Fotos e entrevistas: Bruna Maffei e Leonardo Alegri
A ONG Amigo Esperança foi fundada em 2007 pela Pastora Raquel José dos Santos, mas desde 2011 é coordenada por Simone de Lima. O projeto funciona na Rua Erich Belz e também na Rua Erich Mayer, instalada dentro de um terreno da Associação de Moradores na região conhecida como Vila Jensen, ambas no bairro Itoupava Central.
A ONG acolhe crianças e adolescentes com o objetivo de proporcionar atividades de cultura, lazer, esporte e de promoção da saúde. São cerca de 101 famílias que residem nas comunidades que abrangem as duas unidades.
Além dos problemas relacionados a recursos para garantir a sobrevivência da ONG, ela enfrenta um outro que poderia receber apoio da prefeitura. É uma história bonita, que teve a cobertura de Bruna Maffei e Leonardo Alegri. No final do texto, veja como você pode ajudar. Vale a pena conferir.
OBlumenauense: Na sua opinião qual é o papel da ONG Amigo Esperança?
Simone de Lima: É resgatar a esperança das crianças, amparando, acolhendo elas, que no contraturno escolar acabam ficando a mercê da vida, aprendendo coisas que não vão beneficiar elas em nada. Aqui temos uma forma de garantir o direito delas, como descrito no Estatuto da Criança e Adolescente, com direito de cidadania, estudar, se alimentar bem, etc.. Lutamos contra a pobreza, mostrando que existe a possibilidade deles terem uma vida melhor, sendo aquilo que elas desejam ser. Que elas podem ter sonhos e torná-los realidade a partir delas mesmas. Oferecemos à elas atividades de Cultura, lazer, conversação, diálogo e expressão, para que eles possam se tornar grandes cidadãs.
OBlumenauense: Como você se sente trabalhando voluntariamente na ONG?
Simone de Lima: Eu me sinto como que cumprindo uma missão. Eu já tenho 38 anos e passei por várias fases da minha vida, uma delas em que passei por muita dificuldade financeira. Tive meu primeiro filho com 29 anos e quando ele tinha 8 meses, engravidei da minha segunda filha, a Rebeca. Já tinha saído do meu trabalho porque não era aquilo que eu queria. Tenho faculdade de administração e estou me formando em psicologia. Naquela época eu não consegui arrumar emprego e precisei da ajuda das pessoas com leite, fraldas e até comida. Daí eu vi como era importante quando alguém chegava na minha casa e me entregava algo, dizendo, isso vai passar. E realmente tudo isso passou e hoje eu que estendo a mão para todas aquelas crianças. Muitas delas vão à ONG para comer, mas oferecemos hoje só um lanchinho.
Quando nossa cozinha ficar pronta, vamos voltar a fazer nosso sopão. Hoje ela está desativada e ainda roubaram nosso botijão de gás que custa R$ 200. O que me motiva são essas crianças. Elas não tem culpa de estarem aqui. Alguém precisa olhar para elas, potencializá-las. Não podem ficar na rua. Se você for levar teu filho para fazer um Karatê, judô, capoeira ou inglês, vai pagar muito caro e essas crianças dificilmente teriam acesso.
Hoje elas podem fazer, porque a ONG Amigo Esperança está ali do lado. E é muito bom saber que de alguma forma estou contribuindo para que a vida delas possa ser diferente e a acreditar que mudar é possível. Quero que elas saiam daquele fatalismo do tipo “ah eu nasci assim, eu vou continuar desse jeito”. Eles podem e já estão caminhando para vencer na vida. O que mais me motiva é ver as crianças felizes, alegres, sendo acolhidas e escutadas.
Muitas vezes em um lar, o pai e mãe não tem condições de ficar conversando, reunindo a família, interagindo com eles. A escassez deixa você ainda mais estressado. Um exemplo é quando seu filho está esperando um pacotinho de bolachas, mas você não pode comprar, se não irá faltar dinheiro para o passe de ônibus.
OBlumenauense: Quais as maiores dificuldades que a ONG enfrenta?
Simone de Lima: De uma forma geral, nossas maiores dificuldades estão na manutenção. Por exemplo, quando nós chegamos na Rua Erich Belz, tinha só um galpão. Nós construímos a casinha para representar a sede, colocamos brita, temos um espaço bem grande. A dificuldade maior está na manutenção, porque a associação de moradores acaba não ajudando nos cuidados com o local. Queremos lançar uma campanha para revitalização do espaço. Algumas pessoas do curso de Arquitetura e Urbanismo na Furb, já estiveram aqui e fizeram um projeto. Nós temos um problema muito sério de drenagem por causa do barranco onde corre a água e fica acumulada debaixo da associação e casinha. Isso acaba provocando o apodrecimento do galpão de madeira, inclusive os troncos que são os pilares.
