Sobre Juventude de Blumenau e se fazer as perguntas certas

Foto: Michele Lamin

Foto: Michele Lamin

 

Por João Vítor Krieger | Foto: Michele Lamin

Se estamos falando de uma cidade em que praticamente 1/3 de seus habitantes tem entre 15 e 29 anos, ter um conselho representativo para esses jovens é um grande passo para que suas vidas se desenvolvam de alguma forma. No mínimo, suas vozes têm no CMJ um grande potencial para virarem ideias e iniciativas para a juventude na cidade.

Eu saberia disso. Desde julho de 2015, tenho tido o privilégio de representar a AIESEC em Blumenau no conselho, e lembro muito bem de como foram as primeiras reuniões. Eleição de conselheiros, presidente e vice-presidante, Regimento Interno… e uma tenaz sensação de que nos faltava um norte.

Veja, sempre me pareceu fazer muito sentido que um primeiro passo para qualquer coisa é saber se fazer as perguntas certas.

Pense bem: estávamos nós lá como Conselho da Juventude. E que juventude era essa, afinal? O que querem as pessoas de 15 a 29 anos em Blumenau para suas vidas e sua cidade? Que tipos de jovem há aqui? Como eles se sentem afetados pelo poder público, direta ou indiretamente?

São perguntas complexas, por certo. Mas era um começo. E aí a ideia: e se fizéssemos uma pesquisa, para realmente ouvir o jovem?

Isso aconteceu em torno de setembro ou outubro de 2015. Compramos juntos a ideia, e no dia 18 estávamos na prefeitura, lançando a pesquisa oficialmente. Teríamos um mês para conseguir 1600 respostas e começar a mapear aqueles pontos que nos eram mais importantes no nosso contexto: Educação; Empregabilidade; Cultura, Esporte e Lazer; Combate às Drogas e à Violência Urbana; e Mobilidade Urbana e Direito à Cidade.

A pesquisa transcorreu bem. Deixamos versões físicas do formulário em muitas escolas e entidades; e contamos principalmente com a pesquisa online, chegando a um final de 923 respostas. Não é a meta, é verdade, mas está muito bom: 93% de confiança e 3% de margem de erro para a nossa amostragem.

Os resultados são o mais interessante com relação a tudo isso. A partir da pesquisa, nossos dados indicam que, por maioria, temos a representação demográfica do jovem blumenauense: mulher, de 23 anos, universitária, e trabalhando em regime celetista, provavelmente no setor de comércio e serviços, que mora com os pais em um pequeno núcleo familiar.

É claro, isso é apenas um exercício de pensamento com os resultados medianos mais frequentes. Os resultados ainda nos diriam que a maior preocupação do jovem em Blumenau é a segurança, sua educação e os espaços de convivência, cultura e lazer, nessa ordem; e passa a maior parte do tempo na internet, em um shopping ou em praças, praias e parques.

É uma juventude que se preocupa com a própria apatia, também, já que considera seu deinsteresse e sua falta de experiência e capacitação como os principais fatores que lhe impedem de conseguir uma boa alocação profissional. Mas há aqui um contrapeso: são os mesmos jovens que, por essa preocupação, também estudam – 82% das respostas – e fazem ou já fizeram alguma capacitação profissional pública.

O jovem também tem uma visão crítica. Pelas respostas, vemos que a avaliação da educação pública, segurança e combate às drogas pendem para o negativo, abaixo de satisfatório. Da mesma forma avaliam o transporte público, e com razão — o meio principal de transporte do jovem blumenauenese é o ônibus.

Bom, isso é certamente interessante e nos dá um norte, mas o que vem depois?

Por certo, ainda há espaço para aprofundar a análise. Afinal, temos que pensar na correlação entre os fatores. Há relação entre o perfil socioeconômico do jovem nos bairros com sua avaliação do ensino público? Ou relação entre a percepção de violência e a questão do tráfico e uso de drogas? Ou ainda: um bairro onde há uma oferta de cultura e boa eduação percebidas é um bairro onde a violência é menor?

Talvez esperando um grande insight, não foi isso o que notamos. Na verdade, embora possamos seguir com algumas conclusões preliminares nessas perguntas, o que sabemos é que não existe correlação direta, simples e óbvia. E embora alguns dos bairros — como Testo Salto, Itoupavazinha, Garcia e Ponta Aguda — figurem simultaneamente entre aqueles com a pior percepção de violência e drogadição, isso nem sempre é uma correlação pronta e imediata.

O que isso significa?

Diria que provavelmente não existe uma panaceia. Ou seja, não deve existir um remédio universal que cura todas as coisas.

Como assim? Bom, notamos que não há espaço para respostas prontas. Sim, notamos que esses três pontos — educação, segurança e cultura — são prioridades, mas eles são também complexos. Temos que avaliar com calma qual é a demanda específica de cada um desses pontos nos diversos bairros, respeitando a diversidade da população jovem e entendendo o que pode ser uma solução.

E justamente com isso em mente é que pensamos nos nossos próximos passos. Vamos elaborar um relatório completo, para ficar à disposição de todos. E queremos fazer mais um Encontro Municipal da Juventude e para ser, quem sabe, um espaço onde os jovens estejam representados e presentes na sua pluralidade, discutindo soluções e formas de tratar e resolver o problema.

Já pensou que incrível? Que tipo de iniciativa, PL, projeto ou política pública o Governo pode desenhar com base nisso? Ou que tipo de negócios podem ser criados para atender a uma demanda real e importante do jovem em Blumenau? Ou mesmo algum projeto do terceiro setor, com iniciativas e movimentos sociais para trabalhar com esses indicadores?

Seria incrível. Já pensamos nisso. Aliás, é esse sonho que estamos perseguindo agora.

Com essa ideia, energia e ambição em mente é que o CMJ está trabalhando para dar o espaço, amparo e a iniciativa que talvez seja necessária ao jovem daqui. Vamos criar uma reação e cadeia, e fazer o que pudermos para atingir essa realidade.

A resposta já vem logo. O importante agora é se fazer as perguntas certas e colocar a mão na massa.