A delicada recuperação de pacientes Covid-19 no pós-entubação

Foto: Rovena Rosa [Agência Brasil]

 

 

 

Foto: Rovena Rosa [Agência Brasil]

Pacientes vítimas da Covid-19 que têm seus sintomas agravados e precisam de cuidados hospitalares, chegando ao ponto da necessidade de entubação (fazer uso da ventilação mecânica), percorrem um caminho relativamente longo até que seu quadro possa estabilizar e estar livre da doença e de suas possíveis sequelas (comprometimentos de saúde em face da doença).

Mesmo depois de vencida a etapa da necessidade de respiração artificial, esse paciente necessitará ainda de cuidados, no pós-entubação (saída da ventilação mecânica). Isso vai requerer atenção, pois esses pacientes podem apresentar disfagia (dificuldades para engolir com afogamentos e aspirações do alimento ocasionando pneumonias e disfonias – perda da voz ou rouquidão severa), pois as funções da voz e da deglutição são afetadas, em função do uso do respirador mecânico por tempo prolongado e da Covid-19.

A Fonoterapia atua no momento da retirada da ventilação mecânica para proporcionar uma deglutição adequada, evitando que o paciente venha a engasgar, ou mesmo, tenha parte da comida direcionada aos pulmões.

De acordo com Drª. Fga. Daniela Bernadete Vieira Martins, que há 21 anos atua na área clínica e hospitalar e há 8 anos atende no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí, é realizada uma avaliação direta da deglutição, à beira leito, em pacientes responsivos e colaborativos, como os que foram ou não submetidos a IOT (Intubação Orotraqueal) e em um período de 24 a 48 horas após a entubação, submetendo-os a reabilitação funcional orofaríngea, assegurando a via de ingestão mais segura, além das consistências da dieta por via oral.

“Após a intervenção fonoaudiológica, em pacientes que sofreram impactos negativos na mudança anatômica e fisiológica da faringe e laringe com o tempo prolongado da IOT e possíveis TQT (Traqueostomia), causando disfagia, observa-se resultados positivos na função da deglutição e proteção das vias aéreas. Mas vale ressaltar que cada caso tem sua individualidade e o mesmo acontece com os pacientes vítimas da Covid-19, sendo, a recuperação de alguns mais lenta, devido o tempo prolongado do uso de ventilador respiratório por IOT ou TQT”, explica a fonoaudióloga.

Previamente o paciente antes de iniciar a Fonoterapia, ainda é realizado um exame denominado videodeglutograma (exame de rádio imagem) ou a nasofibroscopia da deglutição para verificar o quanto a Covid-19 afetou as musculaturas responsáveis por proteger o pulmão durante a as funções de deglutição bem como ver se o alimento ou os líquidos quando deglutidos são desviados para o pulmão. Deve também realizar uma laringoscopia para verificar as condições das cordas vocais e o impacto da entubação prolongada sobre a laringe.

O profissional da fonoaudiologia, dentro da equipe multidisciplinar de saúde que atende pacientes de Covid-19 em UTI, é o responsável pela delicada tarefa de reduzir os riscos de broncoaspiração em pacientes, aplicando esses exames e orientando de que forma a alimentação poderá ser retomada com segurança, tendo um papel importante de suporte à equipe médica aos pacientes graves.

Voltar a se alimentar é um processo lento. “Para uma alimentação segura é necessário acompanhar a evolução clínica do paciente e suas complicações oromiofuncionais, a partir da intervenção direta em identificar e reabilitar a deglutição, além das orientações quanto aos cuidados para evitar os riscos de broncoaspiração”, explica a Fonoaudióloga.

Além dos cuidados para evitar evolução para um possível quadro de pneumonia, o paciente que não consegue fazer uma boa deglutição após a retirada do tubo, pode vir a ter outras complicações respiratórias que vão exigir um tempo maior para sua recuperação total. “Em alguns casos, o paciente com distúrbios respiratórios pode ter agravamento em disfagia e voz, precisando de cuidados mesmo após a alta hospitalar já estando em casa”, explica a Fonoaudióloga especialista em disfagia, Talita Todeschini que atende pacientes com tratamento no pós-Covid-19.

Para o Fonoaudiólogo Celso Santos Junior, presidente do Conselho Regional de Fonoaudiologia – 3ª Região (Santa Catarina e Paraná) e que atua na linha de frente junto a pacientes vítimas de Covid-19, nem toda pessoa que interna em UTI apresentará sequelas. Ao contrário, as equipes de saúde estão de prontidão para que ele possa ter a recuperação ideal. “Contudo frisamos que essa é uma doença traiçoeira que pode ter consequências, mesmo após o controle da mesma, a respiração, voz e deglutição, são exemplos, daquilo que pode ser afetado em consequência da entubação. Por isso é que, como profissionais de saúde, insistimos no alerta de que a população precisa seguir as recomendações das autoridades sanitárias em relação aos hábitos de higiene das mãos, o uso do álcool em gel e de máscaras e da necessidade do distanciamento social“, frisa Celso.