Secretário da Saúde de Blumenau fala sobre os desafios em tempos de pandemia

 

 

 

 

O Dr. Winnetou Krambeck, de 36 anos, nasceu em Blumenau e cresceu no bairro Velha. Em 2011, se formou médico pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), e no ano seguinte começou a atuar como médico da Atenção Básica em unidades Estratégia Saúde da Família (ESF) e Ambulatórios Gerais. Em 2016, passou a atuar também como médico regulador.

Desde abril de 2019, Krambeck assumiu a secretaria da promoção da saúde e está presente quase todos os dias nas lives ao lado do prefeito de Blumenau passando as informações relativas ao avanço da Covid-19. Em várias oportunidades desabafou seu desânimo pela falta de colaboração da população para evitar que a taxa de transmissão chegasse aos 389 casos positivos em apenas 24 horas como aconteceu no dia 22 de julho.

Conversei por telefone com o secretário Krambeck, que passa uma grande prova por conta da pandemia. Os leitos de UTIs estão com altas taxas de ocupação e o número de internados nas de guerra também não para de crescer.

Claus Jensen: O Sr chegou um dia a imaginar ser o principal responsável pela pasta na sua área de atuação em Blumenau enfrentando uma situação tão complexa quanto essa?

Winnetou Krambeck: Meu pai é gestor e acredito que por isso sempre gostei da área de gestão, além é claro, de atuar na parte clínica. A pandemia (Covid-19) está sendo um dos meus maiores desafios porque é um problema mundial que agora está atacando de forma mais forte o sul, Santa Catarina e Blumenau. Acho que nunca imaginei passar por isso na minha vida profissional, ou quando iniciei como diretor e depois secretário (de saúde).

Claus: Qual você considera o desafio mais complexo em relação ao momento de enfrentamento da Covid-19 que vivemos?

Winnetou: É fazer a população entender o que estamos vivendo e da necessidade de medidas como o isolamento social, que impactam diretamente na situação da pandemia no município. Estamos gerindo uma crise com um vírus novo que traz situações novas a cada dia. É essencial que o blumenauense entenda a situação que está sendo apresentada e a necessidade de tomar medidas para conter o avanço do vírus na cidade. Quero aproveitar para elogiar os servidores que vêm atuando de uma maneira exemplar.

Claus: Foram tomadas diversas decisões nesse período. Qual foi a mais difícil em nível pessoal e em relação às políticas públicas?

Winnetou: A decisão sobre os fechamentos, claro, baseado na parte técnica, saúde, é um momento difícil, porque a gente entende a situação econômica e das pessoas. Mas era uma medida necessária, não tinha outra possibilidade. Esse é um momento bem complexo e bem difícil porque mexe com a cidade de forma geral, com todas as categorias e pessoas.

Claus: Sempre há muito questionamento sobre a causa das mortes por Covid-19. Como essa informação chega à Secretaria de Promoção da Saúde?

Winnetou: Todos os óbitos são relatados à nós pela vigilância epidemiológica do município. O órgão por sua vez faz a avaliação sobre os critérios de positividade que incluem o paciente com óbito por causa de coronavírus. Tivemos uma ou duas situações que ocorreram, de pacientes que tiveram trauma cranioencefálico e vieram a óbito. Depois que tiverem a morte encefálica comprovada, foi realizado um teste de Covid-19 para doação dos órgãos e foram positivados, nesse caso a morte não é registrada que foi causada pelo coronavírus, somente como caso positivo. Mas é a vigilância que faz essa análise, diagnóstico e notificação.

Claus: Então quando recebermos da prefeitura a notícia de um óbito “por Covid” a doença foi a principal causa desse óbito?

Winnetou: Sim, exatamente. Ela contribuiu para a evolução do óbito.

