Obesidade cresce no Brasil: quase um terço da população já enfrenta o problema

Relatório aponta aumento preocupante e reforça necessidade de políticas públicas eficazes.

Foto: Africa Images [via Canvas]

A obesidade tem se tornado uma realidade cada vez mais comum entre os brasileiros. Atualmente, 31% da população vive com a condição, e a projeção é de que esse número continue subindo nos próximos anos. Além disso, o excesso de peso atinge 68% da população, incluindo aqueles que estão com sobrepeso (37%).

Os dados são do Atlas Mundial da Obesidade 2024, divulgado nesta segunda-feira (3/03/25) pela Federação Mundial da Obesidade. O levantamento também destaca outro dado preocupante: metade da população adulta brasileira não pratica atividades físicas com a regularidade necessária, o que contribui para o aumento dos casos de obesidade e outras doenças associadas.

O impacto da obesidade na saúde

O excesso de peso não é apenas uma questão estética, mas um fator de risco para diversas doenças. De acordo com o relatório, mais de 60 mil mortes prematuras no Brasil podem ser ligadas a condições como diabetes tipo 2 e AVC, doenças que têm forte relação com a obesidade.

Para o endocrinologista Marcio Mancini, membro da Abeso e da SBEM, a obesidade precisa ser tratada como uma questão de saúde pública e não como um problema individual. Ele critica a ideia de que a solução está apenas na mudança de hábitos do indivíduo.

“Não adianta dizer para alguém que passa o dia inteiro trabalhando e no transporte público para comer melhor e ir à academia. A obesidade precisa ser combatida com medidas de saúde pública”, afirma.

Estratégias para conter o avanço da obesidade

Especialistas defendem que é necessário um conjunto de ações para reduzir o impacto da obesidade na sociedade. Entre as soluções sugeridas estão a taxação de bebidas açucaradas, alertas nos rótulos de alimentos ultraprocessados e políticas de incentivo ao consumo de alimentos saudáveis, como a redução de impostos sobre esses produtos.

Outro ponto levantado por Mancini é a necessidade de campanhas educativas constantes nas escolas, e não apenas ações pontuais. “Falar sobre alimentação saudável uma vez ao ano não vai mudar os hábitos de ninguém. É preciso uma abordagem contínua”, ressalta.

Além disso, o ambiente urbano também influencia no comportamento da população. A falta de segurança e infraestrutura adequada muitas vezes impede que as pessoas pratiquem exercícios físicos ao ar livre. “Se houvesse parques em todas as regiões da cidade, calçadas bem planejadas e transporte público de qualidade, muitas pessoas poderiam se movimentar mais no dia a dia”, destaca o endocrinologista.

O cenário global e o Brasil na comparação internacional

O Atlas Mundial da Obesidade alerta que a situação não é exclusiva do Brasil. No mundo todo, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade, e as projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030, caso nada seja feito.

A pesquisa também aponta que a maioria dos países não está preparada para lidar com esse desafio: apenas 7% possuem sistemas de saúde estruturados para tratar a obesidade. No total, estima-se que 1,6 milhão de mortes anuais estejam relacionadas a complicações decorrentes do excesso de peso, superando até mesmo os óbitos causados por acidentes de trânsito.

Quando comparado a outros países, o Brasil se encontra em uma posição intermediária. Enquanto nos Estados Unidos 75% da população tem excesso de peso e 44% são obesos, na China esses índices são menores, com 41% da população acima do peso e 9% com obesidade.

Mancini também aponta que, apesar da piora na alimentação dos brasileiros nos últimos anos, o consumo de ultraprocessados ainda é menor do que nos Estados Unidos, o que representa uma oportunidade para reverter o cenário.

Mobilização global para conter a obesidade

O Dia Mundial da Obesidade, celebrado nesta terça-feira (4), reforça a necessidade de ações coletivas para frear o avanço do problema. Dentro dessa iniciativa, a campanha Mudar o Mundo Pela Saúde busca envolver governos, empresas e a sociedade na criação de políticas eficazes para prevenção e tratamento da obesidade.

No Brasil, a Abeso e a SBEM lançaram o e-book Mudar o Mundo Pela Nossa Saúde, um material gratuito que propõe mudanças em políticas públicas e incentivos para um estilo de vida mais saudável.

Diante desse cenário, especialistas alertam que o combate à obesidade exige mudanças estruturais, indo além da responsabilidade individual. Melhor infraestrutura, políticas tributárias e acesso à informação são peças-chave para reverter essa tendência preocupante.

Com informações da Agência Brasil