Em meio à paisagem pitoresca de Donaustauf, cidade nos arredores de Regensburg, na Alemanha, ergue-se o imponente Templo de Walhalla (Ruhmeshalle Walhalla), considerado um dos mais importantes monumentos nacionais do século XIX e um verdadeiro tesouro da cultura alemã.
Inspirado na mitologia nórdica, este monumento é dedicado à memória das grandes figuras que marcaram a história do povo alemão. Localizado às margens do Rio Danúbio, Walhalla é um ponto turístico obrigatório, que oferece aos visitantes uma experiência única, combinando beleza natural, riqueza histórica e arquitetura monumental.
O Templo de Walhalla é um convite à reflexão sobre o passado. Desde sua inauguração em 1842, tem atraído turistas e entusiastas da história, que percorrem suas galerias para contemplar as homenagens àqueles que moldaram a ciência, artes e a política da Alemanha. Além disso, a vista panorâmica oferecida por sua localização estratégica proporciona uma experiência inesquecível aos visitantes.
UM PASSADO GLORIOSO PARA ILUMINAR O FUTURO DA NAÇÃO
A ideia para a construção do Walhalla surgiu no contexto das mudanças políticas do início do século XIX, quando o Sacro Império Romano foi dissolvido após as derrotas frente a Napoleão. A Baviera, aliada da França desde 1805, tornou-se um reino sob influência napoleônica. Durante a Guerra da Quarta Coalizão, o príncipe herdeiro Ludwig I, lutou ao lado dos franceses contra a Prússia, o que gerou um sentimento de humilhação e a busca por uma identidade nacional positiva.
Com a ocupação francesa e a participação alemã na campanha de Napoleão contra a Rússia, cresceu o desejo de unificar os estados alemães em torno de uma herança cultural comum, baseada na língua e na história compartilhadas. Esse movimento resultou em monumentos nacionais que exaltavam figuras e eventos do passado germânico, como o Hermannsdenkmal, que celebrava a resistência contra os romanos. Ludwig, inspirado por esses sentimentos, começou a idealizar o Walhalla como um panteão de heróis alemães, homenageando figuras ilustres independentemente de suas origens regionais.
O Walhalla foi concebido como um espaço de igualdade e celebração da língua alemã como o principal vínculo de união. Ludwig incluiu no Walhalla personalidades de diversas nacionalidades que falavam o alemão ou tinham ascendência germânica, ampliando o conceito de “germânicos” para incluir austríacos, suíços, holandeses e outros. A visão de Ludwig buscava transcender as divisões políticas e regionais, promovendo uma identidade cultural compartilhada, unida pela língua e pelo legado histórico.
A mitologia nórdica ofereceu a temática perfeita, com Walhalla simbolizando o lugar reservado aos heróis após sua morte. Ludwig foi inspirado pela noção de que preservar a memória do passado é essencial para construir um futuro mais sólido. Ele acreditava que, ao reconhecer e celebrar os feitos dos heróis do passado, o povo alemão poderia ser educado e motivado a alcançar novas conquistas. O Walhalla, assim, foi projetado não apenas como um monumento histórico, mas também como um farol cultural e educacional.
UM EDIFÍCIO DESTINADO À MEMÓRIA DE GRANDES ALEMÃES
Em 1807, o ainda jovem Ludwig I já havia decidido criar um templo para homenagear grandes figuras alemãs, com a ajuda do historiador Johannes von Müller, que sugeriu o nome Walhalla. Inicialmente, ele encomendou bustos de personalidades como Goethe, Schiller e Haydn, utilizando escultores renomados. Contudo, o planejamento do edifício foi adiado, e apenas após a derrota de Napoleão, em 1814, um concurso de ideias foi lançado para definir o projeto do monumento.
A proposta inicial foi inspirada em desenhos do arquiteto Carl Haller von Hallerstein, que estudou construções antigas na Grécia. Após a morte de Haller, Leo von Klenze assumiu o projeto, incorporando suas ideias fundamentais.
Inicialmente, Ludwig pensou em construir a obra clássica no Jardim Inglês em Munique, mas depois decidiu por um local em uma montanha fora da cidade. O local foi cuidadosamente escolhido, o Bräuberg, no alto de uma colina às margens do rio Danúbio, proporcionando uma vista panorâmica deslumbrante.
A cerimônia de lançamento da pedra fundamental do “Templo da Glória” ocorreu em 18 de outubro de 1830, no 17º aniversário da Batalha das Nações em Leipzig. Klenze supervisionou a construção até 1842, tornando-se a obra mais cara de Ludwig, custando cerca de quatro milhões de florins.
Em 18 de outubro de 1842, no 29º aniversário da Batalha das Nações, Ludwig inaugurou o edifício com as palavras que podem ser lidas em uma pedra em frente ao Walhalla: “Que o Walhalla contribua para o fortalecimento e o crescimento do espírito alemão! Que todos os alemães, de qualquer origem, sintam sempre que têm uma pátria comum, uma pátria da qual podem se orgulhar, e que cada um contribua, tanto quanto puder, para sua glorificação.”
Para a cerimônia de inauguração, o maestro da corte bávara, Joseph Hartmann Stuntz, compôs um hino festivo intitulado “Teutscher Bardengesang”, o “Canto dos Bardos Alemães”.
