A temporada de colheita do pinhão ainda não começou oficialmente. Até o dia 31 de março, está em vigor o chamado período de defeso, que proíbe a colheita, o transporte e a venda da semente da araucária (Araucaria angustifolia) em Santa Catarina. A medida, prevista pela Lei Estadual 15.457/2011, tem como objetivo principal preservar os remanescentes da Floresta de Araucárias, garantir a reprodução da espécie e proteger os animais que dependem do pinhão como fonte de alimento.
Durante esse tempo, as pinhas amadurecem e se abrem naturalmente, liberando as sementes que caem no solo. Essa queda beneficia diversas espécies da fauna silvestre, como gralhas-azuis e cutias, que espalham as sementes e ajudam a regenerar a floresta. “Isso é fundamental, especialmente no inverno, quando a oferta de alimento diminui nesses ambientes”, explica Luthiana Carbonell, bióloga do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e coordenadora do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Planalto Sul (PAT Planalto Sul).
Entre os visitantes mais aguardados durante a maturação do pinhão está o papagaio-charão (Amazona pretrei), ave ameaçada de extinção que migra todos os anos do Rio Grande do Sul para Santa Catarina em busca da semente.
Além da relevância ambiental, o pinhão tem papel importante na economia e na segurança alimentar de muitas comunidades. De acordo com um diagnóstico feito por técnicos do PAT Planalto Sul, cerca de 12 mil famílias colhem pinhão no Planalto Serrano Catarinense. Para 30% delas, a atividade representa uma das principais fontes de renda. Estima-se que essas famílias sejam responsáveis por 75% da produção estadual.
Muitas dessas famílias trabalham com Sistemas Agroflorestais (SAFs), que combinam araucárias com outras espécies nativas, como uvaia, araçá, goiaba-serrana, erva-mate e canelas. Nesses sistemas, a venda do pinhão pode representar até metade da renda total.
Reconhecendo esse potencial, o PAT Planalto Sul e o Centro Vianei elaboraram, em 2022, o Plano de Ação para Potencialização da Cadeia Produtiva do Pinhão, com contribuições de diferentes entidades. O documento está disponível para consulta pública no site do IMA (link aqui).
Segundo Luthiana, a atividade extrativista do pinhão precisa ser valorizada. “É um trabalho que beneficia comunidades inteiras e, ao mesmo tempo, ajuda a conservar um ecossistema ameaçado, deixando um legado para as próximas gerações”, afirma.
Sobre o PAT Planalto Sul
O Plano de Ação Territorial do Planalto Sul (PAT) é coordenado pelo IMA e pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Sema-RS). Ele faz parte da iniciativa Pró-Espécies: Todos contra a extinção, coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com execução do WWF-Brasil e implementação do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
O plano reúne ações prioritárias de conservação a serem executadas por diversos setores da sociedade, sempre com foco na preservação e uso sustentável da biodiversidade.
Com informações de Carolina Carvalho, da Assessoria de Comunicação do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA/SC).