Por Marcelo Greuel, Secretário de Turismo e Lazer de Blumenau
Neste dia 2 de fevereiro teremos a retomada da Sommerfest Blumenau, que após eventos extremamente bem-sucedidos da Páscoa em Blumenau, Febratex, Natal em Blumenau, Réveillon e do sucesso estrondoso da 37ª Oktoberfest Blumenau, será o último evento retomado no período pós-pandemia, fechando o ciclo de volta do turismo de eventos na cidade de Blumenau, que retorna assim ao foco que fez dela a “cidade dos grandes eventos”.
Importante rememorar um pouco da história da Sommerfest. Na década de 1980, já na esteira dos primeiros anos de sucesso da Oktoberfest, festivais de verão foram promovidos buscando trazer o veranista de férias em Santa Catarina. O marco, de fato, da atual Sommerfest, foi o começo da década de 1990, quando o então diretor-presidente da PROEB, Manfredo Bubeck, recriou o festival de verão com o nome que até hoje permanece, Sommerfest. O evento foi promovido por poucas edições e depois interrompido, sendo novamente feito após interregno de 15 anos, em 2007. Desde então, o evento ocorreu de forma ininterrupta até os cancelamentos de 2021 e 2022, por causa da pandemia da Covid-19.
Quando o Parque Vila Germânica toma decisões conceituais de eventos municipais, como foi o caso do novo formato proposto para a Sommerfest, pode parecer ao observador externo que o processo decisório é monocrático, baseado em empirismo e bel-prazer do gestor de momento. Não é. Identificamos abaixo, para tal, as premissas que balizaram a decisão de mudança no formato do evento.
O objetivo de trazer turistas em veraneio em Santa Catarina para Blumenau, por meio da realização da Sommerfest, não foi atingido
As pesquisas feitas durante a Sommerfest, e especificamente, com a utilização de ferramenta de B.I (business intelligence) para análise das informações do Oktober Karte, demonstrou que, na edição de 2020, entre os visitantes da festa, 74% foram da cidade de Blumenau; 18% de cidades limítrofes de Blumenau; e apenas 8% de visitantes de outros locais, incluindo outras regiões de Santa Catarina e estados brasileiros.
Dessa forma, a premissa de alcançar o turista e potencializar visitantes na cidade mostra-se limitada, corroborando essa hipótese com a baixa variação de ocupação da rede hoteleira nesse período. O fato: o formato tradicional da Sommerfest não estava atraindo turistas em quantidade suficiente para trazer impacto econômico para Blumenau. E frisa-se: impacto econômico não é superávit, e sim geração de emprego e renda e aquecimento do comércio local.
Público da Sommerfest
Além de identificar que 74% dos visitantes são moradores de Blumenau, importante mencionar que entre 2015 e 2020, últimas seis edições da Sommerfest, o público médio diário prestigiou o evento foi de 3.650 visitantes, ante a estrutura operacional instalada para receber até 11.500 visitantes, ou seja, uma ociosidade média de 68,26%. Isso mostra que, mesmo com toda a divulgação feita, o evento sempre esteve aquém do potencial de recepção de visitantes, curva inversamente proporcional à Oktoberfest.
Uma curiosidade: uma das grandes marcas culturais dos festivais alemães locais, o percentual de visitantes com traje típico (que tem direito a meia-entrada, inclusive) e que alcança percentual próximo de 30% durante as edições da Oktoberfest, alcançou em média 12% nas edições da Sommerfest dos últimos anos, trazendo a percepção clara de menor aderência de características culturais germânicas nas edições da Sommerfest.
Sommerfest e Festa Pomerana, quando promovidas concomitantemente, poderiam dividir visitantes do mesmo público-alvo
A necessidade de ampliação do Natal em Blumenau fez com que a data da Sommerfest fosse alterada para o começo de fevereiro, uma necessidade (pela grandiosidade que se busca com o Natal em Blumenau), mas que também denota o compromisso da Prefeitura de Blumenau em fortalecer os grandes eventos da Associação de Municípios do Vale Europeu (AMVE), em especial Pomerode, parceira estratégica no desenvolvimento do turismo do Vale Europeu.
