Pesquisa traça perfil da população idosa de Blumenau e revela desafios na saúde, mobilidade e relações familiares

Estudo aponta que 23,2% dos idosos moram sozinhos, 10,4% já sofreram algum tipo de violência e 26,6% foram vítimas de abuso financeiro. Mobilidade e acesso à saúde também são desafios crescentes.

Imagem: OBlumenauense

A população idosa de Blumenau cresce a uma taxa média de 4,8% ao ano, indicando um ritmo acelerado de envelhecimento na cidade​. No ano 2000, os idosos representavam 7,4% da população, passando para 9,7% em 2010 e atingindo 15,2% em 2022​. Com essa tendência, estima-se que, ao final de 2024, a cidade terá mais de 60.190 idosos, ultrapassando pela primeira vez o número de crianças de 0 a 14 anos​.

Os dados estão na pesquisa Diagnóstico Social da Pessoa Idosa de Blumenau, divulgada em dezembro de 2024 pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e o Conselho Municipal do Idoso (CMI).

O trabalho traçou um panorama detalhado das condições de vida da população acima dos 60 anos. Os dados mostram um perfil marcado por desafios na saúde, mobilidade, relações familiares e segurança.

Com uma população idosa numerosa e predominantemente feminina, a cidade enfrenta dificuldades no atendimento à saúde, adaptação urbana e no combate à violência contra idosos. Além disso, o estudo aponta que 23,2% dos idosos vivem sozinhos e que 10,4% já sofreram algum tipo de violência, seja física, psicológica, patrimonial ou por negligência.

 

Onde vivem os idosos de Blumenau?

A pesquisa revelou que 74% dos idosos moram em casa própria, enquanto 14% vivem de aluguel e 12% residem com parentes ou em moradias cedidas. Entre os bairros com maior concentração de idosos, destacam-se: Itoupava Central (9,8%), Velha (7,1%), Garcia (6,1%), Água Verde (5,3%) e Progresso (4,9%).

Por outro lado, os bairros com menor população idosa são Jardim Blumenau (0,4%), Vila Formosa (0,6%) e Boa Vista (0,7%). A pesquisa apontou ainda que 23,2% dos idosos vivem sozinhos, um percentual significativo que indica riscos de isolamento social e vulnerabilidade.

Relação com a família

A maioria dos idosos mantém laços familiares, mas há desafios importantes:

  • 56,1% recebem acompanhamento familiar regularmente, mas 43,9% não têm apoio direto da família;
  • 51,1% dividem a moradia com até duas pessoas, geralmente filhos e netos;
  • 44,9% vivem com apenas mais uma pessoa, geralmente o cônjuge;
  • 32,4% recebem visitas ao menos duas vezes por semana, mas 9,3% raramente são visitados.

A maioria dos idosos se sente respeitada em casa: 94,9% afirmam ser tratados com dignidade e 92,7% dizem que sua opinião é levada em conta nas decisões familiares. No entanto, 35% das denúncias de violência contra idosos envolvem negligência e abandono.

Saúde e acesso a serviços médicos

A saúde é uma das principais preocupações da população idosa em Blumenau. O Centro de Saúde do Idoso, que atende cerca de 2 mil pessoas, realiza 1,5 mil atendimentos por mês, mas enfrenta filas de espera e demanda crescente.

As principais doenças registradas entre os idosos são:

A pesquisa revelou que a maioria dos idosos em Blumenau convive com duas ou mais doenças crônicas, o que requer acompanhamento médico contínuo. Os principais problemas de saúde enfrentados por essa população são:

  • Doenças respiratórias – 50% da população idosa é afetada por essas condições, que incluem bronquite crônica, enfisema pulmonar e sequelas da Covid-19​;
  • Doenças cardíacas – 35,5% dos atendimentos a idosos envolvem problemas cardiovasculares, como hipertensão e insuficiência cardíaca​;
  • Doenças do aparelho locomotor – 32,3% dos idosos sofrem com artrite, artrose e outras limitações que afetam a mobilidade​;
  • Doenças metabólicas – 31,7% da população idosa tem diabetes, colesterol elevado ou outras condições metabólicas​
  • Doenças psíquicas e demenciais – 21,9% dos atendimentos envolvem quadros de depressão, ansiedade ou demência, como Alzheimer​;
  • Traumas por quedas – 16,1% dos idosos; relataram quedas nos últimos meses, sendo que 66,5% tiveram sequelas leves ou moderadas​;
  • Doenças neurológicas – 7,2% dos idosos sofrem com Parkinson, AVC e outras doenças do sistema nervoso​.

