Por *Cristiano de Assis Pereira Hansen
O historiador grego Heródoto atribuía em seus escritos do século V antes de Cristo, a longevidade do povo macrobiano (que habitava o norte de África), ao fato de se banhar regularmente em uma fonte de águas purificantes.
Conta-se que Alexandre o Grande – rei da Macedônia – procurou ao longo de sua breve vida uma fonte similar. Talvez o maior propagador desse mito nos tempos modernos tenha sido o desbravador espanhol Juan Ponce de León, primeiro governador de Porto Rico. Orientado por nativo-americanos buscou uma fonte desse tipo nas Bahamas, no século XVI, mas acabou morrendo jovem, perfurado por uma flecha indígena. Parece ter inspirado a pintura anexa do artista alemão Lucas Cranach:
Em janeiro de 2023 um artigo científico ganhou repercussão na mídia impressa e digital: trata-se do estudo de um grupo de pesquisadores americanos ligado ao National Institute of Health que demonstrou que a hidratação pode prevenir doenças ligadas ao envelhecimento, reduzir a idade biológica e aumentar a expectativa de vida.
Dentre outras doenças que foram avaliadas e que a hidratação conseguiu evitar estão: demência, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e hipertensão arterial. Segundo uma das autoras do estudo, doutora Natalia Dmitrieva, isso demonstra que a hidratação é capaz de prolongar uma vida livre de doenças.
O racional para esse estudo partiu da constatação em experimentos com ratos de que a restrição na ingesta de água era capaz de abreviar a vida dos animais em uma média de 6 meses, o que traduzido em anos de vida humanos – corresponderia a 15 anos.
Partindo desse racional, os pesquisadores procuraram avaliar se o estado de hidratação na faixa etária dos 50 anos seria um bom preditor da idade biológica (que explica por que uma pessoa de cinquenta anos, por vezes, parece ter quarenta, na verdade). O grupo de pessoas com pior hidratação teve 50% maior chance de ser considerado “mais velho” que a idade real e, desse modo, apresentou maior incidência de
doenças próprias do envelhecimento e mortalidade.
Talvez a fonte da juventude, cujo mito foi amplamente replicado em diferentes culturas primitivas, da Antiguidade e mesmo nos tempos modernos, não esteja tão distante de todos nós, podendo (o mito) ser reinterpretado de forma mais singela. Essa fonte encerra um líquido mais precioso que o petróleo, por vezes esquecido pela humanidade. Para encontrá-lo talvez baste abrir uma torneira e se hidratar. Desde que não falte água.
Médico oncologista clínico e mestrando em Saúde Coletiva na Universidade Regional de Blumenau