Estudo em grupo: ficção ou realidade?

 

Prof. Dermes

Raquel num canto da sala pergunta a Célio se ele foi à festa do Ricardo. Marcelo folheia revistas de esporte enquanto Camila explica um exercício de Física a Maurício. Giovana, na cozinha, ataca a geladeira e o forno. Isso pode ser tudo, meno estudo em grupo!

No entanto, geralmente é assim que muitos vestibulandos estudam, sem disciplina. Aliás, a palavra costuma deixar os adolescentes com os cabelos em pé. Por razões de saúde individual e pública, vamos quebrar mais esse preconceito?

Se esse fosse um teste de múltipla escolha, qual seria a alternativa mais adequada para o conceito de disciplina de que tratamos?

a) Regime de ordem imposta ou menos consentida.
b) Ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização.
c) Relações de subordinação do aluno ao mestre.
d) Submissão a um regulamento.
e) Qualquer ramo do conhecimento humano.

Obviamente o item b, pois, para o vestibulando consciente, disciplina não significa rigidez, e sim um mecanismo de organização em todos os níveis para o aproveitamento qualitativo de determinada atividade. Bem,não tenho a pretensão de escrever um dicionário. Apenas espero ajudá-lo a colocar um pouco de ordem em seu trabalho em grupo.

Conexão

Antes de iniciar uma nova atividade, é sempre bom se concentrar, relaxar ou fazer um ritual, dependendo de suas convicções pessoais. Imagine um colega que tenha brigado com os pais e chegue para o estudo em grupo: vai conseguir acompanhar os estudos se antes não se desligar do problema? Não. A regra vale para qualquer atividade: antes de iniciá-la, respire fundo, faça uma prece, relaxe, mentalize, enfim, estabeleça conexão com aquilo que vai fazer. No caso do estudo em grupo, escolha sempre algo ecumênico. Feito isso, que tal um aquecimento? Leia uma crõnica ou um poema (não necessariamente das listas dos vestibulares) antes de mergulhar nos estudos.

Horário

Evite reunir grupos de estudo em horários nos quais quase sempre os colegas estão cansados (logo após o almoço e às 21h, por exemplo). O organismo tem seu timing e, portanto, domingos e feriados nacionais também devem ser respeitados. Feriados municipais, tudo bem, vá lá…

Objetivos

Para que servirá esta reunião de estudos? Para resolver dúvidas, fazer exercícios, apresentar resultado e esquemas? Planeje, organize, defina. A propósito, isso é uma constante na universidade. Acostume-se a trabalhar com método.

Programação

Toda atividade em grupo pressupõe responsabilidade conjunta. As tarefas devem ser divididas previamente. Nada de eu chego lá e vejo o que faço. Improviso pega bem para quem domina a técnica (vide atores, músicos e outros). Dessa forma, para que a reunião seja harmônica, é necessário que cada componente do grupo venha preparado, tenha feito a lição de casa, o ensaio, a fim de contribuir com o coletivo, e não apenas colocar um funil na orelha esquerda e receber explicações de colegas benevolentes.

Duração

Lugar-comuníssimo: o que importa é a qualidade, não a quantidade. Não adianta o grupo se reunir por oito horas e se estafar. Estabelecidos previamente os objetivos da reunião, cada componente terá um tempo determinado para explicar exercícios, levantar dúvidas etc. Essa atitude pode parecer burocrática, mas não é. Trata-se de disciplina. A não ser que a cada explanação de História do Brasil você queira ouvir novamente a história da família daquele amigo que teve um tataravô bandeirante, que saiu de São Paulo rumo a Minas Gerais e se casou com uma índia, teve três filhos, dois homens e uma mulher, e…

Recursos

Dentre as vantagens de estudar em grupo, os vestibulandos comumente apontam o fato de que os colegas, em muitos casos, entendem melhor as dúvidas dos candidatos do que os próprios professores, pois sentem na pele as dificuldades de aprendizado. Depende. Se o professor tiver formação e experiência, terá método e, portanto, simulará situações de dificuldades de aprendizado comuns a diversos tipos de estudantes. Dessa forma, utilizará em suas aulas vários recursos, que podem (e devem) ser incorporados ao estudo em grupo, tais como fotocópias de esquemas, painéis, murais, dramatizações, ilustrações, simulações em computador, gráficos, retroprojetor, data-show etc. Uso o que estiver ao alcance de sua mão e, naturalmente, de seu bolso.

Notas e apontamentos

Anote as explicações, copie exercícios, faça esquemas. Além de estar a um passo dos métodos de pesquisa que empregará na universidade, dificilmente vai sentir sono. Após os encontros, quando for estudar sozinho, valha-se de resumos (reconstrução do conteúdo a partir de ideias principais e palavras-chave), resenhas (releitura crítica do conteúdo) e paráfrases (conteúdo reescrito com as palavras do leitor/estudante).

Celebração

Para seus estudos renderem mais, para não se desequilibrar com tantas atividades, a palavra-chave é descontração. Aproveite a presença da turma e cante, dance, comemore mais essa jornada de trabalho. Tome suco natural, ria, relaxe o corpo no chão ou em almofadas, ouça música, aproveite o momento e sinta gratidão por ser amado e ter amigos, colegas, pais e professores com quem pode contar.

 

Ademir Barbosa Júnior (Prof. Dermes) é professor de Literatura, Redação e Interpretação de Textos. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras.

Desde 1991 leciona do Fundamental à Pós-graduação e compõe bancas de diversos processos seletivos, tendo passado pela Fuvest, pelo ENEM, dentre outros. Autor com mais de 70 livros e 38 revistas especializadas publicados no Brasil e em Portugal e com traduções para diversos idiomas, é apaixonado pelo que faz.

Contatos: ademirbarbosajunior@yahoo.com.br