Uma doença que surpreendeu os pesquisadores

Um dado preocupante identificado na pesquisa foi o crescimento expressivo dos casos de depressão entre idosos. O estudo revelou que:

  • 22,2% dos idosos institucionalizados sofrem de depressão​;
  • Entre idosos que vivem na comunidade, a depressão é a terceira condição de saúde mais relatada, atrás apenas de diabetes e hipertensão​;
  • Muitos idosos não recebem tratamento adequado, o que pode levar a um agravamento do quadro, aumentando os riscos de isolamento social e outras complicações​

Os pesquisadores destacam que esse aumento pode estar relacionado ao isolamento social, dificuldades financeiras e à perda de autonomia. Diante disso, especialistas recomendam a ampliação de serviços psicológicos e psiquiátricos para essa faixa etária, além de políticas públicas para incentivar a participação em atividades sociais e culturais.

Além disso, o número de geriatras disponíveis na rede pública é insuficiente, dificultando o acesso a tratamentos especializados.

Violência contra idosos: dados alarmantes

A pesquisa identificou que 10,4% dos idosos já sofreram algum tipo de violência em Blumenau. Entre os casos relatados:

  • 51,9% sofreram agressões físicas (empurrões, tapas, socos).
  • 31,2% relataram ameaças, xingamentos e humilhações.
  • 26,6% foram vítimas de abuso financeiro, com apropriação de dinheiro ou bens.
  • 14,3% sofreram violência sexual.
  • 35% das denúncias envolvem negligência e abandono.

A maioria dos casos de violência ocorre dentro de casa (54,5%), sendo que 32,6% das agressões são cometidas por familiares ou cônjuges. Além disso, 57,1% dos idosos que sofreram violência não denunciaram os casos, o que dificulta o combate a esses crimes.

Mobilidade e acessibilidade

A falta de acessibilidade no transporte público e as condições inadequadas das calçadas são barreiras para a independência dos idosos:

  • Dificuldade de embarque e desembarque nos ônibus – muitos veículos não são adaptados.
  • Ruas e calçadas em más condições – buracos, desníveis e falta de rampas aumentam o risco de quedas.
  • Falta de transporte especializado – poucos veículos adaptados para idosos com mobilidade reduzida.

Além disso, 30% dos idosos relataram que se sentem inseguros ao atravessar as ruas, devido à falta de respeito por parte dos motoristas.

Instituições de Longa Permanência (ILPIs)

Atualmente, apenas 2% dos idosos de Blumenau vivem em ILPIs. A cidade possui 24 instituições cadastradas, mas enfrenta desafios:

  • Muitas ILPIs dependem de doações e trabalho voluntário para manter suas atividades.
  • Algumas instituições não têm profissionais especializados, comprometendo a qualidade do atendimento.
  • A demanda por vagas cresce, exigindo mais investimento público.

O futuro da população idosa em Blumenau

Com o crescimento acelerado da população idosa, a pesquisa reforça a necessidade de políticas públicas mais eficazes. Algumas recomendações incluem:

  • Fortalecer a rede de saúde geriátrica, garantindo mais médicos e serviços especializados.
  • Criar programas de suporte financeiro e jurídico, protegendo os idosos de abusos patrimoniais.
  • Ampliar a acessibilidade urbana, com calçadas adequadas, transporte adaptado e mais travessias seguras.
  • Expandir iniciativas de inclusão social, incentivando o envelhecimento ativo e combatendo o isolamento.
  • Aprimorar o suporte às ILPIs, garantindo fiscalização e financiamento adequado.
  • Ampliar campanhas de combate à violência contra idosos e facilitar os canais de denúncia.

A pesquisa deixa claro que Blumenau precisa se preparar para um envelhecimento cada vez mais acelerado. Com os desafios apontados, a cidade tem a oportunidade de investir na qualidade de vida dessa população, garantindo que os idosos possam viver com mais segurança, autonomia e dignidade.


 

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