Por Claus Jensen, com fotos da CBJJE (Divulgação)
Blumenau tem um pequeno campeão mundial de Jiu-Jitsu da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CCJJE), que acontece todo ano em São Paulo (SP). Na Califórnia existe outro campeonato mundial, mas é organizado pela CCJJ.
No início de julho, Wesley Leonardo Niels virou campeão mundial de Jiu-Jitsu na categoria Infantil B Laranja Leve. Carinhosamente chamado de Mimo,esse menino de 11 anos tem uma família envolvida com a luta, que significa treino, regras e competições. Sua mãe Helen Niels por exemplo, acompanhou o filho na competição mundial em São Paulo e também subiu ao pódio na categoria Master Roxo, ficando na segunda colocação.
Conversamos com os dois sobre a conquista e sua vida de atleta. Eles foram recebidos nas instalações de OBlumenauense, no bairro Itoupava Seca.
OBlumenauense: Como foi a luta que lhe deu o título de campeão, bem tranquila?
Mimo: Sim, esse ano foi mais tranquilo do que em 2015, quando perdi na final e fiquei vice na categoria Infantil B Laranja Leve. Treinei cerca de 5 meses para esse campeonato. O vice de 2016, era de Joinville, forte, mas talvez não tinha tanta técnica. A terceira colocação ficou com um lutador do Rio Grande do Norte.
Helen Niels: Em nível mundial ele se saiu muito bem este ano. Competiu o brasileiro da CBJJ em São Paulo no mês de abril, e ficou como vice, mas perdeu por bem pouco.
OBlumenauense: A competição em São Paulo foi em nível mundial e faz parte de uma etapa, ou vale para o ano todo?
Helen Niels: Existem duas confederações de Jiu-Jitsu; a CBJJ [Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu] e CBJJE [Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo]. O mundial que participamos foi realizado no Brasil pela CBJJE, que ocorre todo ano em São Paulo numa só etapa.
Já a CBJJ tem sede na Califórnia, onde pretendemos levar o Mimo para competir no ano que vem. Só temos que resolver a questão financeira. Para arrecadar recursos e participar do campeonato no Brasil, organizamos rifas e pasteladas, porque tudo é caro, desde a inscrição, viagem e hotel. Mas para competir aqui no Brasil, ainda é mais fácil. Este ano foi a terceira competição que ele participou. Em 2015, Mimo foi vice e este ano campeão.
OBlumenauese: Com que idade você começou a treinar Mimo?
Mimo: Quando minha mãe começou a treinar, eu ia junto e ficava assistindo. Gostei e por volta dos 4 a 5 anos, comecei a treinar também.
OBlumenauense: Todos vocês estão envolvidos no esporte Helen?
Helen Niels: Nossa família toda luta. O pai do Mimo e nosso outro filho, Vinícios de 5 anos, também já luta e adora. No caso do Mimo, ele já começou com 3 aninhos quando entrou no judô e depois quis fazer o Jiu-Jitsu. As pessoas até comentam que ele só treina, porque nossa família sempre está treinando. Explico que não é bem assim. É o Mimo que na verdade nos “leva”, já que sempre estamos acompanhando-o. Além de não faltar, ele cobra de si os treinos. Se fosse por ele, treinaria direto. Nós é que temos que “segurar” um pouco.
O Vinícius treina desde os 3 anos e participa dos campeonatos pequenos, mas o que ele quer são os grandes. Quando fomos no campeonato “Desafio Gladiador”, ele ficou chateado porque só o Mimo podia competir. Ano que vem pretendemos levá-lo junto no mundial do Brasil.
OBlumenauense: Você não só acompanhou o Mimo, como subiu ao pódio, correto?
Helen Niels: Eu também lutei lá em São Paulo e fiquei vice campeã na categoria Master Roxo. Acima de 30 anos é faixa roxa. Mesmo sendo um campeonato mundial, é raro ter alguém da minha categoria. Competiram seis mulheres e eu perdi a final para uma argentina. Foi por pouco, mesmo assim fiquei bem satisfeita.
OBlumenauense: O pai do Mimo também luta?
