Justiça afasta dois veterinários da Unidade de Acolhimento Provisório de Animais de Itajaí suspeitos de maus-tratos

Eles são acusados de não dar o tratamento veterinário adequado e nem oferecer alimentação adequada, que muitas vezes eram feitas em meio às fezes.

Imagem ilustrativa

Dois veterinários da Unidade de Acolhimento Provisório de Animais do Município de Itajaí (UAPA) foram afastados de seus cargos pela Justiça, após denúncias de maus-tratos e omissão.

Segundo o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), os profissionais são acusados de não prestar o devido atendimento veterinário aos animais, que já eram recebidos em situação de vulnerabilidade, muitas vezes feridos e fracos. O levantamento aponta que o caso aconteceu a 11 animais, cujas feridas expostas não eram tratadas e a alimentação era feita de forma inadequada em meio às fezes.

Uma fêmea de porte pequeno, aparentemente prenha e com corte de cirurgia aberto, e um cão de porte grande, e já debilitado, acabaram morrendo na unidade sob suspeita de maus-tratos e omissão no atendimento. A suspeita é que não foram os únicos óbitos e a instrução processual poderá trazer novos esclarecimentos.

“Constatou-se que os veterinários acusados não realizavam a triagem, mantinham animais doentes e saudáveis no mesmo ambiente e em locais sem higiene – promovendo a proliferação de doenças -, bem como não adotavam medidas de manejo comportamental, além de armazenar a ração dos cães em condições insalubres, em meio a ninhos de baratas”, informou o MPSC.

De acordo com a denúncia da 10ª Promotoria de Justiça de Itajaí, os casos teriam ocorrido entre 2020 até pelo menos março de 2022. Como médicos-veterinários contratados pelo Município de Itajaí, eles eram os responsáveis técnicos pelo atendimento da UAPA.

Uma visita técnica à unidade feita pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV/SC) nos dias 14 e 16 de dezembro de 2021, constatou que não havia triagem de animais sadios e com possíveis doenças, sendo que todos ficavam em uma mesma baia. Não eram feitos exames dos animais que chegavam. Faltava implantação de trabalho de bem-estar animal e foi levantado, ainda, que a maioria dos animais não era vacinada nem microchipada além de detectados sinais de agressividade nos cães.

Em março de 2022, em nova vistoria do CRMV/SC, foi constatado que o local onde era armazenada a alimentação dos animais tinha ninhos de baratas. Os animais que chegavam à unidade com ferimentos eram mantidos com dor e machucados e alguns encontravam-se com o comportamento alterado pelo estresse. Como consequência, a imunidade deles baixava, gerando doenças e brigas.

Os relatórios das visitas foram enviados ao MPSC. Em razão dos fatos apurados, o Ministério Público denunciou os médicos veterinários do Município de Itajaí pela prática do crime de maus-tratos previsto no art. 32, § 1º-A, da Lei n. 9.605/98, na forma do art. 13, § 2º, alínea ‘a’, do Código Penal, que considera penalmente relevante a omissão daquele que tem o dever legal de cuidado, proteção e vigilância e que, mesmo podendo, deixa de agir. O caso também está sendo apurado pelo CRMV/SC.

Além da responsabilidade criminal dos agentes veterinários diretamente envolvidos no caso, a 10ª Promotoria de Justiça apurou também as falhas estruturais existentes no Canil Municipal e está executando judicialmente, na esfera cível, o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta que havia sido assumido pelo Município de Itajaí para a regularização da Unidade de Acolhimento e que não foi cumprido. As Ações de Execução das Obrigações de Fazer e de Pagar tramitam perante a Vara da Fazenda Pública da Comarca Itajaí.

As informações foram divulgadas nesta terça-feira (7/02/23) pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).