Para resolver esse problema nós vamos ter que fazer um trabalho de drenagem, um custo alto para uma ONG que se mantém com muito pouco. Lá na Vila, temos um sério problema com o setor público. Eles não fazem instalação de água nem luz, porque aquele espaço onde foi construído é reservado pela prefeitura para associação de moradores da Vila Jensen. Como essa associação não tem condições de fazer nada, a ONG Amigo Esperança se propôs a ajudar e hoje tudo aquilo que existe, foi feito através dela. Nós não ganhamos nada de outra instituição.
A casinha que está lá, foi através de um grupo que doou cerca de R$ 7 mil para construí-la, sendo o resto da construção bancada pela ONG. Eu falo isso porque tem uma outra instituição que vai lá levar comida, roupas e calçados usados uma vez por mês, e disseram: “Que lindo isso está ficando, que bom ter alguém cuidando, isso é soma de muitos esforços, nós doamos isso, doamos aquilo'”. Aquilo me chamou a atenção e eu pensei: Opa, eu nunca recebi nenhuma doação dos senhores.
Nós também temos dificuldade para cercar o terreno, que necessita de trinta moeirões e 70 metros de tela. Outro problema é a falta de ligação de luz e água. Atualmente puxamos de uma vizinha e já fomos à vários órgão da prefeitura, mas não deu nada certo.
O nosso maior problema está sendo a burocracia. Um exemplo disso, é um alvará que o município exige e custa quase R$ 3 mil. O que nós arrecadamos aqui, é um pouquinho a mais desse valor, que serve para custear toda manutenção do local, os professores, o lanche das crianças, as coisas que nós temos que comprar e todas as outras contas. Nesse valor ainda inclui uma funcionária registrada, com FGTS, INSS, etc. Então chega a ser ridículo.
Eu tive uma reunião com o Marcelo do SEMUDES, Secretaria de Desenvolvimento Social Diretoria de Habitação. Eles disseram quem não podem liberar água e luz para nós porque o terreno se destina a associação de moradores da Vila Jensen. Como associação não tem personalidade jurídica, com CNPJ, eles não podem fazer a ligação. Agora isso não depende de mim, e sim da associação, que é formada por um grupo de pessoas que vive lá. Como cada um tem sua vida, seus afazeres e nunca tem tempo de correr atrás dessa documentação, eu me coloquei à disposição para colocar no nome da ONG. Mas eles acham que não deve ser dessa forma. Por causa disso, estamos trabalhando desde fevereiro sem água e luz próprios.
Então as maiores dificuldades se resumem às financeiras. Não temos dinheiro para fazer quase nada. O terreno na Rua Erich Belz é extenso, mas para que eu roce o mato, qualquer jardineiro cobra de R$ 250 a R$ 350. Tem mês que não temos dinheiro nem para roçar nossa grama. Muitas vezes já tive vontade de desistir, porque é bem difícil. Mas quando nós chegamos na ONG e vemos aquelas crianças felizes, fazendo atividades, se esforçando e ganhando medalhas, a palavra “desistir” fica bem longe. E nós continuamos assim, devagarzinho e sempre.
A professora Juliana Berezoschi, que trabalha na ONG Amigo Esperança de forma voluntária, disse desde muito cedo pensou em trabalhar com o coletivo. E isso incluíam crianças e adolescentes. No trabalho de grupos da ONG, ela se depara com situações que a fazem refletir sobre quem ela é e o que pode fazer para trilhar um caminho junto a eles buscando novas perspectivas.
“Na ONG realizamos diversas atividades e aprendemos de forma dialética, cada um a seu tempo, a sua maneira. Assim os laços vão se constituindo. São experiências que não vivenciamos em sala de aula, importantes para compreender situações que acontecem com crianças em vários locais do Brasil.
Acredito na união das pessoas para se viver bem. O ser humano quando nasce, não quebra sua casca de ovo sozinho. Depende de outro que está ali esperando por ele, mesmo antes do nascimento. Desde esse momento temos alguém em nossas vidas para nos alimentar, trocar as fraldas, vivenciar o que é o amor, etc.
Por isso, não trabalho com eles, troco experiências, eu os percebo e eles me percebem. São essas trocas que me constroem a cada dia, que me fazem sorrir, refletir, e mudar hábitos sobre âmbitos da vida, nessa mediação, estou certa de que eles também se transformam.” finaliza Juliana.
Se você quiser ajudar com qualquer valor, não precisa nem sair de casa, pode fazer isso on line, basta clicar aqui e doar. Eles precisam levantar R$ 70 mil até novembro, por isso é tão importante sua colaboração para que o trabalho continue. E pelo sorriso desses rostos, dá para entender porque esse esforço todo vale a pena.