Por Ana Maria Ludwig Moraes | Historiadora
Vamos parar e pensar um pouco em como deveria ser para aqueles primeiros imigrantes, os seus festejos natalinos.
Para os europeus o natal era período de confraternização, religiosidade e esperado sempre com muita expectativa. Os dias difíceis pelos quais passaram em sua terra natal, pouco antes de emigrar, não enfraqueceu as lembranças que se misturavam com a imaginação e a saudade.
Os primeiros anos no Brasil, foram de natais melancólicos e sem muitas opções. As lembranças eram de preparativos caseiros com montagem de árvores, guloseimas, roupas para os eventos religiosos, reuniões familiares. Muito distante da noite de natal escaldante, quando não chuvosa, solitária e escura em meio à mata. Para um evento religioso, precisava-se andar muito – e se é que havia algum. O primeiro pastor somente chegou em 1856, padres havia sim, em Gaspar.
Penso que com o aumento do número de nascimentos, as crianças trouxeram alegrias e necessidades de diversão e encantamento. Tratou-se de dar asas à imaginação e adaptar…e foi o que se fez. Nas cartas enviadas às famílias na Europa, temos um relato de que somente após cinco anos é que a família teve seu primeiro pinheirinho de natal, uma pequena araucária. Esta substituiu os anteriores arbustos e outros que se prestassem a serem enfeitadas com retalhos de fazendas nos quais amarravam flores e frutas silvestres.
“Assim, em todos os anos, não deixamos de ter nossa árvore de natal, mesmo nos três primeiros anos em que a vida era dura de fato. (…) e em torno da tradicional árvore de natal, [estávamos] reunidos em louvor ao nosso Deus e unidos no propósito de não desanimar e de crer na bondade divina (…)”.
Ahh, sim, pelo menos velas havia: feitas com a cera das abundantes abelhas!
Nas comunidades italianas , segundo relato, grupos de cantores visitavam as famílias cantando “La Santa Notte” e as crianças deixavam na porta de casa um pratinho com sal para o burrinho que passava carregando o Menino Jesus. No dia seguinte, o presente desejado ali estaria. O almoço no dia 25 era farto, onde não podia faltar cerveja e biscoitos confeitados.
No primeiro dia do ano novo as crianças visitavam os avós e os padrinhos, ansiosas pelos presentes que eram coisas simples, como um lencinho ou um doce mas que as deixavam imensamente felizes. Os festejos encerravam no dia 06 de janeiro, na Festa da Epifania, que era o dia em que Jesus Cristo foi visitado pelos Reis Magos e deste modo, apresentado à humanidade. Epifania entende-se por “manifestação” ou “aparição”, revelação de uma Verdade.
Na próxima semana, veremos como incremento do comércio, a instalação de escolas e igrejas, as coisas começaram a mudar, o Natal começa a se sofisticar, resultado de uma vida mais confortável e próspera economicamente.
Até lá!
¹BC 1974, ed 09 pg 17.
²BC 1975, ed 03, pg 21.