Por Claus Jensen
Essa é a história de Bob, um simpático cão que chamou a atenção do nosso colaborador Luiz Carlos Zimmermann, na Praça Hercílio Luz, que fica na frente da antiga Fundação Cultural de Blumenau. No local acontecia a Feira Moviart e o cachorro estava junto com o tutor, Felipe Mônaco, de 50 anos, brincando com uma folha de palmeira que tinha caído no gramado.
Felipe informou a Luiz que Bob foi resgatado. Após entrar em contato com o dono e conversar com ele por celular, descobri o desfecho feliz de uma história que teve um começo triste. Hoje o cão sem raça definida faz a alegria dele e de sua esposa Bruna Tomio, de 36 anos.
Tudo começou com a morte do outro cão de Felipe, o Mortadela, no dia 9 de janeiro de 2017. Na época ele morava em São Paulo (SP) e o impacto da perda foi tão grande, que decidiu nunca mais ter um cachorro. Mas o tempo foi passando e a saudade daqueles momentos felizes começaram a doer no peito.
No final do ano seguinte, Felipe mudou de ideia, e começou a procurar cães em feiras de adoção. Ele também ficava de olho no perfil do Instagram Amigos de São Francisco (de São Paulo), mas nenhum despertou aquela sintonia especial.
No dia 3 de janeiro de 2019, um amigo compartilhou a imagem de um cão e sua história no seu Instagram. Era o Bob, que ele não sabia dizer a idade, mas tinha sido abandonado por uma família que não lhe dava a devida atenção. O animal fugia com frequência e acabava ficando com moradores em situação de rua. A informação era de que um dos familiares não gostava do Bob e deixava o portão aberto para ele escapar de propósito.
Mas um dia a família decidiu mudar de imóvel e acabou deixando o cachorro em uma garagem com grades, situação que logo chamou a atenção dos vizinhos. Devido ao seu porte grande e necessidade de mais espaço e alimentação, encontrar alguém disposto a adotá-lo tornou-se um desafio.
Mas os vizinhos não o abandonaram, porque pelo menos durante uma semana, eles davam comida e trocavam a água. Nesse período, o animal ficou sozinho no imóvel, em noites escuras, já que não havia ninguém na casa.
Mas a situação que já não estava boa, começava a piorar, porque o proprietário da residência queria alugá-la novamente, e para isso, o Bob precisava sair. Então ele avisou a vizinhança, que se não achassem alguém para adotá-lo, ele teria que deixar o local.
Foi essa história que o Felipe leu no Instagram do amigo. Mas um detalhe o comoveu ainda mais. Naquela triste situação de abandono, o cachorro demonstrava afeto lambendo a mão da pessoa que a colocou entre as grades para tirar a foto que seria compartilhada. “Mesmo nessa situação horrível o cachorro ainda é super carinhoso. A alma dele é boa”, pensou Felipe, que passava por um momento difícil de sua vida.
Sensibilizado pela situação do Bob, ele ligou ao amigo e disse que ficaria com o cachorro. Mas havia uma família que já tinha se interessado e iriam confirmar no dia seguinte. “Se eles não quiserem, o cachorro é teu”, disse o amigo. Imaginem a alegria quando Felipe soube que o Bob era seu. O novo tutor recebeu o cachorro no dia 5 de janeiro de 2019.
Quando chegaram para entregá-lo, Felipe se assustou com o tamanho do novo integrante de sua vida, muito maior do que avaliou pela foto. No primeiro dia, Bob estava muito agitado, até pela situação de abandono que viveu. Ambos saíram para a primeira caminhada de aproximadamente 14 quilômetros. Felipe aproveitou para comprar algumas coisas no pet shop.
Bob estava feliz, queria brincar e morder como um filhote, no entanto era um cachorro grande. Felipe ficou um pouco triste, por achar que não daria conta. “Eu liguei para o meu amigo dizendo que não sabia se ia conseguir ficar com ele, mas tentaria pelo menos por uma semana. Se não desse certo, devolveria Bob”, lembrou.
