Pesquisa da FURB avaliou a percepção do isolamento social em Blumenau

Foto: Giovani Silva

 

 

 

Foto: Giovani Silva

 

Com a liberação governamental da quarentena de grande parte das atividades econômicas em Santa Catarina, a quarta-feira (22/01/20), marcou a reabertura de centros comerciais, restaurantes e academias de ginástica. Em Blumenau, onde uma semana antes a adesão ao isolamento ultrapassava os 50% da população, de acordo com pesquisa do projeto Focus, da FURB, surpreendeu a cena da reabertura de um shopping localizado no centro da cidade, com aglomeração dos consumidores.

“As pessoas são influenciadas pelo contexto social e político onde estão inseridas. As mudanças no isolamento colocadas por decreto pelo governo estadual, por exemplo, podem encorajar as pessoas a irem ao comércio, pois afinal passa a ser permitido” observa Maiko Spiess, professor Doutor do departamento de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Ele ressalta a centralidade do comércio e do consumo na vida das pessoas e diz que o comportamento registrado na abertura do shopping “pode também estar relacionado à atuação política de empresários e lojistas, que pressionam os agentes públicos e procuram mobilizar a população em torno do discurso da reativação da economia”.

Sobre os dados apurados pelo Focus, projeto de extensão da FURB, que investigou a percepção do blumenauense sobre o isolamento social provocado pela Covid-19, e revelou mais de 50% de adesão, o pesquisador destaca a importância de observar o período de coleta, entre 13 e 15 abril. “Hoje, com o novo decreto do governador, essa percepção possivelmente seria diferente”, acredita Spiess.

Ele e outros pesquisadores, doutores dos departamentos de Comunicação, Administração e Ciências Sociais da FURB, com participação do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional e do Programa de Pós Graduação em Administração realizaram a pesquisa que deu origem ao relatório do projeto Focus sobre o isolamento social na cidade.

“O Focus obteve mais de 3.800 respondentes e, destes, estratificamos, segundo o IBGE, 1.244 pessoas”, informa a professora, pesquisadora Cynthia Boos de Quadros. As pesquisas foram feitas pelo WhatsApp, utilizando uma metodologia chamada de ‘bola de neve’, “em que as pessoas vão compartilhando o questionário livremente”, explica a professora.

Foi justamente a dificuldade imposta pela Covid-19 que fez com que a coleta de informações do Focus ocorresse por meio de aplicativo. “Sabemos que o ideal é fazer entrevistas pessoalmente, mas o uso do WhatsApp foi mais efetivo que a opção de entrevistas telefônicas, por exemplo”, conta Cynthia.

Pelo WhatsApp, os pesquisadores dizem ter superado a resistência dos entrevistados a ligações telefônicas indesejada e a recusa de chamadas provenientes de números telefônicos não identificados. A possibilidade de o entrevistado poder escolher o melhor momento para o autopreenchimento do questionário também é destacada como vantagem e os pesquisadores entendem que ela ampliou as oportunidades de participação na pesquisa.

Também, segundo os pesquisadores, o aplicativo de mensagens foi uma excelente oportunidade para garantir a presença na mostra de perfis demográficos mais resistentes a participação em pesquisas de opinião pública, como a população de classes mais altas e com menor grau de escolaridade.

“Não trabalhamos com uma amostragem probabilística, mas buscamos estratificar as respostas de modo a obter uma representatividade por faixa etária e renda, segundo indicações do IBGE. A margem de erro da pesquisa é de 2,8 pontos percentuais, considerando um índice de confiabilidade de 95%”, observa a pesquisadora.

De acordo com o perfil dos 1.244 respondentes à pesquisa Focus, 187 têm entre 18 e 25 anos; 293, entre 26 e 35 anos; 275, de 36 a 45 anos; 267 têm entre 46 e 55 anos e 222 pessoas têm mais de 56 anos. Sobre o nível de renda, 13,3% recebem até dois salários mínimos, 51,5% recebem de dois a cinco salários; 23,7%, de cinco a 10 salários e 11,5%, recebem mais de 10 salários mínimos. A maioria dos entrevistados estava praticando o isolamento social há aproximadamente quatro semanas quando foi ouvido, entre 13 e 15 de abril.

Entre os pesquisados, 56,4% disseram só estar saindo de casa quando inevitável (702 pessoas); enquanto 35,2% afirmaram sair de casa para trabalhar e realizar outras atividades (438 pessoas). 83 pessoas, 6,7% da mostra, relataram estar totalmente isoladas e apenas 21 pessoas, o correspondente a 1,7%, disseram não ter alterado sua rotina em razão da Covid-19.

Entre aqueles de menor renda, o medo de pegar o novo Coronavírus é de 41,2%, enquanto 45,5% dizem não ter medo de serem infectados. Já os que recebem mais de 10 salários mínimos manifestam muito medo (30,8%) enquanto 49,7% dizem não ter medo de pegar a Covid-19.

Texto e informações do Central Multimídia de Conteúdo / Jornalismo da Furb