Por Eduardo Eicke
Fisioterapeuta (CREFITO 202498-F) e diretor da ITC Vertebral Blumenau (47 3066-1330)
Um assunto ainda pouco falado no meio da saúde é a relação das vísceras (órgãos internos: estomago, fígado, vesícula, intestinos, útero, bexiga, etc) com o aparecimento de dores musculoesqueléticas.
Quando existe uma sobrecarga em algum órgão pode ocorrer uma irritação (dor) secundária em locais diferentes do órgão em questão, podendo a pessoa apresentar, por exemplo, uma dor na coluna.
Num primeiro momento parece não fazer muito sentido essas dores pois estamos acostumados a relacionar as dores com um trauma, posturas, esforços físicos. Porém, muitas vezes, estas dores estão relacionadas a um problema no funcionamento/mobilidade das vísceras, tanto pela íntima relação das estruturas, quanto pela inervação do sistema nervoso que é compartilhada pelo sistema musculoesquelético e visceral. Nestes casos, não há necessariamente a uma doença visceral, podendo na maioria das vezes não aparecer alterações em exames de imagem ou laboratoriais.
No corpo humano apresentamos o sistema nervoso dividido em duas partes: simpático e parassimpático. O sistema nervoso simpático fica localizado basicamente na coluna torácica e lombar e ajusta o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso, stress físico e psíquico; já o parassimpático fica localizado no crânio e no sacro (osso na região glútea) e contrabalança o sistema simpático, restabelecendo o corpo num estado de calma, descanso, digestão, reparo. Quando estes sistemas funcionam bem, em harmonia, o corpo se encontra numa condição saudável, quando um deles está elevado ou deprimido surgem as desordens funcionais. E é através dos nervos raquídeos que estes sistemas mandam e recebem as informações e controlam todo o corpo.
Ao sair da coluna, por exemplo, os nervos além de mandar informações para as costas, braços e pernas, manda e recebe também um nervo com as informações simpáticas e parassimpáticas para os órgãos internos, portanto quando um órgão está com uma desordem funcional (disfunção) ele pode informar este nervo, e irritar seu local de saída na coluna, gerando dor ali ou nas demais estruturas (músculos, ossos, pele) comandados por esta mesma vértebra.
Causas das desordens nas vísceras
Estas disfunções nos órgãos podem surgir por diversas causas, como: estilo de vida agitado, estresse, tabaco, uso de álcool, consumo de alimentos industrializados, dentre outros.
Sintomas
A dor referida visceral se manifesta em estruturas somáticas a distância (músculos, pele, articulações, etc) e é uma dor constante, com maior durante o período de ativação do órgão (após alimentação geralmente) e/ou dor a noite.
Uma situação bem comum para entender isso é a presença de dores lombares em mulheres durante o período menstrual. Durante o período menstrual, a mulher passa por inúmeras alterações hormonais, o que faz com que o útero fique mais pesado (cheio), o útero possui relação com o osso sacro através do ligamento úterosacral, estando o útero mais “pesado” pode alterar a movimentação do sacro, gerando um bloqueio de ilíaco (ossos da bacia), e através dos ligamentos ilIolombares gera uma tensão mecânica nos tecidos vizinhos e essa tensão, pode chegar até a coluna e inclusive comprimir algumas raízes nervosas e levar dor para região lombosacra. Além disso, a inervação (comando) do útero vem da região lombar e sacral, assim, ao estar o útero irritado ele pode informar a vertebra responsável e sensibiliza-la também, gerando dor neste local.
O mesmo é valido para o sistema gastrointestinal (principalmente para o intestino). Em casos de constipação intestinal, pode haver tensões e sobrecargas no próprio intestino ou em seus órgãos vizinhos que podem dificultar a passagem das fezes, e causar dores lombres tanto pela relação de proximidade, quanto pelo fato do comando (inervação) do intestino sair de parte da coluna torácica, lombar e sacral e poder sensibilizar a região lombosacra.
Tratamento
Um tratamento eficaz sempre depende de uma boa avaliação (criteriosa, detalhada e individualizada). O entendimento do que está causando a dor na coluna (ou em outras partes do corpo) é essencial para planejar o tratamento, e somente atuando na causa do problema que é que possível acabar com o sintoma (a dor) de forma realmente efetiva.
A Osteopatia (especialidade da fisioterapia), nestes casos, atua corrigindo as possíveis disfunções biomecânicas (articulares, vertebrais, ligamentares, musculares) e ao regularizar a inervação dessas vísceras e melhorar sua movimentação e funcionalidade, consegue aliviar as dores.