Já pensou que as bainhas do palmito, aquelas partes que geralmente viram lixo, poderiam ganhar uma utilidade incrível? Pesquisadores da FURB (Universidade Regional de Blumenau) deram um jeito de transformar esse resíduo em uma pasta de celulose com aplicações industriais surpreendentes.
A primeira delas é o Biomulch, uma espécie de cobertura que protege o solo e ajuda a recuperar áreas degradadas. O produto já está sendo usado em hidrossemeadura, uma técnica que mistura sementes, fibras e nutrientes para revitalizar terrenos inclinados e encostas. Além de proteger o solo, o Biomulch forma uma manta biodegradável que controla a umidade, a temperatura e até a luminosidade, criando condições perfeitas para a germinação de sementes.
A pesquisa começou em 2001 no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da FURB, com financiamento inicial da FAPESC e apoio da Prefeitura de Blumenau. Inicialmente, a ideia era resolver um passivo ambiental gerado pela indústria do palmito, reaproveitando as bainhas descartadas da palmeira-real, amplamente cultivada em Santa Catarina. A equipe, liderada pela doutora em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica Lorena Benathar Ballod Tavares e pelo doutor em Engenharia Química Atilano Vegini, enfrentou vários desafios até transformar essa ideia em uma inovação tecnológica.
Em 2010, o projeto ganhou força com o financiamento de uma empresa paranaense, que instalou uma fábrica em Luiz Alves (SC) para produzir a pasta em larga escala. A localização foi escolhida estrategicamente pela proximidade com os fornecedores de matéria-prima. A fábrica, inaugurada em 2019, enfrentou atrasos devido à pandemia, mas está em plena operação, produzindo o Biomulch comercializado pela empresa Biosemear.
Novas frentes: da celulose às nanofibras
Mas a história não para por aí. A mesma pasta de celulose inspirou os pesquisadores a desenvolver nanofibras de celulose, um material com aplicações que vão muito além da agricultura. Estamos falando de usos na indústria farmacêutica, cosmética, tintas e até na produção de papel. As nanofibras possuem um diâmetro extremamente pequeno, na faixa dos nanômetros, e têm características semelhantes à resistência de cabos de aço, ampliando suas possibilidades de aplicação.
O processo de produção, que consome menos energia e recursos químicos do que métodos tradicionais, foi adaptado às características únicas da fibra presente nas bainhas do palmito. Os pesquisadores agora buscam parceiros para ampliar as pesquisas e explorar ainda mais as potencialidades dessa inovação.
Impacto e reconhecimento
Ao longo dos 22 anos de trabalho, o projeto rendeu resultados expressivos: 15 trabalhos acadêmicos, mais de 30 artigos científicos, 5 patentes e dois prêmios. Além disso, a equipe publicou capítulos de livros e desenvolveu estudos adicionais, como o uso de fibras de celulose combinadas com cogumelos, resultando em propriedades anti-inflamatórias para aplicações na saúde.
Empresas interessadas podem entrar em contato com a Agência de Inovação Tecnológica da FURB (AGIT), que reúne mais de 20 tecnologias disponíveis para licenciamento. Quem quiser saber mais pode ligar para o número (47) 3321-0605 ou enviar um e-mail para agit@furb.br.
A pesquisa, que começou com um problema ambiental local, hoje é exemplo de como a ciência e a indústria podem caminhar juntas para criar soluções sustentáveis e inovadoras. Uma verdadeira transformação “de ponta a ponta”.
Confira a entrevista dos pesquisadores