Morre o publicitário, chargista e escritor Cao Hering, aos 77 anos

Figura icônica em Blumenau, ele assinou uma coluna no jornal durante décadas.

Cao Hering

Faleceu nesta sexta-feira (21/03/25), aos 77 anos, Cao (Carlos) Hering, renomado publicitário, chargista e escritor de Blumenau. Ele enfrentava problemas pulmonares e não resistiu às complicações da doença. Cao era casado com a psicóloga Maria Júlia Zimmermann Hering, pai de Carlos Hering Filho (fruto do primeiro casamento) e padrasto de Frederico Zimmermann Cigognini.

Formado em Comunicação, Cao Hering iniciou sua carreira como publicitário, destacando-se pela criatividade e inovação. Foi proprietário da empresa de propaganda Direcional, onde conquistou 25 prêmios por suas criações. Paralelamente, atuou como chargista e colunista no Jornal de Santa Catarina por mais de três décadas, sendo conhecido por suas charges diárias que refletiam, com humor e perspicácia, o cotidiano e a política local. ​

Além de sua atuação na imprensa escrita, Cao também se aventurou na literatura, lançando um livro de crônicas sobre Blumenau, no qual compartilhava histórias e reflexões sobre a cidade e seus habitantes. Sua versatilidade artística o levou a realizar exposições de cartuns e obras plásticas, como a mostra “CaoArt” em 2013, onde apresentou cerca de 30 telas que reinterpretavam, de forma bem-humorada, obras de artistas consagrados. ​

Uma das mentes mais criativas do país, o publicitário, chargista e cronista Carlos (Cao) Hering morreu nesta sexta-feira (21), aos 77 anos. Ele estava internado no Hospital Santa Catarina para tratar de um problema pulmonar, contra o qual lutava há alguns anos.

A Prefeitura de Blumenau informou que decretou três dias de Luto Oficial, em homenagem ao legado do artista. “É uma grande perda para a nossa cidade. Sempre acompanhei o trabalho Cao e gostava da forma como ele retratava o dia a dia da nossa cidade. Ficam aqui os meus sentimentos aos familiares e amigos”, disse o prefeito Egidio Ferrari.

Jornalismo na veia

Tataraneto de Friedrich Hermann Hering, um dos fundadores da empresa Hering, referência na área têxtil, Carlos Hering formou-se em Publicidade e Propaganda na Faculdade dos Meios de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul/Famecos. Além da publicidade, Cao sempre atuou no jornalismo com charges marcadas por traços simples e muito humor e com crônicas sobre o cotidiano.

Ainda como universitário, iniciou a trajetória na mídia através do jornal A Cidade (Blumenau) trabalhando como ilustrador e chargista. Foi ali, como estagiário, que criou o primeiro personagem, Nix, um ingênuo e mal desenhado soldado americano da guerra do Vietnã.

Estagiou, então, por dois anos na agência Standard, Ogilvy & Mather, em Porto Alegre (RS). Na capital gaúcha, aprofundou-se na estrutura e influência social dos “comics” ao ser convidado a participar do curso A História da História em Quadrinhos.

Nos anos 1970 e 1980, durante o Regime Militar, foi convidado pelo ator e jornalista gaúcho Fausto Wolf a publicar uma série de cartuns no irreverente e combativo semanário O Pasquim.

Prêmios internacionais

Cao teve participação societária nas agências Scriba Propaganda (Blumenau) e P.A.Z. Santa Catarina (matriz Curitiba-PR). Em 1983, fundou a Direcional Propaganda e firmou acordo operacional por 10 anos com a DPZ Propaganda, de São Paulo. Recebeu 25 prêmios em criação publicitária, incluindo um Prêmio Colunistas nacional.

Como cartunista, recebeu dois prêmios internacionais e um nacional nos salões de humor de Piracicaba, Berlim e Curitiba. Foi presidente em duas gestões do Grupo de Profissionais de Comunicação e Marketing de Blumenau

Por quase 40 anos, atuou como ilustrador, chargista e colunista do Jornal de Santa Catarina, do Grupo RBS. Foi nele que recebeu o convite para escrever crônicas semanais que marcaram o jornalismo local. Também escreveu ocasionalmente para várias revistas, com destaque para a bimestral Taba Magazine, do Tabajara Tênis Clube. Em 1994, reuniu uma retrospectiva de charges e ilustrações no livro Hai-Caos.

Ninguém é uma ilha

Cao Hering também colaborou com várias frases para a série dos Phrase Books, do amigo Roberto Duailibi, um dos publicitários mais respeitados do país, e assinou um roteiro para os Plim-Plins, série de cartuns animados inseridos nos intervalos de filmes da Rede Globo.

Em parceria com o astrofísico e professor Adolfo Stotz Neto, em 2022 lançou o livro Cronicidade, uma coletânea de crônicas sobre as vivências de ambos em Blumenau nos anos 50 e 60. Como artista, expôs obras em vernissages, incluindo a Galeria Açu-Açu do poeta Lindolf Bell, o estúdio da artista plástica Fraya Gross e a exposição individual CaoArt, no Shopping Neumarkt.

A criatividade como publicitário o levou a participar da 20ª edição do Manhattan Connection, na Globo News, em Nova York. Foi ele o autor da frase vencedora alusiva aos 20 anos do programa: “Manhattan Connection: porque ninguém é uma ilha”.

Ainda em TV, marcou presença nos programas Bate-Papo, inicialmente apresentado na TV Galega pelo jornalista Valther Ostermann e mais recentemente pelo saudoso amigo Carlos Alberto Soares; e Mesa de Bar, do jornalista Altair Carlos Pimpão, abordando temas do cotidiano.

Também teve um quadro no programa Galera Mix (TV Galega/TV Furb), de Gustavo Siqueira, entrevistando pessoas inusitadas, e participou de vários podcasts nos quais apresentou a trajetória na publicidade e jornalismo. Além disso, recentemente contribuiu com comentários sobre política e atualidade em um programa semanal na Rádio 90 FM.

Presente aos amigos

O último trabalho impresso de Cao foi o livro de crônicas Meus Tipos Inesquecíveis, onde apresenta com o brilhantismo que lhe é peculiar histórias curiosas de uma galeria de personagens marcantes. Ao se dar conta de que não teria energia para uma noite de autógrafos, presenteou os amigos com um exemplar da obra – repleta de depoimentos de parceiros e admiradores. “Ele fez cada dedicatória com singularidade e carinho”, conta a esposa, Maria Júlia.

Com informações de Jô Laps