O legado invisível: microrganismos e o futuro da saúde pública

Como a microbiologia moldou a medicina moderna e os desafios que ainda enfrentamos. Confira a coluna de estreia no portal OBlumenauense, do farmacêutico bioquímico Marco Malschitzky.

Foto: Nicolas_ [Getty Images] via Canvas

Por Marco Antônio Ribeiro Malschitzky (@marcoantoniomalschitzky) | Farmacêutico Bioquímico

Sou Marco Antônio, casado, pai de 2 meninas, de formação acadêmica farmacêutico bioquímico e sempre trabalhei em hospitais realizando uma das especialidades da minha escolha acadêmica, sou um microbiologista. Uma especialidade que trabalha com bactérias, fungos e vírus, não muito conhecida, mas é um pilar das ações médicas contra doenças infecciosas.

Há um momento em todos os laboratórios de análises clínicas que ocorre um encontro de um ser humano e um microrganismo, deste sai um resultado de exame microbiológico.
Somos de uma especialidade muito antiga, começamos em 1675 quando Anton van Leeuwenhoek observou pela primeira vez os microrganismos. Nos anos seguintes melhoramos os microscópios, assim, outros microrganismos foram observados, mas não tínhamos uma relação direta deles como causadores de doenças infecciosas.

O caminho foi longo para chegarmos aqui, inúmeros profissionais deram suas contribuições como Ignaz Semmelweis, Louis Pasteur, Ferdinand J.Cohn, Robert Koch, Albert Neisser, Hans Christian Gram, Julius Richard Petri ,Paul Ehrlich, Alexander Fleming, Gerhardt Domagk, Howard Florey, Ernest Chain entre outros não menos importantes.
Os microrganismos existem e existem em nós, fazem parte da nossa microbiota (microrganismos que habitam nosso organismo), existe uma tênue relação harmoniosa que pode ser facilmente alterada por fatores externo ou internos, e quando isso acontece podemos ter uma infecção.

Mas teve um marco que transformou a medicina e a saúde pública, em 1929 a descoberta acidental da Penicilina e em 1940 a penicilina entra no mercado e começamos a viver era dos antibióticos.

Com o sucesso dos avanços da medicina moderna e a melhoria das condições de vida (saneamento, antibióticos…) na década de 50, alguns cientistas previam que as doenças infecciosas poderiam ser vencidas. Mais uma vez subestimamos os outros seres vivos, como só nós seres humanos tivéssemos a capacidade de se adaptar, parece que esquecemos dos ensinamentos básicos de Charles Darwin e não levamos em consideração o discurso de Alexander Fleming quando recebeu o prêmio Nobel de medicina em 1945.

Hoje temos um grande problema de saúde pública, que pode nos levar a uma era sem antibióticos, é uma preocupação global a resistência bacterina aos antimicrobianos. O impacto do uso inadequado dos antimicrobianos no meio ambiente, na saúde animal e na saúde humana poderá nos levar ¨de volta ao futuro¨, antes de 1929

Não existe enfrentamento à resistência bacteriana, às pandemias nem epidemiologia se não tivermos bons microbiologistas

A caminhada continua e depende de nós o legado que deixaremos para as futuras gerações. Mas isso é uma conversa para outro momento.