Claus: Uma reportagem no site The Intercept Brasil mostrou que 75% dos reagentes para verificação do vírus chegaram sem a chancela internacional apropriada, então já houve esse questionamento acerca dos testes rápidos de Blumenau? Quando vocês aprovaram as empresas, quais as garantias da qualidade dos testes?

Winnetou: Nós sempre seguimos o que a ANVISA padronizou, sempre olhamos a sensibilidade dos testes. Antes de fazer o pagamento, pegamos alguns destes testes e fazemos a avaliação com alguns de nossos pacientes positivos para garantir a qualidade dos testes e fazer nossa própria validação, para ter certeza que não possuem defeitos ou alguma alteração. Quem faz isso é vigilância sanitária que realizou essa validação aqui, e todos os testes que recebemos estavam com validade, seguindo os critérios técnicos e então começamos a aplicá-los.

Claus: Vocês acham que o pico da doença já chegou, ou ainda deve se estender?

Winnetou: Ainda estamos em subida e não consigo dizer se já chegamos no pico. Acredito que iremos atingir o platô até metade de agosto, e até lá, continuarão sendo dois meses difíceis, com muita evolução dos casos. Lógico, tudo dependerá também de como o vírus irá se comportar após essa parada, com as restrições. Mas como regra geral, sem nenhuma restrição, grande circulação de pessoas alta e baixo isolamento, teremos dois meses bem difíceis. Acredito que as novas medidas devem reduzir a evolução dos casos com previsão de queda em agosto.

Claus: Quando as pessoas questionam as mortes por Covid-19 dizendo que tem outras doenças que matam mais. Como separar dos pacientes de mortes por H1N1, problemas cardíacos, entre outras, as chamadas comorbidades?

Winnetou: É fato que tem outras doenças que acabam gerando óbitos na cidade, e o coronavírus soma à elas. A partir do final de junho para frente, a evolução das mortes tem sido impressionante, depois de um período anterior com menores registros. Tem dias com até três óbitos. A previsão é que isso continue e nossa preocupação também é o impacto nas UTIs.

Se antes metade desses leitos estavam ocupados, agora quase todos estão. É um vírus que impacta todo sistema de saúde de forma intensa, não só pelos leitos de UTI e de Covid-19, mas por que os hospitais estão parando de fazer as cirurgias eletivas. Tem pessoas que precisam passar por procedimentos cirúrgicos e não irão conseguir.

Claus: Em relação ao serviço de saúde de uma forma geral, o que o cidadão blumenauense pode esperar em relação aos atendimentos? Até que ponto há uma rotina normal e a secretaria não está atendendo devido a prioridade ao coronavírus?

Winnetou: No ínicio teve uma parada nas consultas de especialidades. Apesar de não estar normal, justamente porque temos que deixar um período maior entre as consultas para evitar aglomerações nesses locais, elas estão acontecendo. Nossos postos de saúde não estão agendando, mas a pessoa pode chegar na unidade, passar por uma avaliação e fazer sua consulta médica.

Tentamos manter o máximo da normalidade possível, lógico, com algumas restrições. Nossos ESFs (Estratégia Saúde da Família) têm sim a conduta de acompanhar e avaliar nossos doentes crônicos, que são uma grande preocupação nossa. Mantemos a policlínica e outros serviços abertos, por entender que o fechamento nos dariam um problema ainda maior depois.

Claus: A taxa de ocupação dos leitos regulares de UTI tem oscilado e já chegou em 100%. Os leitos de guerra são solução?

Winnetou: Os chamados “Leitos de Guerra”, que são os 25 a mais, nos dão um pouco mais de fôlego. O plano é a restrição, a parada, conseguir que as pessoas entendam e façam o isolamento social. Estamos trabalhando na Comissão Intergestora Regional (CIR), envolve 14 municípios, na ampliação de leitos em outros hospitais da nossa região, bem como do Alto Vale, que começam a ser implantados pelo governo do estado. A demanda por UTIs por pacientes naquela região impactam diretamente na nossa.