Por Claus Jensen, com fotos de Marlise Cardoso Jensen
Jornalista, humorista, palestrante e autor de “O Papai é Pop”, o florianopolitano Marcos Piangers, tem duas filhas: Anita de 12 anos e Aurora, de 5. Conhecido pela participação no programa Pretinho Básico, da Atlântida FM, um dos mais populares do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ele está em nova fase.
Piangers esteve em Blumenau no inesquecível dia 16 de janeiro, quando um temporal causou mais de R$ 5,5 milhões de prejuízos na cidade. Mas foi Blumenau, que ele escolheu para gravar as palestras que tem dado por várias cidades brasileiras. A proposta é virar um documentário com participação de diversos pais, produzido pela Box Produtora, aqui da cidade.
Eu conversei com ele para saber de seus planos, não só com esse projeto, mas o grande sonho de sua vida. Uma revelação interessante. Aliás, a sua grande mudança de humorista para o conteúdo paternidade também vale a leitura dessa entrevista.
OBlumenauense: De vez em quando você está em Blumenau apresentando palestras, seja no Teatro Carlos Gomes, Norte Shopping, além de outros locais. Existe alguma relação com nossa cidade além da profissional?
Marcos Piangers: Blumenau é uma cidade especial, porque sempre foi muito bem recebido aqui. Além de ter muitos amigos, em todas palestras que realizei, sempre tive plateias muito “quentes”, felizes, que riam de todas as piadas. Mas também, que se emocionavam com os momentos mais emocionantes, e aqueles que eu também me emocionava no palco. Era como se a plateia sentisse aquilo que eu estava sentindo.
Existem uma série de mitos relacionados ao alemão e ao blumenauense, como dizer que eles não se emocionam, não choram ou não riem. Percebi que isso não é verdade. Os pais são participativos, aprendi muito com eles e tive conversas inspiradoras em Blumenau. Em especial, descobrimos um amigo, uma equipe muito competente, para fazer esse projeto sair do papel.
Sempre quis realizar esse sonho, de filmar a palestra falando sobre paternidade, transformar em um documentário e distribuir para todo Brasil. Eu já tinha trabalhado com o Marcos (Rovella) da Box (Produtora), conhecia o profissionalismo dele, mas fiquei surpreso em como ele abraçou a ideia e acrescentou uma série de nuances benéficas ao projeto.
OBlumenauense: Como foi essa mudança do humorista do Pretinho Básico, para um palestrante que trata de um assunto sério como a paternidade?
Marcos Piangers: Eu sempre trabalhei com humor e as pessoas diziam para fazer stand up. Mas eu não queria, porque me parece um tipo de comédia meio vazia, porque você sobe no palco, fala um monte de bobagem, faz as pessoas rirem, mas não refletirem. Nas palestras, foi a oportunidade de misturar informação com humor, coisa que já fazia e conheço há alguns anos. E no momento que comecei a escrever e falar sobre minhas filhas, encontrei um público ansioso por esse tipo de conteúdo, que é o peso da paternidade.
Percebi que poderia fazer uma transformação na vida das pessoas. Sem muita pretensão, ou ter um assunto catedrático, pedagógico, sem ter um ponto de vista de cima para baixo. Pelo contrário, é muito horizontal e próximo dos pais. Senti que consegui trazer impacto e transformação na vida de algumas famílias.
Muitas pessoas me escrevem dizendo que se tornaram pais melhores, com casamentos e filhos mais felizes. Isso me dá força e incentivo para continuar esse trabalho, além de um sentido de missão e propósito. Como eu não tive um pai, sinto que esse tipo de conversa pode fazer com que minha história, meu caso de abandono, se torne cada vez menos frequente.
OBlumenauense: Aconteceu algo em especial na sua vida que inspirou a seguir como palestrante, nesse conteúdo da paternidade? Houve algum depoimento nessas palestras que mais emocionou?
Marcos Piangers: Sem dúvida, muitos emocionaram. Hoje mesmo uma menina disse que quando temos filhos, às vezes por não estarmos acostumados, pela correria do dia a dia, ou por impaciência mesmo, não há aquele olho a olho.
Quando as crianças vão crescendo, entendemos a importância de se abaixar, conversar na mesma altura para explicar as coisas. Às vezes as pessoas que trabalham ao nosso redor, também precisam aquele olho no olho, estar na mesma altura e falar com as pessoas. Então com seu filho, você desenvolve uma série de habilidades.
A Anita, minha filha mais velha, tem uma visão mais crítica do mundo. Ela me ensinou a usar menos o celular, a focar mais no que importa, a trabalhar menos, a estar mais perto da família. Ela me incentiva a ser um pai mais participativo, um marido mais atencioso e um profissional mais competente. Foi um pai, no final de uma dessas palestras, que me disse sobre ter um tempo especial com cada um dos filhos. “Tenho quatro filhos, e na barulheira do dia a dia, não ouço como cada um está. Enão almoçamos e passeamos juntos. Tiro um dia por semana para almoçar com um filho, e aí podemos conversar. Com outro, vou passear no shopping, onde passeamos e também sentamos para conversar.” Isso me ajudou muito na construção como pai, palestrante e até ser um escritor melhor sobre esse assunto.
OBlumenauense: Você tem um projeto a longo prazo, algo que você sonha e te incomoda para realizar?
Marcos Piangers: Meu sonho é levar as meninas numa volta ao mundo para conhecer grandes escolas. A melhor coisa que você pode passar ao filho, é a noção de como as coisas são feitas. Nós crescemos com a impressão de que o mundo sempre foi assim. Mas é importante mostrar para as crianças, que as profissões, escolas, matérias, prédios, tecnologias, celulares, computadores e softwares, são todos inventados. E você como criança, jovem ou adulto, pode ser um agente transformador. É muito importante passar aos filhos essa noção de que realizar coisas, fazer, construir um mundo da forma que eles acham melhor para as pessoas e eles próprios.
Por isso, temos muita vontade de passear pelas escolas com iniciativas educacionais muito interessantes ao redor do mundo. Cito como exemplo, a Summerhill em Londres, a Riverside na Índia, e todas as escolas charter nas regiões mais pobres dos Estados Unidos, além obviamente do sistema de ensino da Finlândia e da Suécia. Quero mostrar para elas esses mundos com suas culturas diferentes das que vivemos. Na Finlândia, os homens passam mais tempo com os filhos do que as mulheres, uma super quebra de paradigmas. Na Europa, alguns países tem licença parental e não maternidade. Então começamos a ver possibilidades diferentes através dessas realidades, dando à elas uma nova perspectiva.
Se você quiser conhecer as ideias de Piangers, pode participar na plateia da gravação das palestras que acontecem em dois dias de março no Teatro Carlos Gomes. Elas serão nos dias 17 (20h) e 18 (17h e 19h30min). Os ingressos estão à venda clicando aqui.