pelo Ministério da Saúde (MS), que é curar, pelo menos, 85% de todos os casos novos.
“Uma das dificuldades em alcançar essa meta é o elevado índice de abandono de tratamento que ainda persiste no estado”, argumenta Eduardo Macário, diretor de Vigilância Epidemiológica (Dive) da Secretaria de Estado da Saúde. Neste mesmo ano, 127 pacientes deixaram o tratamento, o que representa 7,2% do total de casos novos em 2015, ainda acima do considerado aceitável pelo MS, que é de até 5% de taxa de abandono. Neste mesmo ano, foram registrados 52 óbitos por tuberculose, pulmonar e extrapulmonar.
Em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, a Dive intensifica o alerta sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento para a cura da doença. O tratamento é oferecido gratuitamente pela rede pública de saúde, e tem duração de, no mínimo, seis meses, sendo necessário tomar diariamente o medicamento. “É comum que, após as primeiras semanas de tratamento, o paciente observe melhora total dos sinais e sintomas. No entanto, não quer dizer que a doença está curada”, alerta Eduardo. A falta de adesão, o abandono ou o uso irregular dos medicamentos podem causar resistência dos bacilos ao tratamento, o que complica o quadro clínico e demanda tratamento por um maior período de tempo (18 a 24 meses).
Populações vulneráveis
A atenção à saúde das pessoas com maior vulnerabilidade à doença, como pessoas em situação de rua, pessoas vivendo com HIV/AIDS, pessoas privadas de liberdade e população indígena têm sido um desafio para as equipes de saúde. A enfermeira Simone Meireles Pacheco, técnica do setor de Tuberculose da Gerência de Vigilância de Agravos da Dive/SC alerta que, “embora a vulnerabilidade dessas populações seja reconhecida, o acolhimento, a assistência e a manutenção do vínculo são desafios a serem superados pelas equipes de saúde, contribuindo para a adesão e continuidade do tratamento”.
A população em situação de rua tem 44 vezes mais chance de adoecer por tuberculose do que a população em geral, o que mostra que fatores sociais como as más condições de vida, moradia precária, desnutrição e dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde tem uma influência profunda no diagnóstico e prognóstico da doença. Em Santa Catarina, foram notificados 54 pessoas em situação de rua com tuberculose em 2015. Dessas, 16 abandonaram o tratamento (29,6%), e somente 16 tiveram cura (38,9%). “Em Florianópolis, Joinville e em Criciúma, as equipes do Consultório de Rua mantêm um trabalho itinerante em parceria com a rede pública de saúde, o que potencializa o atendimento integral a pessoas em situação de rua”, exemplifica Simone.
Outro importante alerta é para a coinfecção tuberculose – HIV/Aids, já que os pacientes com HIV/Aids, em geral, são mais imunocomprometidos, apresentam mais reações adversas aos medicamentos e têm maiores taxas de mortalidade agravadas pelo diagnóstico tardio. Em Santa Catarina, o percentual da coinfecção TB/HIV/AIDS foi de 17% em 2015. “Considera-se um indicador de elevada proporção se comparado ao índice nacional, que foi de 9,8% neste mesmo ano”, afirma Simone. O Programa Estadual de Tuberculose e a Gerência de DST/HIV/Aids, ambos vinculados à Dive/SC, vêm fortalecendo parcerias no dimensionamento e planejamento de atividades conjuntas para o controle da coinfecção no estado. Dentre as ações desenvolvidas, está a capacitação dos profissionais de saúde para a ampliação da testagem para o diagnóstico precoce, para a busca ativa de pacientes e para o acompanhamento do tratamento.
Sobre a tuberculose
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível causada por uma bactéria (Mycobacterium tuberculosae) que afeta principalmente os pulmões, mas também pode ocorrer em outros órgãos do corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). A transmissão é aérea; ela não é transmitida pelo compartilhamento de roupas, lençóis, copos e outros objetos.
Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam partículas no ar. O contato direto com o paciente em ambiente fechado, com pouca ventilação e ausência de luz solar, representa maior chance de outra pessoa ser infectada. Para se prevenir contra a tuberculose é importante vacinar as crianças menores de quatro anos de idade com a vacina BCG, tratar pessoas infectadas com maior risco de adoecer e efetuar medidas de controle de infecção.
Em adolescentes e adultos jovens, o principal sintoma é a tosse (por três semanas ou mais), associada ou não a febre (especialmente à tarde), suor intenso à noite, falta de apetite e emagrecimento. Em crianças menores de 10 anos de idade, a febre moderada e persistente é a principal manifestação clínica. Também são comuns sintomas de irritabilidade, tosse, falta de apetite, perda de peso e suor intenso à noite. Na presença dos sinais e sintomas acima descritos, é importante procurar um serviço de saúde para avaliação.