Em Blumenau, a Capital Brasileira da Cerveja, onde “Prosit!” é a saudação de saúde que une todos em torno de um copo, uma nova descoberta científica promete revolucionar a forma como vemos a produção dessa bebida tão apreciada.
Uma pesquisa de Doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelou que a levedura residual da produção de cerveja, frequentemente descartada ou utilizada na alimentação animal, possui propriedades surpreendentes que podem beneficiar a saúde humana. Essa levedura, rica em compostos benéficos, mostrou-se capaz de reduzir o colesterol, melhorar a microbiota intestinal e até combater células tumorais de pâncreas.
O estudo, liderado pela Doutora Priscila Horn e orientado pelos professores Eduardo Alves de Almeida e Ana Lúcia Bertarello Zeni, investigou as propriedades da levedura residual, um subproduto gerado em grandes quantidades pelas cervejarias. Cerca de 40 toneladas desse material são produzidas mensalmente apenas nas cervejarias artesanais de Santa Catarina.
A pesquisa revelou que a levedura é rica em betaglucanas, fibras que ajudam a controlar os níveis de colesterol e estimulam o sistema imunológico, além de conter compostos fenólicos, como os ácidos ferúlico e p-cumárico, que possuem propriedades anti-inflamatórias e anticarcinogênicas.
A primeira fase da pesquisa foi realizada em laboratório, onde testes in vitro demonstraram que a levedura residual é segura para células humanas saudáveis e, ao mesmo tempo, capaz de reduzir a viabilidade de células tumorais de pâncreas, um dos tipos de câncer mais difíceis de tratar. “Ao mesmo tempo em que esse composto reduz a célula tumoral, ele estimula o sistema imune nas células de defesa”, destacou Horn, ressaltando a importância desse achado.
Com base nos resultados promissores dos testes laboratoriais, a pesquisa avançou para um ensaio clínico com 50 voluntários saudáveis (homens e mulheres de 18 a 60 anos), dos quais 43 completaram o estudo. Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo que um grupo recebeu cápsulas contendo a levedura residual, enquanto o outro recebeu placebo.
Durante 30 dias, os voluntários tomaram as cápsulas diariamente. Ao final do período, os exames revelaram uma melhora significativa na microbiota intestinal dos que consumiram a levedura, com um aumento nas bactérias benéficas e uma redução nas bactérias patogênicas, além da diminuição dos níveis de colesterol.
O estudo foi realizado com a colaboração de diversos professores e utilizou a infraestrutura dos Laboratórios de Avaliação de Substâncias Bioativas e do Centro de Estudos em Toxicologia Aquática (Cetaq) da FURB. A levedura residual utilizada na pesquisa foi fornecida pela Cervejaria Blumenau, e a pesquisa contou ainda com parcerias externas, incluindo laboratórios do campus Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade de São Paulo (USP).
O interesse de Horn pelo assunto começou durante o seu Mestrado em Engenharia Química, quando estudava os compostos presentes na cerveja, como malte e lúpulo. A atividade antioxidante da levedura residual chamou sua atenção, levando-a a aprofundar o estudo no Doutorado em Engenharia Ambiental. O objetivo de sua pesquisa é claro: fornecer subsídios para que esse subproduto da produção de cerveja possa ser aproveitado de forma mais nobre, gerando benefícios à saúde e adicionando valor à cadeia produtiva da cerveja.
Com esses resultados, a levedura residual de cerveja não só se apresenta como um suplemento potencialmente benéfico à saúde, mas também como uma alternativa sustentável para a indústria cervejeira.
Fonte: FURB