Nove em cada dez estudantes de educação profissional em SC terão emprego, garante diretor do Senai

Por Jalila Arabi

Com um PIB industrial de mais de R$ 60 bilhões em 2015, Santa Catarina continua forte no setor mesmo com o atual cenário econômico. Até então, a indústria local já tinha empregado 734,6 mil trabalhadores e tinha como maiores setores o de construção, de alimentos e de serviços de utilidade pública. Mas ainda faltam profissionais técnicos que preencham essas necessidades, como aponta um estudo feito pela multinacional de recrutamento ManpowerGroup. Segundo o levantamento, o Brasil é o 4º país com maior dificuldade para preencher vagas de nível técnico nesse âmbito, ficando atrás apenas do Japão, Peru e Hong Kong.

Profissionais técnicos podem, inclusive, ganhar mais do que trabalhadores com nível superior. O salário de um técnico em Mineração pode ultrapassar os R$ 10 mil, enquanto o de um psicólogo chega, em média, à metade disso. O diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do estado, Jeferson Gomes, garante que o aluno do curso técnico já sai com chances altas de emprego. “A gente pode dizer com bastante tranquilidade que a cada dez alunos que estudam conosco, e nós temos aproximadamente 120 mil matrículas por ano, nove se empregam.”

 

 

Setor de vestuários precisa qualificar 500 mil técnicos até 2020, segundo pesquisa. E a indústria vai precisar desses profissionais. Até 2020, o País terá que qualificar 13 milhões de técnicos, segundo o último Mapa do Trabalho Industrial. Áreas como alimentos, energia e vestuário e calçados estão entre as que mais demandam qualificação nesse segmento. Jéssica Forlin, de 27 anos, já está se preparando para isso. Ela concluiu no meio do ano passado o curso técnico em Modelagem de Vestuário na unidade de Blumenau. “Eu até pensei na faculdade, mas o curso técnico é melhor agora porque ele já prepara a pessoa direto para o mercado de trabalho.” Para o setor de vestuários, a demanda até 2020 é de quase 500 mil vagas.

 

 

Antes de começar o curso, a jovem trabalhava na área têxtil, o que serviu de inspiração para seguir nesse caminho. Atualmente, Jéssica está focada em avançar nos estudos: pretende fazer mais cursos de especialização e, futuramente, uma faculdade nesse ramo. “Tive muitas oportunidades, muitas propostas de emprego. Mas, por enquanto, quero continuar estudando, buscando mais conhecimento na área. Depois, pretendo trabalhar como modelista e, quem sabe, abrir meu próprio negócio”, afirma.

Requalificação

No município de São Miguel do Oeste, distante 655 km da capital catarinense, está a indústria familiar Diêlo Alimentos. Há 30 anos, Lúcia Mocelin, de 55, decidiu que era hora de deixar para trás o restaurante da família para abrir uma pequena fábrica de sorvetes. Vendendo o produto para os três estados do Sul, Lucia percebeu que era hora de buscar mais conhecimento. “A empresa estava crescendo e tinha a necessidade também de um responsável técnico”, lembra Lúcia, que não tinha essa qualificação.

Em 2009, a empresária decidiu que era hora de crescer junto com seu negócio. Foi aí que ela fez o curso técnico de Alimentos, emendando, em seguida, com um de tecnólogo de Laticínios. “Eu mesma quis tomar as rédeas da minha empresa para saber como orientar meus funcionários. Isso caiu como uma luva para mim, porque eu gosto muito de estudar. Ainda fiz duas pós-graduações depois disso. Para mim, foi tudo”, comemora. Indústria de alimentos é o setor mais importante no estado

Lúcia comenta que não se intimidou em voltar às salas de aula depois de mais velha. “Estou orgulhosa do que fui capaz de fazer mesmo depois de certa idade. Sempre fui a ‘vovó’ das aulas. Além de aprender, eu também ensinava umas coisas para os meus colegas. Eu me sinto muito feliz por isso”, diz. Para o diretor Jeferson Gomes, a requalificação do profissional deve receber a devida atenção. “A pessoa mais adulta tem perdido, ao longo do tempo, a sua capacidade competitiva porque o conhecimento vai passando. Então, a requalificação de pessoas é tão importante quanto a formação de pessoas.”

Conecte

Santa Catarina já está envolvida no processo de inovação do ensino médio. Depois do anúncio de uma reforma na modalidade pelo Governo Federal, Jeferson Gomes conta que o estado resolveu dar um passo a mais. Atualmente, quatro escolas públicas já adotaram o ensino médio integrado à educação profissional. No modelo tradicional, o aluno cursa o ensino regular em um período e no outro, o curso técnico. Com a nova abordagem, batizada de Conecte, o aluno cursa matérias interdisciplinares pela manhã e participa de “clubes”, como dança, arte, música e, claro, faz um curso técnico no período da tarde.

“Fizemos pesquisas junto com instituições conhecidas e percebemos que o modelo tradicional funciona, mas que acaba ficando um pouco enfadonho para o jovem. Então pensamos: vamos fazer outra abordagem, mas mantendo a tradicional”, explica. A expectativa, segundo o diretor, é de que cinco mil alunos estejam matriculados nesse sistema até o ano que vem no Senai – e isso sem contar as outras escolas.

“Dentro desse processo, o aluno, no mesmo período, se forma em um curso de nível médio e também se forma num curso técnico, porque a gente contempla todas as atividades sem o aluno perceber”, conclui Jeferson.