O cachorro estava doente, com carrapato, excesso de peso e gordura, além de pouca massa muscular. Tudo levava a crer que ele ia morrer. Na primeira vez que foram a uma pracinha, quando dava aquele arranque que os cachorros costumam dar, ele caía. Era necessário fortificar o animal e melhorar a sua condição física, antes que fosse tarde.
“Eu fiz uma rotina de exercícios para ele. A gente caminhava 9 km de manhã, outros 9 km à tarde e mais seis à noite. O segundo dia foi um pouquinho menos ruim e durante a semana melhorou”, lembrou Felipe.
Os passeios ajudaram Bob a se acalmar, assimilar uma rotina e entender que o novo tutor não o deixaria. Durante seis meses, o cachorro fez tratamento para anaplasmose, uma das doenças causadas pelo carrapato e iniciou uma dieta. “Ao final de um ano, já éramos dois amigos, eu era dele, e ele meu. Depois eu descobri, que Bob já tinha aproximadamente um ano de idade quando veio para mim. Agora já está comigo há quatro anos e cinco meses”, comentou Felipe.
A saúde do amigo inseparável de quatro patas está ótima e ele concorre com o carinho da esposa, que acabou grudada em Bob. Aliás, o animal que outrora foi desprezado, hoje é até bem-vindo para entrar em algumas lojas. “Hoje todo mundo se encanta com ele, quer fazer carinho e pegar nele, e até tem permissão para entrar em alguns estabelecimentos. As pessoas também ficam curiosas para conhecer a história dele”.
O casal de atores veio há dois anos para morar em Blumenau, onde constrói uma vida junto. Enquanto Felipe Mônaco trabalha na profissão utilizando a sua voz, seja em comerciais e outros trabalhos, a blumenauense Bruna Tomio é mais focada na imagem.
Ambos se conheceram pessoalmente em julho de 2011 no Río de Janeiro (RJ), na época em que Bruna morava na capital fluminense e ele Porto Alegre (RS). Ele foi fazer um curso no mesmo local em que a futura esposa estudava e a magia do amor uniu as suas vidas. Durante um ano eles namoraram à distância, depois decidiram viver juntos em São Paulo, onde Felipe estava morando naquele momento e tinha o cão Mortadela.
O animal já tinha uns 10 anos e ficou com muito ciúmes da nova moradora. “Ele era muito possessivo e estava acostumado a viver só comigo. Mas depois de um certo tempo, ele se apaixonou pela Bruna e ficou grudado nela. Nós ficamos juntos até 2017, quando o Mortadela morreu. Eu fiquei muito mal, várias coisas aconteceram e acabamos nos separando. Em 2019 quando adotei o Bob, eu estava sozinho e a Bruna vinha me visitar.”
Felipe afirmou que Bob foi quem o incentivou a superar a depressão ao cuidar dele, levando-o a se levantar e sair desse estado emocional. “Levo esses compromissos muito a sério. É como uma promessa: no momento que eu decidi cuidar dele tenho que dar o meu melhor, não posso deixá-lo na mão.”
Bruna e Felipe continuaram cultivando sua amizade, fortalecendo ainda mais os laços entre eles, até que em 2021 tomaram a decisão de retornar juntos para Blumenau. No ano seguinte, deram um passo ainda mais significativo e se casaram, com Bob desempenhando um papel importante nesse momento tão especial na vida do casal.
“Nunca pensei que estava adotando Bob, simplesmente quis salvar uma vida. Para alguém que já passou por experiências difíceis e conheceu o sofrimento, é difícil ver uma pessoa ou um animal na rua e não fazer nada. Os cães possuem uma lealdade, carinho e doçura que me cativam e trazem harmonia à minha vida. Eu ajudo o Bob tanto quanto ele me ajuda. Somos verdadeiros amigos. Para mim, é estranho fazer distinção entre um cão de raça e outro sem raça definida. Se pensarmos na raça humana, a diversidade é fundamental para a sobrevivência. Eu mesmo não possuo uma raça específica. Meus antepassados vêm de diferentes partes do planeta”, conclui Felipe.
Uma história inspiradora que talvez motive você a adotar um cão e viver feliz. Mas como o Felipe deixa claro, é um compromisso de vida, de amizade que jamais deverá se transformar em um abandono. Bob estava destinado à Felipe e Bruna.