A Sommerfest busca proporcionar ao visitante uma “degustação” da Oktoberfest
Por décadas, a divulgação da Sommerfest foi alicerçada no mote “mini-Oktoberfest” ou “Oktoberfest de verão”. Essa associação não parece a mais adequada, por dois motivos. Primeiramente, ao deixar a Sommerfest à sombra da Oktoberfest, o evento nunca teve efetivamente identidade, e tampouco foi objeto de desejo de visitantes, seja para blumenauenses, seja para turistas. O público percebeu essa situação, identificando certamente o evento como bom e agradável, mas nunca como imperdível, diminuindo seu buzz e repercussão.
Ademais, ao caracterizar a Sommerfest, obviamente mais enxuta em termos de atratividade, com bandas nacionais em menor quantidade, menos itens de gastronomia, sem parque de diversões, atrações internacionais e desfile de rua, poderia trazer ao visitante uma errônea impressão sobre a Oktoberfest, já que a Sommerfest não mostra o gigantismo e importância cultural/ econômica da Oktoberfest Blumenau.
A Oktoberfest Blumenau, é sempre necessário registrar, é a nossa mais importante manifestação cultural, e seu legado é insubstituível e único; e essa unicidade e exclusividade deve ser preservada. Nossos visitantes precisam sentir saudades e esperar ansiosamente por ela; a ansiedade do visitante floresce na preservação da identidade cultural germânica do passado e presente, e que faz desse evento algo tão especial e espetacular, que não pode, em hipótese nenhuma, ser diminuído por outro evento.
A preservação da cultura alemã não vem apenas com os eventos
É importante também reconhecer os esforços da Prefeitura Municipal de Blumenau em preservar a cultura alemã em nossa cidade, além da realização de eventos, em áreas como patrimônio arquitetônico, com as obras de restauração do Casarão Michelmann (atualmente Centro de Atendimento ao Turista, em frente ao SESI), bem como a reconstrução do Salão Kunze, na Vila Itoupava, duas das principais construções no estilo de construção enxaimel da região; na revitalização do Museu de Ecologia Fritz Müller e manutenção da memória do naturalista alemão Fritz Müller, firmando relação de cidade irmã com Hasselfelde, onde Müller nasceu; na repaginação do Museu dos Clubes de Caça e Tiro, em local nobre para o turismo da cidade, bem como a cessão de área para sede da Associação da Associação dos Clubes de Caça e Tiro e Associação dos Grupos Folclóricos; na adoção da Educação Bilíngue em Alemão a partir de 2019, que registrou ampliação chegando a quatro instituições e 21 turmas que ofertam o ensino do alemão na Rede Pública Municipal de Ensino de Blumenau.
Em suma, ocorreram inúmeros avanços desde a implantação da organização de ensino da Educação Bilíngue, seja na aprendizagem da Língua Alemã pelos estudantes, na contratação de professores, assim como na infraestrutura das Instituições de Ensino. Importante também mencionar, rapidamente voltando a Oktoberfest, que as atrações musicais contemporâneas trazidas nas últimas edições, podendo-se destacar o VOXXCLUB e Tim Toupet, com suas músicas conhecidas em todo o mundo, ajudam na celebração e manutenção do idioma alemã, trazendo interesse dos jovens e seu conteúdo, pronúncia e significado; e a aproximação histórica da Prefeitura de Blumenau com a Oktoberfest de Munique, com a primeira visita do mandatário da cidade em décadas com foco em estabelecer laços de integração cultural e operacional entre as mais conhecidas Oktoberfests do mundo.
Diante disso tudo que foi dito, temos certeza que esse novo momento do festival de verão de Blumenau, fazendo dele um grande e variado festival de atrações artísticas e musicais, tem potencial de firmar-se como importante evento no diversificado calendário de turismo de Blumenau, criando-se, de fato, um evento com potencial de agregar resultados para a economia local, e preservando intacta e imaculada, a tradição germânica da nossa principal manifestação cultural, a Oktoberfest, que faz Blumenau tão conhecida em todo país.