Por Claus Jensen, com fotos de Marlise Cardoso Jensen
Por volta das 9h desta terça-feira (27/9/16) alguns carros alegóricos que desfilam na Oktoberfest passaram pela Rua XV de Novembro, Centro. Eles foram oferecidos como apoio pela Planetapéia, Bela Vista Country Club e Tabajara Tênis Club. Se as festas de outubro são uma comemoração à vida, boa parte dessas pessoas comemoravam ela também. Basta ler nos depoimentos comoventes logo abaixo.
A promoção foi dos hospitais Santa Isabel e Santo Antônio, em comemoração ao Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Além das equipes de cada hospital, estavam presentes, famílias de doadores de órgãos, transplantados e pacientes na fila de espera com seus respectivos familiares e amigos.
A Secretaria de Saúde de Blumenau também é apoiadora do movimento, e até iluminou a prefeitura com verde, cor símbolo da doação de órgãos. Ela representa a esperança para quem depende de um “sim” para viver. E é lá que encerrou o desfile.
No período da manhã, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes – CIHDOTT, de ambos os hospitais, estavam na escadaria da Catedral São Paulo Apóstolo distribuindo informativos e orientando a população sobre a importância em aderir a esta causa nobre. Para ser um doador, não é preciso deixar nada por escrito, apenas avisar a família sobre o desejo.
Em Santa Catarina existem mais de 400 pessoas na fila de espera por um órgão, mas nosso Estado bateu o recorde nacional de doações no primeiro semestre de 2016. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), foram 34,9 doadores para cada milhão de habitantes. Em 2015, o índice era de 30,6. A média nacional é de 16 doadores para cada milhão de habitantes, o que torna nosso Estado com índices comparados a países europeus.
Falar com pessoas como André Robson Gomes, já dá para entender a dimensão do gesto que é doar um órgão. A sua única irmã, Juliana Schavetock de 34 anos, foi doadora de órgãos depois que faleceu em abril de 2016 de forma inesperada. Era seu desejo em vida dar parte de si, caso um dia não estivesse mais entre nós. “Fizemos todo o processo legal para que os órgãos fossem doados” comenta André.
Juliana passou por momentos difíceis em sua vida. Mãe de 4 filhos, casou jovem e há 10 anos ficou viúva. Seu sonho não era material e sim que os filhos estudassem e fossem pessoas de bem. Um deles tem 21 anos e já é casado. Os outros três; de 11, 14 e 18 anos; moram na casa de André, vizinho da irmã falecida.
“Tentamos levar uma vida feliz da melhor forma, apesar da saudade imensa, mas quando temos a família por perto ajuda a confortar um pouco. Sentimos um conforto grande também ao saber que ela pode ajudar outras pessoas a seguir a vida e assim trazer felicidade à essas famílias” comenta Gomes. Para ele, o gesto de doar órgãos é um símbolo de amor e de certa forma, devolve um pouco da vida dela.
Anderson Lessa, de 31 anos, também foi um caso que chamou nossa atenção. Em julho, completou 3 anos que ele recebeu um coração novo. Anderson conta que sempre foi um jovem feliz, mas começou a luta pela vida em 2012 quando foi diagnosticado com uma infecção repentina, não hereditária.
“Infelizmente o tratamento não estava adiantando, mas o transplante me deu a chance de viver novamente, ir atrás dos meus sonhos e cuidar de minha filha Johanna, que hoje tem 6 anos” comentou Anderson.
Ele garantiu que hoje está mais feliz que antes, dando valor a vida e aproveitando cada segundo. Durante o tratamento estava bem debilitado, a ponto de ter dificuldade em fazer coisas simples como escovar os dentes e tomar banho. Depois de ficar um bom tempo internado no hospital, a única solução para continuar vivendo era o transplante.
Lessa destacou o apoio da família em especial seu tio, que foi mãe e pai na hora que mais precisou. Também lembrou que sua filha era a maior inspiração para lutar. Não esqueceu da empresa Eletro Aço Altona que lhe deu todo suporte necessário e a equipe do Santa Isabel.
Esperança nunca faltou, tanto que chegou a perder uma primeira oportunidade de ser transplantado em maio de 2013. Na época a equipe médica não teve teto de voo para buscar o órgão do doador que morreu em um acidente. Questionado sobre uma possível rejeição do órgão no corpo, Anderson disse que ajudou muito o fato de nunca ter fumado e jamais ter usado drogas.
Para quem ainda não se decidiu sobre ser um doador, ele lembra que na hora da morte, doar os órgãos de quem amamos pode não ser uma decisão fácil. Por outro lado, é um ato de vida também, porque dá continuidade a outras vidas.
Valdir Cardoso é de Joinville e espera há 40 dias na fila para fazer um transplante de fígado. Segundo os médicos, a expectativa é que no máximo em dois meses surgisse um doador. Faz um ano que ele começou a ter problemas, fez uma série de exames, quando foi diagnosticada a necessidade de transplantar. Valdir aguarda em Joinville receber uma ligação da equipe do Hospital Santa Isabel com a boa notícia de que surgiu um doador.
Há 3 anos atrás Paulo Margarida fez um transplante duplo de rim e pâncreas. Antes disso, passou um ano fazendo hemodiálise. Paulo lembra aos familiares que infelizmente perderam um ente querido, que devem doar sem medo, porque farão muitas pessoas felizes. São dois rins, duas córneas, fígado, pâncreas, coração e até pele para quem sofreu sérias queimaduras. São muitos órgãos que farão a diferença na vida das pessoas.
No caso de Paulo, antes do transplante ele mal conseguia andar, somente com o auxílio de bengala. Ele ia e voltava da hemodiálise carregado pelo filho. “Minha vida mudou em 100%. Hoje viajo, faço trabalho voluntário e converso com as famílias transplantadas. O que eu puder fazer por uma pessoa doente, eu corro atrás” finaliza.