Por *Fernando Ringel (@FernandoRingel)
Era uma vez, um soldado brasileiro chamado Rubem Braga. Aquele mesmo, o escritor. No livro “Crônicas da Guerra na Itália”, ele conta suas aventuras na Segunda Guerra Mundial, junto à Força Expedicionária Brasileira (FEB). Foi muito tiro, bomba, mas apesar de estar na Itália, nada de massa ou vinho.
Fornecida pela Força Armada Americana, a alimentação focava mais no valor nutritivo do que no sabor. Pior para os soldados. Apesar do esforço para aumentar a validade dos alimentos, com o desenvolvimento da comida enlatada, ensacada e as bebidas em pó, nada disso adiantaria se os soldados rejeitassem a dieta, perdendo peso. Como a maioria preferia biscoitos e salgados à carne ensopada e legumes, por causa do gosto, tiveram que temperar todo o cardápio com mais gordura, sal e açúcar.
O SAL DA TERRA?
Na Roma Antiga, trabalho era pago com produtos não perecíveis, entre eles o sal. Como sabor é fundamental, logo esse tempero se tornou uma das principais formas de pagamento. Daí vem a palavra salário. Sendo assim, vamos pensar: se a Segunda Guerra Mundial acabou em 1945, por que os sucos em pó, miojo, ou simplesmente, os “alimentos ultraprocessados”, continuam por aí?
Trata-se de uma questão de paladar e economia: é mais barato comprar temperos em grande quantidade do que cultivar produtos naturais. Como não se come apenas sal e açúcar, eles servem para dar sabor a produtos feitos com proteína vegetal e gordura. Por isso, os supermercados têm tantos alimentos à base de milho, um cereal barato de ser cultivado.
O lado positivo é que das primeiras pesquisas de alimentos, passando pelos salgadinhos embalados à vácuo e refrigerantes, foi possível desenvolver a comida dos astronautas. Eles não tomam Coca Cola, mas sem alimentos com prazo de validade extenso, como o ser humano poderia sobreviver no espaço?
Enfim, toda esta engenharia ajuda a explicar por que o McPicanha, do McDonald`s, não tem picanha, e o Whopper Costela, do Burger King, não tem costela. Você pode até estar comprando gato por lebre, mas o gosto é de lebre. E das boas!
* O jornalista Fernando Ringel é comunicador e professor do curso Produção para Rádio nos Pacotes Sony e Adobe. Ele também tem bacharel em Publicidade e Propaganda.