Por Claus Jensen [proibida a reprodução]
Um dos brasileiros que está lutando pela liberdade da Ucrânia é Maxuel Vukapanavo, de 31 anos, solteiro, sem filhos, nascido e criado em Campinas (SP). Por causa da dificuldade em pronunciar o seu nome, seus amigos o chamam de Max Panavo.
Ele trabalhou como policial militar, e em função da profissão, morou em várias cidades. De bom humor, ele nos disse que também é conhecido por “Rocket Man” ou “Vingador Latino.
Nosso contato foi intermediado através do irmão Muka, que também é lutador de jiu jitsu e atualmente mora na França. Maxuel ficou em Blumenau entre julho de 2020 e fevereiro de 2022, quando partiu para a Ucrânia e se tornou soldado voluntário na legião estrangeira do país.
Na época, o presidente Volodymyr Zelensky, criou a unidade e convocou voluntários para fazerem parte das tropas. A legião estrangeira ucraniana é composta por cerca de 20 mil soldados de 52 países.
OBlumenauense: Como foi que você acabou parando em Blumenau?
Sempre fui fã de Blumenau. Eu costumava passar minhas férias em Santa Catarina desde moleque. Estava de malas prontas para voltar à Califórnia, nos Estados Unidos, mas a pandemia tinha outros planos.
Não podia sair do Brasil por causa das restrições da Covid-19 e tudo fechou em São Paulo. Comentei com uma amiga que estava entediado, então ela me disse que em Santa Catarina a vida seguia relativamente normal.
Não pensei duas vezes, em julho de 2020 eu peguei meus kimonos de Jiu-jitsu, minha mochila e parti para Blumenau. Este era um antigo sonho e finalmente tinha surgido uma oportunidade. Morei nos bairros Victor Konder e Velha, treinei jiu-jitsu nos Centros de Treinamentos Pastor e Marcos Cunha. Aprendi a nadar na academia Splash, fazia preparação física na Academia Force One e estudava inglês. Saí da cidade em fevereiro de 2022, assim que começou a guerra na Ucrânia.
OBlumenauense: O que mais lhe marcou quando morou em Blumenau.
Me marcou positivamente a calma de Blumenau, o oposto de Sampa (São Paulo), e a arquitetura alemã. Uma das coisas que sempre chamou minha atenção é o fato dos motoristas pararem para o pedestre passar. Eu só tinha visto isso na Europa. Também considero uma cidade onde o ciclista é respeitado. Eu era um quebrado (sem dinheiro) na época e basicamente só andava de bike, então me sentia seguro. A única coisa negativa que me lembro é o calor. Parece que o sol aí castiga de um jeito diferente.
OBlumenauense: Quando e por que decidiu ingressar na Guerra da Ucrânia?
Estava de férias em Florianópolis, com minha ex-namorada e meu irmão mais novo. Fomos a um quiosque comprar açaí na Praia de Canasvieiras, quando vimos na TV a notícia da invasão russa. Naquele exato momento eu disse para os dois que iria me alistar na guerra.
Uma semana depois, o Presidente Zelensky anunciou a criação da Legião Internacional Ucraniana, e convidou voluntários de todo mundo para lutar. Eu fui militar por 10 anos em São Paulo e sempre tive o sonho de lutar em uma guerra para defender o oprimido. Esperei esta oportunidade a vida toda.
Como eu estava quebrado na época, parcelei a passagem de avião no cartão de crédito da minha mãe. Cheguei na Ucrânia no dia 8 março e me alistei. Estávamos na segunda semana de guerra e desde então, venho lutando, resistindo e vencendo.
OBlumenauense: Como foi o seu treinamento militar?
Tive treinamento militar em uma localização secreta com instrutores que eram membros de Forças Especiais. Recebi especialização na guerra anti tanque e tiro de sniper. Por causa da minha experiência em ambiente urbano, mais a dos outros legionários, que vieram de exércitos membros da OTAN, nosso treinamento não foi muito longo. Eles avaliaram que o nosso nível já era altíssimo e desta forma fomos empregados na Defesa da Ucrânia rapidamente.
OBlumenauense: Como é a comunicação entre os soldados da legião estrangeira?
Na Legião temos os mais variados idiomas, mas a língua predominante é o inglês. Nossos comandantes falam inglês, ucraniano e russo, por isso não temos problemas de comunicação. Quando é necessário faço tradução para brasileiros e os latinos que falam espanhol. Temos muitos colombianos.
OBlumenauense: A língua ucraniana não tem similaridade com as ocidentais. Chegou a apreender algo do idioma?
Estou dando os primeiros passos, mas é muito difícil. O ucraniano tem um alfabeto próprio, muito diferente do nosso. Por enquanto só sei dizer palavras gentis como obrigado, por favor, bom dia, etc.
OBlumenauense: Em que região você está combatendo e como está a situação neste momento?
Devo manter a minha posição em sigilo e a única coisa que posso dizer é que neste exato momento eu luto em algum lugar do leste ucraniano. A gente avança, consolida a nossa posição e continuamos sem parar. Ninguém segura a vitória Ucraniana. Com relação a equipamentos, temos de tudo.
O exército Ucraniano e os nossos aliados estão sempre suprindo nossa unidade com o que há de mais avançado no mundo militar. Para você ter uma noção do que estou falando, eu opero os famosos mísseis anti tanque Javelin, que o Brasil adquiriu recentemente. No café da manhã temos até kiwi e morango.
Para o inverno, temos bons uniformes, mas devo admitir que mesmo assim está muito frio. A temperatura na trincheira chega a 5 graus Celsius negativos. Melhor emprego do mundo (risos).
OBlumenauense: Que cenas em especial o marcaram na guerra até agora?
Um dia, estávamos libertando uma vila, depois de lutar por toda uma manhã e metade da tarde. Tivemos algumas baixas, mas finalmente conseguimos neutralizar o inimigo. Então a população com lágrimas nos olhos, e tentando falar o melhor inglês que podiam, nos abraçaram e nos deram melancias, maçãs e até galinhas como forma de agradecimento. Até o legionário mais durão se emocionou.
Também tivemos momentos difíceis quando enfrentamos uma unidade de elite russa e amargamos algumas baixas. Mas a gente segue em frente, como sempre.
OBlumenauense: Qual é a sensação dos soldados voluntários ao estarem longe de suas famílias neste Natal?
Não estamos tristes por estarmos longe da nossa família. Somos todos voluntários. Escolhemos estar aqui e o nosso sentimento é de que estamos lutando duro agora para que o próximo Natal seja realmente um Natal de Paz para os ucranianos. Estamos felizes com a oportunidade de fazer algo histórico.
OBlumenauense: Que mensagem gostaria de mandar para os seus conhecidos de Blumenau e toda a família no Brasil?
Para Blumenau, quero dizer que fui muito feliz aí. Se eu sobreviver a esta guerra, volto direto para Santa Catarina. Quando a coisa aperta aqui, temos que pensar em algo positivo e bonito para poder seguir em frente. Então involuntariamente penso em quando ia ao Parque Ramiro Ruediger com minha ex-namorada para treinar cardio.
Por fim, Maxuel terminou a entrevista desejando um Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos. Ele está lutando no 1° Batalhão de Infantaria Mecanizada da Legião Internacional Ucraniana e demonstrou muito otimismo em derrotar os russos. Para segui-lo no Instagram, basta clicar aqui. As fotos e vídeos são atualizadas pelo irmão, já que o acesso à internet no campo de batalha é instável.