Helen Niels: Sim, ele luta e participou pela primeira vez desse campeonato. Na categoria dele, a faixa roxa, tinham 10 atletas. Ele ganhou a primeira luta, mas perdeu a segunda. Foi meu segundo ano, na primeira vez fiquei em terceiro, nesse ano em vice e se continuar assim, ano que vem serei campeã.
OBlumenauense: O Brasil está bem no esporte Jiu-Jitsu? Hoje é o país que mais se destaca?
Helen Niels: Não, em primeiro estão os Estados Unidos e o Abu Dhabi. No Brasil, podemos destacar o judô como um esporte de luta mais reconhecido, inclusive por ser um esporte olímpico. Até a ajuda de custo que o judô recebe no Brasil é bem maior que o Jiu-Jitsu. Temos que correr atras de tudo. Por exemplo, neste campeonato mundial do Brasil, foram oferecidos R$ 1 mil por atleta, que deveria pagar as despesas dos três dias. O valor deveria incluir locomoção, alimentação, inscrição, etc. Já no campeonato da Califórnia, o Kids, este valor sobe para R$ 7 mil. Como é o objetivo dele também, não adianta ele parar por aqui [Brasil].
OBlumenauense: Com a conquista do vice campeonato na sua categoria, já dá para sentir algum reconhecimento, através de patrocínios?
Helen Niels: Sim, melhorou. O Mimo, por exemplo, tem bastante apoio. Na verdade são nossos amigos pessoais, que tem empresas e nos ajudam com R$ 100 ou outros valores quando o Mimo participa de campeonatos. Desta forma estamos conseguindo, mas como disse, são amigos. Temos também parcerias, tipo a Ortodontic, que cuida de de seus dentes e não cobra nada. Só que são parcerias. Não temos ainda aquela empresa que investe com patrocínio. Eu por exemplo, a única forma de patrocínio que tenho é a Nossa Forma, que fornece suplementos [alimentares]. De resto, dou aulas, treino, participo de competições, e ainda cuido de meu Pet Shop que é de onde vem o ganha pão.
OBlumenauense: Quantas horas o Mimo treina por dia e como lidam com a questão dos estudos?
Helen Niels: O Mimo treina todos os dias, inclusive participa de treinos aos sábados.Mas para ter uma ideia, durante esse ano ele teve poucos sábados sem participar competições. Em 2016, o Mimo ainda fará a Comunhão, um compromisso com a igreja que deve ser conciliado.
OBlumenauense: Mimo, o que você acha de mais importante nestas competições?
Mimo: Achei legal poder participar de um campeonato grande e conseguir vencer.
OBlumenauense: E, como criança, você acha que está “perdendo” alguma coisa?
Mimo: Para mim não acho que estou perdendo pois é um prazer fazer isso que faço.
Helen Niels: O Mimo, faz o que qualquer criança gosta como jogar bola, andar de bicicleta e skate, ou jogar videogame. Mas o grande “vício” dele mesmo é estar no tatame. Inclusive, vai super bem na escola e ajuda a cuidar do irmão mais novo. É um menino muito responsável.
OBlumenauense: Quantas competições aconteceram neste ano?
Mimo: Participei do Desafio Gladiador em Joinville que são lutas casadas.
Helen Niels: O adversário do Mimo era bem forte e foi uma luta bem difícil, mas ele conseguiu se sair muito bem. Até julho foram cerca de 15 competições, seis delas seguidas em abril. Foi bem puxado mas ele teve ótimas colocações.
Em outubro deve ir à Bahia participar de um campeonato brasileiro, mas de judô. Apesar dele só ter 11 anos, já tem títulos importantes. Só que não é hora de cobrarmos muito dele, por isso sempre falamos que se perder, não tem problema, faz parte. Ele já tem essa noção, que é justamente para não se cobrar tanto. Tudo tem o seu tempo. O judô é bem puxado a nível de competição.
Outra questão é uma pequena lesão que ele tem no joelho. Eu mesmo, lutei o mundial com 4 hérnias de disco. Estava em tratamento e fiquei 3 meses sem treinar. Mas, todo esporte tem esses contratempos.