UM PANTEÃO GREGO NO CORAÇÃO DA ALEMANHA
O majestoso Walhalla foi projetado no estilo de um templo grego períptero dórico e inspirado no Pártenon de Atenas, é uma obra-prima classicista com medidas impressionantes. Com um total de 125 metros de comprimento e 55 metros de altura, o monumento oferece uma vista majestosa acima do rio Danúbio.
A estrutura externa do Walhalla foi construída com calcário de Untersberg e Kelheim, enquanto o interior foi adornado com mármores de Carrara e Laas, além de outros tipos de calcário para elementos decorativos. Sua construção inovadora inclui um telhado sustentado por uma estrutura de ferro, destacando-se como uma proeza arquitetônica da época.
Os frontões do templo apresentam cenas históricas significativas: a fachada norte retrata os germanos liderados por Arminius na batalha da Floresta de Teutoburgo, enquanto o frontão sul celebra a libertação da Alemanha em 1814. No centro, Germânia, com os estados alemães e fortalezas federais aproximando-se em gesto de homenagem.
Não deixa de notar – No interior, acima dos bustos, há um friso contínuo pintado pelo artista Martin von Wagner que representa a história idealizada do povo germânico, começando com sua saída do Cáucaso e sua migração para a Europa Central até a Cristianização no início da Idade Média. Este friso não só cumpre uma função decorativa, mas também separa visualmente a zona inferior das bustos da zona superior das placas comemorativas. Cada detalhe é um tributo à grandeza da história alemã.
A FACE DOS GUARDIÕES DA MEMÓRIA GERMÂNICA
O Templo de Walhalla abriga atualmente 132 bustos e 65 placas comemorativas. Na inauguração em 1842, foram homenageadas 160 pessoas, representadas por 96 bustos e, em casos de falta de imagens autênticas ou em referência a eventos históricos, por 64 placas comemorativas, organizados em ordem cronológica. As figuras homenageadas incluem reis, cientistas, escritores, compositores e líderes que deixaram um legado significativo para a cultura alemã.
Entre os primeiros homenageados estavam Arminius, o líder germânico da Batalha da Floresta de Teutoburg, Maria Teresa, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico. O poeta Johann Wolfgang von Goethe e o astrônomo e matemático Nicolau Copérnico também figuraram entre os primeiros homenageados.
Cinco anos após a inauguração, foi incluída a estátua do reformador Martinho Lutero, responsável por moldar profundamente a língua escrita alemã. A última inclusão feita por Ludwig I em sua vida foi a do compositor Ludwig van Beethoven, em 1866.
Desde 1962, os bustos originais têm sido complementados a cada cinco a sete anos. Hoje, a seleção dos homenageados é feita pelo Conselho de Ministros da Baviera, com a recomendação da Academia de Ciências da Baviera (Bayerischen Akademie der Wissenschaften).
Os bustos são dispostos em duas filas: uma superior, que homenageia os mais antigos, e uma inferior, reservada para personalidades mais recentes. Essa organização segue um padrão cronológico, reforçando a ideia de continuidade histórica. Desde 1962, bustos adicionais têm sido incluídos periodicamente, ampliando a seleção e trazendo mais diversidade, como a inclusão de mulheres e figuras contemporâneas. Sophie Scholl, integrante da resistência contra o nazismo, e o matemático Carl Friedrich Gauss são exemplos de adições recentes.
As placas comemorativas, localizadas nas partes superiores das paredes, complementam a narrativa visual do templo. Elas destacam eventos e indivíduos cujas contribuições foram essenciais para a formação da identidade alemã, mas cujas imagens não puderam ser preservadas. Entre as placas, há referências a figuras como Arminius, o líder germânico, e Einhard, o cronista de Carlos Magno. Essas homenagens são um lembrete da riqueza e complexidade da história alemã.
DICA – Para facilitar seu passeio entre tantos bustos e placas, existe um guia Walhalla (Amtlicher Führer), que indica a localização de bustos e placas, entre demais peças. O guia observa, no entanto, que algumas inscrições estão incorretas e fornece os anos de falecimento corrigidos, de acordo com as pesquisas mais recentes.
O Walhalla não é apenas um monumento; é uma viagem através do tempo, um lugar onde a memória da Alemanha ganha forma e majestade. Suas colunas dóricas e frontões detalhados falam de uma era de heroísmo e sacrifício, um testemunho silencioso das figuras que moldaram a história e a cultura alemã. O valor histórico desse templo faz dele um destino imperdível, onde cada pedra conta uma parte da rica tapeçaria da nação.
Para os viajantes e amantes da história, o Walhalla oferece mais do que uma aula de história; proporciona um espetáculo visual que culmina em uma das experiências mais mágicas da região: o pôr do sol à beira do rio Danúbio. Enquanto o sol mergulha atrás das colinas, banhando o templo em tons dourados, o visitante se vê imerso em uma cena de beleza incomparável, um momento que encapsula a grandiosidade do passado e a serenidade do presente.
Clay Schulze (@clay.schulze) é Presidente Do Centro Cultural 25 de julho de Blumenau e integrante do Männerchor Liederkranz, Coro Masculino Liederkranz do Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau
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